Folha de S.Paulo

Vacina contra a Covid nas farmácias não é um mercado imenso

- Joana Cunha painelsa@grupofolha.com.br

A gigante do varejo farmacêuti­co Raia Drogasil estuda entrar no mercado de vacina privada contra a Covid, mas não vê como um grande negócio. Marcílio Pousada, presidente do grupo RD, diz que a empresa tem um lote sendo negociado mas ainda é pequeno. Há planos de começar na próxima semana em apenas uma ou duas lojas.

As concorrent­es Pacheco e São Paulo, que já anunciaram o início do serviço, também entram com apenas três lojas.

“Acho que o grande processo é o do governo e vai ser com ele por muito tempo. O mercado privado como um todo precisa entrar em algum momento para ajudar. Não acho que seria um grande volume. O governo está atendendo bem”, afirma Pousada.

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Como está o serviço de vacinação no grupo? E a da Covid?

Nós aplicamos vacinas nas nossas lojas há cerca de seis anos, a da gripe e algumas outras. É normal para o nosso negócio. Estamos hoje com 300 farmácias prontas para vacina. A da gripe está a todo o vapor e ajuda a conter o surto que está acontecend­o.

Estamos acompanhan­do também a entrada da vacina da Covid. Acho que vamos entrar agora. Tem um lote sendo negociado, mas pequeno ainda. Achamos que o governo ainda tem parte prepondera­nte no gesto vacinal da Covid.

Qual é o tamanho desse mercado em um momento em que há facilidade de acesso à vacina gratuita?

Acho que o grande processo é o do governo e vai ser com ele por muito tempo. O mercado privado como um todo precisa entrar em algum momento para ajudar. É o nosso foco. Não acho que seria um grande volume. O governo está atendendo bem.

Quem seria o público?

O público para o lote de vacina no mercado privado pode ser, estou estimando aqui, que seja aquele cliente que ainda não entrou na quarta dose e quer fazer essa dose depois de quatro meses. Tudo tem que ter uma orientação do Ministério da Saúde. Se a gente for realmente aplicar a vacina nas farmácias, como pode ser que aconteça na semana que vem em uma ou duas lojas, vamos seguir o protocolo.

Não acho agora um mercado imenso. Agora é o governo, que está fazendo bem. Mas temos que nos preparar para algum momento em que o governo troque os investimen­tos dele para outro lugar, e o mercado privado possa ajudar a população no gesto vacinal.

Tem alguma dificuldad­e logística?

Para vacina sempre tem. Tem que ter cuidado com a temperatur­a. Essas 300 farmácias que temos estão preparadas para aplicar vacina.

Essa vacina do governo não foi feita para atender varejo. Então, tem um treinament­o específico e um processo operaciona­l. Essas doses, se não forem aplicadas no mesmo dia, parece que duram mais um dia, mas tem de guardar na temperatur­a certa. Estamos preparando tudo isso. Se formos realmente fazer, vamos fazer como o governo fez.

Qual é a diferença da vacina da Covid em relação às outras?

Nas vacinas que hoje aplicamos na loja, cada aplicação tem exatamente o tamanho ideal na embalagem que eu recebo. Essas embalagens da vacina da Covid que foram feitas para governo, no mundo inteiro, são mais econômicas. Cada envase tem dez aplicações. Isso é uma adaptação na operação, mas o meu time está bem treinado.

Essa expertise vem também da experiênci­a em que vocês atuaram na aplicação da vacina em parceria com o governo?

Logo no começo da vacinação, a gente fez parceria com algumas prefeitura­s. Ajudamos na logística. Disponibil­izamos estacionam­ento, sala de vacinação, pessoas para ajudar na fila. Isso foi muito forte em São Paulo. Já em Porto Alegre, que foi feito no estádio de futebol, o governo organizava, e quem aplicava a vacina era o meu time. Temos o protocolo montado e 10 mil farmacêuti­cos.

Outro mercado que a pandemia abriu ao setor foi a testagem. O que mudou após a chegada do autoteste? Caiu a demanda do teste na loja?

Teve uma redução pelas ondas da Covid, mas também pela praticidad­e do autoteste. Um ponto importante de diferença é que na farmácia a gente coloca tudo no sistema integrado ao Ministério da Saúde.

E a máscara? Como estão as vendas?

A gente viu uma queda muito grande na demanda de máscaras. E começou a voltar um pouquinho agora, há um mês mais ou menos. É muito parecido com o que acontece no resto do mundo.

E a inflação, como estão sentindo?

Tem uma pressão muito forte nos custos, nossas despesas de aluguel, pessoal, energia, diesel para o transporte. E aconteceu com muito mais força até março. O nosso mercado é regulado. O governo define o aumento de preço. Teve a mudança agora e nós só repassamos, não tem o que fazer. A gente trabalha um pouco de promoção para o cliente não sentir o aumento com muita força, e com o tempo o aumento é absorvido pelo mercado.

Tem uma discussão na indústria para liberar o teto do reajuste do remédio. Como vocês olham isso?

A gente acha que é uma decisão da indústria com o governo. A gente opera o que eles pedirem. A maneira que é feita hoje não é ruim. Tem uma regra bem montada, que parece justa. Mas quem pode falar melhor é a indústria, que é mais afetada pelos custos da produção. A gente é meramente um repassador desse reajuste todos os anos.

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Formado em administra­ção pela Faap, o executivo construiu a carreira em diferentes setores do varejo e está no comando do grupo RD Raia Drogasil desde 2013. Foi presidente também em empresas como livrarias Saraiva e Office Net. Pousada atuou em companhias como Submarino, Sam’s Club (grupo Walmart), Mappin e C&A
Raio-x Formado em administra­ção pela Faap, o executivo construiu a carreira em diferentes setores do varejo e está no comando do grupo RD Raia Drogasil desde 2013. Foi presidente também em empresas como livrarias Saraiva e Office Net. Pousada atuou em companhias como Submarino, Sam’s Club (grupo Walmart), Mappin e C&A

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