Relação com militares e empresariado ainda é desafio para petistas
Superados entraves para celebração da aliança com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) e remontagem da estrutura de comunicação, o comando da précampanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem novos desafios pela frente.
Além da rivalidade entre PT e PSB em estados-chave, como Rio de Janeiro e São Paulo, aliados de Lula reconhecem a resistência de militares e de setores do empresariado —ambos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL)— como obstáculo a ser transposto.
As disputas dentro do arco da aliança impuseram embaraços nas primeiras viagens protagonizadas por Lula depois da oficialização de sua candidatura, no dia 7 de maio. Os palanques estaduais não estavam montados nos três estados selecionados para a largada da précampanha.
A falta de acordo pesou, por exemplo, para cancelamento da visita, programada para quinta-feira (2), a Santa Catarina.
Também para evitar contratempos, nenhum dos seus três pré-candidatos ao Governo do Rio Grande do Sul pôde discursar ao lado de Lula durante ato na quarta-feira (1º) em Porto Alegre.
Na última terça-feira (31), Lula se reuniu com os presidentes do PT e do PSB, Gleisi Hoffmann e Carlos Siqueira, para análise das disputas locais. Fixaram o prazo de 15 de junho, inclusive em São Paulo.
Há percalços também no Espírito Santo, na Paraíba e em Pernambuco. De acordo com um interlocutor do petista, é preciso resolver os estados o quanto antes, para não “ficar arrastando problemas”.
Embora publicamente minimizem a necessidade de diálogo com representantes das Forças Armadas ainda na pré-campanha, sob o argumento de que a tarefa foi assumida por membros do Judiciário, colaboradores do ex-presidente admitem preocupação com a falta de canais com militares, especialmente os da ativa.
Os ex-ministros Celso Amorim, Aloizio Mercadante e Jaques Wagner são apontados como possíveis emissários. Mas, nas palavras de um colaborador de Lula, os militares estão ariscos, refratários ao diálogo.
E, mesmo duvidando de uma predisposição para um golpe no caso de vitória de Lula, petistas temem que os militares cruzem os braços diante de um eventual arroubo autoritário de Bolsonaro.
Com a tibieza da terceira via e a liderança de Lula nas pesquisas de opinião, cresceu a frequência com que representantes do mercado financeiro e setores da economia têm convidado Lula e aliados para reuniões sobre cenário econômico.
Esses interlocutores admitem, porém, ainda enfrentar resistências. Lula tem sofrido críticas por parte do empresariado por não apresentar propostas claras do que irá fazer em um eventual governo e não indicar quem são seus interlocutores nessa área.
Em entrevista à rádio Bandeirantes FM de Porto Alegre, no dia 31, Lula disse que não irá indicar economistas para essas conversas e que vai conversar com mercado “na hora que tiver interesse”.
O ex-presidente tem defendido em falas recentes que não precisa apresentar essas propostas porque tem um legado dos anos de seus governos que falam por si só.
Além das reuniões com empresários, o economista Persio Arida, um dos pais do Plano Real, se reuniu com Mercadante, que é coordenador do plano de governo da chapa. Segundo Lula, ele foi indicado por Alckmin.
“É razoável que se converse, nós não somos os donos da verdade, queremos conversar com todo o mundo. O plano de governo não pode ser do PT. Tem que ser desses sete partidos que estão conosco mais a sociedade”, disse Lula na mesma entrevista.
O próprio petista afirmou em evento nesta semana em São Paulo que irá conversar com banqueiros e empresários. Segundo relatos, há possibilidade de um encontro nos próximos dias.
Um outro desafio para a coordenação de campanha de Lula seria a ampliação do leque de alianças, com a cobiçada união com o PSD de São Paulo. O partido do exprefeito Gilberto Kassab tem na bancada grande número de bolsonaristas, o que dificultaria um acordo.
Apesar de Lula liderar as pesquisas de intenção de voto, aliados do ex-presidente ouvidos pela reportagem afirmam que a disputa será dura e que ainda há um longo caminho até o dia 2 de outubro —e rebatem críticas de que petistas estariam de salto alto.
Pesquisa Datafolha divulgada no último dia 26 apontou que o ex-presidente tem 21 pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro e lidera a disputa presidencial com 48% das intenções de voto no primeiro turno, ante 27% do principal adversário.
De acordo com o ex-governador Wellington Dias (PIPT), a orientação do próprio Lula é a de que a pré-campanha não deve usar o resultado das pesquisas para criar um clima de “já ganhou, de salto alto”. “Nada de arrogância”, disse.
“Temos consciência que será uma batalha que teremos que vencer na disputa de ideias. Eles vão usar um aparato muito forte de fake news, vão elevar o tom e são capazes de qualquer coisa”, diz Luciana Santos, presidente do PC do B, partido que integra a coligação.
Entraves resolvidos
• Composição de chapa com Alckmin
• Formalização da candidatura em ato no dia 7 de maio
• Coligação com sete partidos (PT, PSB, PC do B, PV, PSOL, Rede e Solidariedade)
• Definição de coordenadores da comunicação da pré-campanha
• Montagem da coordenação da pré-campanha
Entraves atuais
• Aprovação oficial da chapa pelo PT
• Resolução de disputas locais com o PSB
• Elaboração de programa de governo
• Construção de alianças regionais com partidos de centro
• Redução de resistência no meio militar e empresarial