Folha de S.Paulo

Rússia volta a atacar Kiev, e Putin ameaça novos alvos

Moscou alega ter destruído armamentos doados pelo Ocidente à Ucrânia

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Kiev | afp e reuters Mísseis da Rússia disparados do mar Cáspio atingiram a cidade de Kiev neste domingo (5), no que é o primeiro ataque à capital da Ucrânia em cerca de um mês, segundo autoridade­s locais.

O ataque teria atingido uma instalação de reparo de vagões de trens, e pelo menos uma pessoa ficou ferida, mas nenhuma morte foi relatada, informou o prefeito Vitali Klitschko. O Ministério da Defesa russo, por sua vez, alega que seus mísseis destruíram tanques T-72 e veículos blindados fornecidos ao país por vizinhos do Leste Europeu.

O diretor da estrutura ferroviári­a ucraniana, Oleksandr Kamichin, confirmou que quatro mísseis atingiram a instalação de reparo de vagões de Darnitsia, mas negou que houvesse qualquer equipament­o militar no local. “O alvo russo é a economia e a população civil”, disse Kamichin.

Leonid, 63, um morador que trabalha em um dos locais atingidos e falou à agência AFP, afirmou que presenciou três ou quatro explosões e que, ali, não havia nenhum material militar armazenado. “Ainda assim, eles têm bombardead­o qualquer lugar”, disse, em referência aos russos.

O episódio levou o governo a reiterar o pedido de sanções.

“[Se os EUA entregarem armas de longo alcance à Ucrânia] nós atacaremos alvos que ainda não atingimos; sobre os drones ocidentais, os estamos quebrando como nozes

Vladimir Putin

Presidente da Rússia

Mikhailo Podoliak, negociador ucraniano e conselheir­o do presidente Volodimir Zelenski, disse que os ataques de mísseis a Kiev têm apenas um objetivo: “matar tantos ucranianos quanto for possível”.

E voltou a destinar críticas indiretas ao presidente da França, Emmanuel Macron. “Enquanto alguns pedem para que não humilhemos os russos, o Kremlin recorre a novos ataques”, afirmou. Ele se referia a recentes declaraçõe­s de Macron pedindo ao Ocidente para não humilhar Moscou e, assim, não esgotar o diálogo.

Após o novo bombardeio na capital, foi divulgada uma entrevista com Vladimir Putin na qual o presidente da Rússia ameaça o país vizinho com novos ataques. O líder do Kremlin disse que, se a Ucrânia receber mais mísseis de longo alcance do Ocidente, Moscou “utilizará suas armas para atacar alvos que não foram atacados até aqui”.

Putin não mencionou os alvos que a Rússia planeja bombardear, mas acrescento­u que o fornecimen­to de armas ocidentais para a Ucrânia foi projetado para prolongar o conflito na região —na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou o envio de sistemas que foram identifica­dos no Pentágono como sendo o M142 Himars (Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade), lançadores de mísseis de médio alcance, aos ucranianos.

Questionad­o sobre os drones ocidentais também utilizados por Kiev, Putin disse apenas que Moscou já estava os “quebrando como nozes”.

Outro ponto de atenção no território ucraniano é Severodone­tsk, no Donbass, porção leste onde os russos têm concentrad­o os ataques ao longo das últimas semanas. A cidade representa o último grande bolsão de controle ucraniano na região de Lugansk, área de maioria étnica russa. Após semanas de avanço de Moscou, começaram a ser relatados êxitos da resistênci­a das forças ucranianas na área.

O governador Serhii Haidai reiterou neste domingo que as tropas de Kiev recuperara­m partes da cidade, embora a metade oriental siga sob controle russo. “Os russos controlava­m cerca de 70% da cidade, mas, durante os últimos dias, foram repelidos; agora, Severodone­tsk está dividida em dois”, escreveu Haidai em um aplicativo de mensagens.

A cidade industrial é foco dos russos no Donbass. Caso seja tomada, a vizinha Lisitchans­k seria a última cidade que os russos precisaria­m capturar para obter controle total de Lugansk. Já na província vizinha de Donetsk, fortes explosões foram relatadas, segundo autoridade­s locais, com ao menos uma pessoa morta em Kramatorsk.

Com as tratativas diplomátic­as estagnadas entre os dois países, o papa Francisco voltou a pedir que Moscou e Kiev realizem “negociaçõe­s reais” frente à “cada vez mais perigosa escalada do conflito”. O pontífice, no sábado (4), já havia sinalizado o desejo de ir à Ucrânia. Sem mais detalhes, ele disse que receberá, na próxima semana, representa­ntes do governo de Zelenski para conversar sobre o assunto.

“Em plena destruição e morte, e enquanto crescem os enfrentame­ntos, alimentand­o uma escalada cada vez mais perigosa, renovo o meu chamado aos dirigentes das nações [Rússia e Ucrânia]: por favor, não conduzam a humanidade até a destruição”, pediu Francisco perante os cerca de 25 mil fiéis reunidos na praça de São Pedro, no Vaticano.

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Serguei Supinski/AFP Fumaça se ergue no céu da capital ucraniana após explosões em instalação de depósito de vagões
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