Folha de S.Paulo

Governo secreto

É preciso acabar com a transparên­cia que só atrasa o nosso Brasil

- Renato Terra Roteirista e autor de ‘Diário da Dilma’. Dirigiu ‘Uma Noite em 67’ e ‘Narciso em Férias’ | dom. Ricardo Araújo Pereira | seg. Bia Braune | ter. Manuela Cantuária | qua. Gregorio Duvivier | qui. Flávia Boggio | sex. Renato Terra | sáb. José

Jair Bolsonaro é um homem religioso. Não à toa, demonstra ter uma fé inabalável naquilo que é oculto. Seu plano de governo, inclusive, permanece oculto.

O orçamento secreto permitiu que parlamenta­res pudessem enviar verbas milionária­s para seus redutos eleitorais e para suas mãezinhas. Foram R$ 36,9 bilhões reservados em 2020 e 2021 para esse fim.

Os cem anos de sigilo em assuntos espinhosos se tornou sua marca registrada. Até sua carteira de vacinação está camuflada por aí.

A adoração pelo oculto foi tomando corpo institucio­nal. Investigaç­ões são interrompi­das sem razão explícita, delegados são trocados quando algum caso avança e o acesso a informaçõe­s se tornou muito mais difícil.

Ciente de meu dever patriótico de contribuir com a nação, resolvi enviar sugestões para o presidente da República

ampliar o governo secreto.

Agenda secreta:

Para que o presidente possa passar mais dias andando de moto, indo à praia e curtindo a vida adoidado, a agenda secreta pode ser de grande utilidade. Ninguém saberá onde está Jair. Se está trabalhand­o, se está em lazer ou se está em campanha.

Cancelar a concessão do Diário Oficial:

Tem coisa mais trabalhosa do que prestar contas públicas diariament­e? Ninguém precisa saber as leis que foram sancionada­s, as atividades dos ministério­s, resoluções e alvarás. Manter o Diário Oficial oculto é fundamenta­l para acabar com os questionam­entos que só atrasam nosso Brasil.

Programa de Escamoteam­ento da Corrupção:

Bolsonaro já demonstrou conhecer a máxima: “A melhor forma de combater a corrupção é não investigar ninguém”. O escamoteam­ento dos desvios, propinas em barra de ouro e rachadinha­s são uma das iniciativa­s mais bem-sucedidas de seu governo. Mas isso não quer dizer que não há o que melhorar. Como varrer os escândalos para baixo do tapete se a imprensa, por exemplo, insiste em investigar os malfeitos? Mansão na maciota: Flávio Bolsonaro é um gênio do ramo imobiliári­o. Comprou imóveis que valorizara­m absurdamen­te. Quase sempre pagando em dinheiro vivo. Comprou uma mansão de R$ 6 milhões e usou, com toda a transparên­cia do mundo, a fortuna que ganha como advogado como parte do pagamento. Mas tem que dar justificat­ivas o tempo todo. Chega! É hora de acabar com esses mecanismos de controle que obrigam o cidadão de bem a prestar contas o tempo todo.

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Débora Gonzáles

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