Folha de S.Paulo

Brasil e os combustíve­is sustentáve­is da aviação

País pode liderar expansão da produção no mundo

- Vice-presidente para América Latina e Caribe e de Política Global e diretor-geral da Boeing Brasil Vice-presidente de Sustentabi­lidade Ambiental da Boeing Landon Loomis e Sheila Remes

Há mais de meio século as pessoas refletem sobre como deixar o mundo mais sustentáve­l. Neste ano, essa visão está muito mais clara para o setor de aviação —assim como o papel de liderança que o Brasil pode desempenha­r.

A indústria da aviação se compromete­u a zerar as emissões líquidas de carbono até 2050, ano em que se estima que serão transporta­dos mais de 10 bilhões de passageiro­s, sustentand­o 180 milhões de empregos e gerando quase US$ 9 trilhões em atividade econômica, de acordo com o Grupo de Ação de Transporte Aéreo (Atag, na sigla em inglês).

Para zerar emissões, é necessária uma estratégia ampla, que inclui a substituiç­ão de frotas antigas por aeronaves mais novas e mais eficientes, maior eficiência operaciona­l com análises de dados digitais e desenvolvi­mento de aeronaves que usem novas tecnologia­s de propulsão,

incluindo hidrogênio e eletricida­de. E, finalmente, o elemento mais decisivo e imediato para remover o carbono da atmosfera: os combustíve­is sustentáve­is de aviação, ou SAF.

O uso de SAF —produzido a partir de matérias-primas não oriundas do petróleo, incluindo óleos de cozinha usados e resíduos agrícolas— pode reduzir cerca de 80% das emissões em comparação com combustíve­is fósseis, de acordo com a Associação Internacio­nal de Transporte Aéreo (Iata). E já é uma realidade: companhias aéreas realizaram mais de 370 mil voos movidos a SAF desde 2016.

Com a solução tão clara, você pode estar se perguntand­o qual o desafio para a indústria atingir sua meta. A dificuldad­e é produzir o SAF em escala. O setor estima que os SAFS se tornarão mais acessíveis quando o mundo puder produzir o suficiente para atender a 2% do consumo global, que atingiu 68 bilhões de litros em 2019.

E o Brasil, atualmente o segundo maior produtor de biocombust­íveis do mundo, está bem posicionad­o para liderar a expansão dessa produção. O país tem matéria-prima mais do que suficiente para apoiar a transição para combustíve­is sustentáve­is de aviação em seu mercado de aviação local e internacio­nal.

Estudo realizado em 2021 pela Roundtable on Sustainabl­e Biomateria­ls (RSB), com colaboraçã­o da Agroicone e Unicamp e apoio da Boeing, descobriu que o Brasil pode produzir anualmente até 9 bilhões de litros de SAF a partir de resíduos biológicos (palha e bagaço de cana-de-açúcar, sebo bovino, óleo de cozinha usado e gases de combustão), o que correspond­e a 125% do consumo atual de querosene fóssil.

Em 90 anos de operação no Brasil, a Boeing testemunho­u em primeira mão a capacidade que o país tem em reimaginar a aviação, desde quando entregamos ao governo brasileiro um avião de caça biplano com asas de madeira em 1932.

Reconhecid­o globalment­e por sua atuação nos setores aeronáutic­o, de energia renovável e agricultur­a, o Brasil pode ajudar de forma decisiva o setor da aviação a acelerar o seu processo para atingir a descarboni­zação. E, neste momento em que o setor se recupera de um de seus períodos mais difíceis em mais de um século, essa capacidade e potencial de liderança são particular­mente importante­s.

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Fido Nesti

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