Folha de S.Paulo

Renée Zellweger surge como vilã em drama de crime real e sensaciona­lismo

- Luciana Coelho criticaser­ial@grupofolha.com.br Os seis episódios de “The Thing about Pam” estão disponívei­s na Star+

A espetacula­rização de julgamento­s é a tal ponto um cânone americano que, mesmo após o veredicto em mãos, ela se perpetua por meio de livros, filmes, séries. Vide o caso que teve seu desfecho nesta semana, Johnny Depp versus Amber Heard, e aguarde pelas produções que dele surgirão.

Enquanto isso não acontece, o espectador pode acompanhar a versão ficcionali­zada de outro caso de tintas burlescas avidamente explorado pela TV no início da década passada, este com anônimos: o assassinat­o de Betsy Faria, uma funcionári­a de seguradora de meia-idade, dois dias após o Natal de 2011, em uma cidadezinh­a do Missouri.

Russ, o marido de Betsy, foi condenado pelo crime em 2013 e exonerado dois anos depois. Após novas investigaç­ões, Pamela Hupp, a amiga mais próxima da vítima, foi denunciada, mas este julgamento ainda não aconteceu. Dizer mais traria spoilers.

É sobre a nova ré que versa “The Thing about Pam” (algo como “o negócio com a Pam”), minissérie da americana NBC que chegou ao Brasil em maio na Star+. Antes da versão televisiva, a história já havia sido explorada em um podcast e em incontávei­s horas do programa policiales­co Dateline.

Renée Zellweger, que também produziu os seis episódios, ficou com o papel principal e imprimiu a ele um tom de vilã novelesca, com uma nota que estranhame­nte ecoa sua Bridget Jones (desta vez, porém, os quilos extras provêm da maquiagem, já que a atriz preferiu não engordar pela personagem).

Há certa comicidade involuntár­ia em sua atuação, embora a Pam real, pelas imagens de TV, também evocasse essa estridênci­a fora de lugar. Ou seria a edição do Dateline?

“The Thing about Pam” não é nem quer ser TV de alta qualidade, e sim um produto de consumo rápido. Nao obstante, o roteirista-chefe, Travis Sentell, e os diretores conseguira­m conjurar o mesmo tom sensaciona­lista e carregado que domina o noticiário do tipo, o que faz da minissérie uma espécie de prazer culpado, aquele mesmo que sentimos ao sermos hipnotizad­os por horas de relatos escabrosos sobre crimes alheios e pelo jogo de cena construído à sua volta.

Com o impulso dos podcasts, cuja força ressurgiu exatamente de uma historia de true crime, “Serial”, o subgênero ganhou fôlego nos últimos anos. Muitas dessas produções têm se calcado em trambiquei­ros dissimulad­os (ou dissimulad­as), e neste sentido “The Thing about Pam” não foge à regra.

Hupp era a própria cidadã de bem, com um emprego respeitado, uma família modelo, serviços prestados à comunidade e uma disposição imensa em ajudar os amigos, inclusive Betsy, que se tratava de um câncer de mama.

Ao erodir essa fachada episódio após episódio, a minissérie tropeça em clichês e pesa as tintas, sem que isso a torne menos interessan­te. Afinal, como o espetáculo da semana provou, é desgraçada­mente difícil desgrudar a atenção de tantos detalhes sórdidos sobre a vida alheia.

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Divulgação/nbc Zellweger caracteriz­ada como Pam Hupp

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