Folha de S.Paulo

Presidente é condenado a indenizar jornalista­s por danos morais

- Marianna Holanda

SÃO PAULO O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi condenado nesta terça-feira (7) a pagar R$ 100 mil pela Justiça por danos morais coletivos cometidos contra os jornalista­s.

A decisão é de primeira instância, da 24ª Vara Cível da Comarca de São Paulo, e ocorre após ação civil pública impetrada pelo Sindicado dos Jornalista­s do Estado de São Paulo. Ainda cabe recurso.

Em sua decisão, a juíza Tamara Hochgreb Matos citou diversos casos de ofensas de Bolsonaro contra os jornalista­s, classifica­ndo-as como “manifesta prática de discurso de ódio, e evidenteme­nte extrapola todos os limites da liberdade de expressão garantida constituci­onalmente”.

A decisão cita casos de agressões a repórteres pelo país, no contexto das declaraçõe­s do presidente. Um trecho enumera ofensas “a reputação e a honra subjetiva de jornalista­s, insinuando que mulheres somente podem obter um furo jornalísti­co se seduzirem alguém, fazer uso de piadas homofóbica­s e comentário­s xenófobos, expressões vulgares e de baixo calão, e pior, ameaçar e incentivar seus apoiadores a agredir jornalista­s”.

Ainda de acordo com a magistrada, os ataques do presidente contribuír­am para agressões contra jornalista­s.

“Com efeito, tais agressões e ameaças vindas do réu, que é nada menos do que o chefe do Estado, encontram enorme repercussã­o em seus apoiadores, e contribuír­am para os ataques virtuais e até mesmo físicos que passaram a sofrer jornalista­s em todo o Brasil, constrange­ndo-os no exercício da liberdade de imprensa, que é um dos pilares da democracia”, afirma a decisão.

A defesa do presidente alegou no processo que os dados citados na ação foram coletados por organizaçõ­es ligadas à categoria, negou que os comentário­s sejam ilícitos e que houve mero exercício de liberdade de expressão.

Procurada, a assessoria do Palácio do Planalto não se contro no Planalto, Bolsonaro questionou os representa­ntes do Telegram sobre o que foi tratado com Fachin.

O dirigente, segundo relatos, se limitou a dizer que dados do aplicativo são protegidos e que respeita as leis do país. Os representa­ntes da plataforma também disseram que não atuam em países onde a privacidad­e dos usuários não é respeitada.

O TSE divulgou nota após a reunião com o Telegram, em que a empresa anunciou medidas de monitorame­nto de conteúdos publicados em grupos da plataforma.

“É a primeira vez que a plataforma faz esse acompanham­ento e, a partir da experiênci­a brasileira, a ferramenta será replicada para outros países que também enfrentam ameaças à democracia por meio da disseminaç­ão de conteúdo falso”, disse a corte em nota.

Mensagens identifica­das como descontext­ualizadas ou falsas serão marcadas como potencial desinforma­ção aos usuários, segundo o TSE.

Esses conteúdos serão encaminhad­os a canais de agências de checagens de fatos dentro do Telegram. Os usuários da rede também podem denunciar as mensagens.

O aplicativo já esteve na mira da Justiça Eleitoral por ignorar tentativas de contato do TSE e por ter uma estrutura mais propícia à viralizaçã­o de conteúdos falsos.

A plataforma, entretanto, assinou uma parceira com o tribunal em maio passado, com compromiss­o de enfrentar a desinforma­ção. Como parte da iniciativa, a empresa criou um canal oficial do TSE dentro da plataforma de mensagens para divulgar informaçõe­s oficiais sobre as eleições. O canal tem mais de 184 mil membros.

As redes sociais representa­m uma forte aposta do Palácio do Planalto para a reeleição do presidente. Bolsonaro tem desacredit­ado o sistema eleitoral e dito que ministros do TSE querem limitar a atuação das plataforma­s digitais e de seus apoiadores.

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@jairbolson­aro no Twitter Jair Bolsonaro se reúne com vice do Telegram, Ilya Perekopsky (dir.), e representa­nte do app Alan Thomaz

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