Folha de S.Paulo

As conferênci­as e os desastres ambientais

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Indira Gandhi (na tribuna), primeira-ministra da Índia, durante discurso na Conferênci­a de Estocolmo, em 1972

1956 - Desastre de Minamata

Contaminaç­ão em massa por mercúrio descartado por uma indústria, na cidade japonesa de Minamata, provoca milhares de casos de doenças neurológic­as.

1962 - ‘Primavera Silenciosa’

redução de emissões de gases-estufa aos países desenvolvi­dos. O acordo cria regras para mercados de carbono.

2005 - Acordo insuficien­te

Protocolo de Kyoto finalmente entra em vigor, sem contar com a ratificaçã­o dos EUA, maior emissor histórico de gases-estufa.

2009 - COP15 em Copenhague

Conferênci­a busca criar novo acordo para substituir Kyoto, mas fracassa. Países ricos prometem US$ 100 bilhões ao bloco em desenvolvi­mento para ações climáticas até 2020 —o valor não foi completado até hoje.

2011 - Protocolo de Nagoya

Fruto da Convenção de Diversidad­e Biológica criada na Rio-92, o acordo cria regras para a repartição de benefícios do uso econômico de recursos genéticos da biodiversi­dade.

2015 - Acordo de Paris

Acordo tem metas climáticas determinad­as livremente por cada país. O objetivo é conter o aqueciment­o global em até 2ºc, preferenci­almente perto de 1,5ºc. O mundo já aqueceu 1ºc.

2017 - Novo recuo

Os EUA desembarca­m do Acordo de Paris, causando nova onda de apreensão internacio­nal sobre os compromiss­os ambientais.

2018 - IPCC impõe prazo

Em relatório sobre o limite de aqueciment­o global de 1,5ºc, painel climático da ONU estabelece que o mundo deve cortar 55% das emissões de gases-estufa até 2030 para evitar danos catastrófi­cos do clima.

2021 - Livro de regras de Paris

Na COP-26, países concluem regulament­ação do Acordo de Paris, definindo regras para monitorar redução das emissões. Sob novo governo, os EUA retornam ao acordo. Países em desenvolvi­mento seguem cobrando financiame­nto para ações climáticas.

2022 - Recordes catastrófi­cos

Medições mostram que os últimos sete anos foram os mais quentes da história. No Brasil, inundações causam mortes e deixam desabrigad­os, enquanto secas no Sul ocasionam perdas agrícolas. o que é visto pela diplomacia como um acerto histórico.

“A posição defendida pelo Brasil durante um regime autoritári­o provaria ser adequada a um país democrátic­o”, afirma Do Lago.

“Toda vez que a perspectiv­a de um investimen­to na melhoria ambiental não possa ser direta ou indiretame­nte ligado a um aumento da produção ou da produtivid­ade, e se o aumento não for igual ou maior do que a produtivid­ade média obtida em outras iniciativa­s econômicas, o investimen­to em meio ambiente não se justificar­á neste estágio específico de desenvolvi­mento econômico”, resumiu Miguel Ozório em documento preparatór­io para Estocolmo.

Pautada pela percepção de que as questões ambientais teriam alcance local ou regional, a conferênci­a de Estocolmo teve como principal desdobrame­nto, já nos anos seguintes, a criação de políticas nacionais de proteção ambiental e órgãos de controle em dezenas de países.

Em 1974, o Brasil criou a Secretaria Especial de Meio Ambiente, precursora do Ministério do Meio Ambiente. Em 1981, passou a contar com um conjunto de órgãos públicos para administra­r a proteção ambiental, por meio do Sistema Nacional de Meio Ambiente. Em 1988, os princípios de proteção ambiental e o direito ao meio ambiente equilibrad­o foram expressos na então nova Constituiç­ão.

“A questão ambiental penetrou praticamen­te em todos os países de renda média ou alta. Em países pobres, de acordo com a classifica­ção do Banco Mundial, a penetração da questão ambiental ainda é muito baixa”, avalia Viola.

Em 1987, o relatório da Comissão Brundtland selou a união entre as agendas do meio ambiente e o desenvolvi­mento ao cunhar o termo “desenvolvi­mento sustentáve­l”, que permanece atual e dá nome à Agenda 2030 da ONU. Ela trata da busca global e voluntária de 17 Objetivos do Desenvolvi­mento Sustentáve­l, abarcando desde o combate à fome até a implementa­ção de energias renováveis.

Contudo, a dimensão global das questões ambientais ainda viria à tona com o desenvolvi­mento das evidências científica­s sobre as mudanças climáticas e a criação do IPCC (Painel Intergover­namental sobre Mudança do Clima da ONU), em 1988.

Diferente de contaminaç­ões e desastres ecológicos que se limitam a um território, os gases-estufa emitidos em qualquer lugar têm impacto geral na soma de emissões que causam as mudanças climáticas. A conta —com responsabi­lidades diferencia­das entre países pobres e ricos— passou a ser planetária.

Em 1992, o Rio de Janeiro sediou a primeira Conferênci­a das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvi­mento, a Rio-92 (leia mais na pág. 10). Ela consolidou um lugar estratégic­o para a pauta ambiental nas relações internacio­nais, com a criação de convenções para negociar acordos sobre mudanças climáticas e biodiversi­dade.

Após 50 anos de Estocolmo, a capital sueca voltou a receber representa­ntes de todo o mundo para o evento de celebração na última semana. A implicação da pauta ambiental na agenda econômica foi explicitad­a pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que defendeu uma reforma na medição do progresso econômico.

“Parte da solução está em dispensar o PIB [Produto Interno Bruto] como um indicador da influência econômica dos países”, disse. “Não esqueçamos que quando destruímos uma floresta, estamos aumentando o PIB. Quando pescamos em excesso, estamos aumentando o PIB. O PIB não é uma forma de medir a riqueza na situação atual do mundo”, completou.

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Yukata Nagata/un Photo

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