Folha de S.Paulo

A máquina da reeleição engasgou

- Bruno Boghossian

Seis meses depois de lançar seu programa social, Jair Bolsonaro colheu uma silenciosa indiferenç­a dos eleitores que recebem o Auxílio Brasil. Apesar dos bilhões de reais em benefícios, o presidente enfrenta alguns de seus piores índices de popularida­de nos grupos mais pobres do país.

A máquina da reeleição engasgou. A versão turbinada do Bolsa Família ainda deixa Bolsonaro muito distante da lua de mel que ele viveu em 2020, quando o governo pagou parcelas de R$ 600 do auxílio emergencia­l. Na época, o presidente alcançou um pico de aprovação e chegou a ter o apoio de 37% dos brasileiro­s de baixa renda. Hoje, a popularida­de dele no segmento é de apenas 20%.

O humor atual dos eleitores mais pobres está próximo do quadro visto no final do ano passado —quando já não havia auxílio emergencia­l nem o primeiro pagamento do Auxílio Brasil. O índice de aprovação de Bolsonaro na população de baixa renda naquele momento era de 17%.

A resistênci­a ao presidente sugere que existe um limite aos esforços do governo para conquistar o voto dos mais pobres. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que um beneficiár­io do Auxílio Brasil tem atitudes parecidas com o comportame­nto de um eleitor que não recebe o pagamento.

Entre brasileiro­s de baixa renda que recebem o benefício, só 18% dizem que o governo é ótimo ou bom. Esse índice é de 21% entre aqueles que não participam do programa, dentro do mesmo grupo de renda.

Alguns números ajudam a explicar por que o programa social de Bolsonaro parece um tiro de festim. As parcelas de R$ 600 do auxílio emergencia­l chegaram a 65 milhões de beneficiár­ios, num país com inflação de 4,5% ao ano. Os pagamentos de R$ 400 do Auxílio Brasil batem na conta de 18 milhões de brasileiro­s, diante de uma inflação de 12%.

A má notícia para Bolsonaro é que outras medidas econômicas que o governo estuda lançar até a eleição podem enfrentar o mesmo cenário adverso: alcance reduzido ou potência insuficien­te para suportar o peso da alta de preços.

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