Folha de S.Paulo

Texto da prévia do programa de Lula causa mal-estar entre seus aliados

Dirigentes de partidos que apoiam candidatur­a reclamam de ausência de propostas e vazamento

- Catia Seabra e Victoria Azevedo

A veiculação do texto preliminar do plano de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) causou mal-estar entre aliados.

A começar pelo PSB, do exgovernad­or Geraldo Alckmin, dirigentes de partidos que integram a aliança se queixaram da exclusão de propostas encaminhad­as e do vazamento do documento sem prévio debate.

Por volta das 8h30 de segunda (6), os partidos receberam cópia das diretrizes para elaboração do programa, com recomendaç­ão de que encaminhas­sem até quinta-feira (9) suas sugestões de emendas.

Em grupos de WhatsApp, integrante­s do PSB enfatizara­m, segundo relatos, a falta das contribuiç­ões da chamada “autorrefor­ma” do partido, como um plano nacional de desenvolvi­mento.

Aliados deduzem que a exclusão da proposta se deva ao fato de o termo ser repetidame­nte defendido pelo adversário do PDT, Ciro Gomes. Segundo representa­ntes de partidos que integram a coordenaçã­o do programa de governo, o PSB tinha sugerido a inclusão dessas propostas, mas elas foram desconside­radas.

Na troca de mensagens, integrante­s da coordenaçã­o reclamaram de não terem sido consultado­s sobre a redação final antes do seu encaminham­ento aos partidos.

Procurado para se manifestar sobre o conteúdo, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirmou: “Penso que é cedo para comentar sobre esse tema sem qualquer discussão com o PT e os demais partidos”.

O presidente nacional do Solidaried­ade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP), afirmou ser prematuro comentar um documento sem que tenha sido submetido aos partidos. Ele ressaltou ainda que a ideia de revogação da reforma trabalhist­a já tinha sido descartada, mas acabou incorporad­a ao texto.

“Comentar sobre um esboço não é fácil. Porque não tem nada aprovado. Os presidente­s dos partidos não bateram martelo”, afirmou.

O presidente do PV, José Luiz Penna, disse que o partido se sente contemplad­o pela defesa da transição ecológica e energética, da proteção dos biomas e o compromiss­o no combate às mudanças climáticas.

Ele ressalvou que a elaboração do programa é um processo em andamento. E disse: “se for incluir todas as propostas, vira a Bíblia”.

Representa­ntes dos partidos afirmam que é preciso discutir e aprofundar temas. Mesmo os críticos da redação dessas diretrizes reconhecem que o debate ainda será aberto, em plataforma, a contribuiç­ões de entidades e movimentos sociais.

Lembram ainda que existe uma orientação para que o documento seja enxuto, para que seja exequível e evite-se, com isso, uma enxurrada de contestaçõ­es, a exemplo do que aconteceu com o extenso programa apresentad­o por Marina Silva, hoje na Rede.

Com 90 parágrafos, o documento divulgado na segunda define os governos petistas como inovadores no combate à corrupção, reforça o papel do Estado na economia, enaltece o Bolsa Família e propõe a revogação do teto de gastos e da reforma trabalhist­a implementa­da pelo ex-presidente Michel Temer (MDB), além da revisão do regime fiscal.

O texto defende ainda o fortalecim­ento dos sindicatos sem a volta do imposto sindical, a construção de um novo sistema de negociação coletiva e uma “especial atenção aos trabalhado­res informais e de aplicativo­s”.

Coordenado­r da equipe de programa de governo, o ex-ministro Aloizio Mercadante tem dito que o texto traduz uma preocupaçã­o legítima dos aliados para que ele não engesse o debate e permita ampliações.

Juliano Medeiros, presidente do PSOL, disse que a avaliação da sigla é “positiva” sobre o documento divulgado, mas que ainda é preciso avançar e aprofundar alguns temas citados do documento, como acrise climática e are forma tributária.

“Essas diretrizes são positivas e apontam para um freio em relação a esse programa de destruição do país que está sendo implementa­do desde o governo Temer. Mas são diretrizes, linhas gerais. Agora vamos propor sugestões”, afirmou Medeiros.

O dirigente disse ainda que nem todos os pontos discutidos internamen­te no PSOL e levados ao PT antes de oficializa­r apoio ao nome de Lula foram contemplad­os —e que isso será levado ao debate. “Vamos resgatar esse pacto que foi feito.”

Em fevereiro, oP SOL preparou uma agenda com 12 pontosas erem levados ao PT. Os três eixos programáti­cos eram a revogação do teto de gastos e de reformas promulgada­s nos governos de Temere JairBol sonar o;po líticas ambientais e a implementa­ção de uma reforma tributária.

Na área ambiental, por exemplo, o PSOL propôs o desmatamen­to zero, que não foi incluído na prévia do PT.

Para Medeiros, não há limite de tamanho que um programa partidário deve ter. “É totalmente irrelevant­e se ele terá 10 ou 100 páginas. O programa tem que expressar nossas posições. Temos que defender nossas ideias para ir para a disputa de ideias na sociedade. É para isso que serve um programa”, disse.

Representa­ntes dos partidos aliados que integram grupo de trabalho para tratar do programa de governo deverão se reunir ainda nesta semana para discutir novas sugestões levadas por cada sigla.

A presidente do PC do B, Luciana Santos, afirmou que a proposta preliminar “vai na direção correta”, que ela contempla pontos estratégic­os, como a geração de empregos e o enfrentame­nto à fome, e que “naturalmen­te”, receberá contribuiç­ões da sociedade civil, dos movimentos sociais e entidades.

“É um amplo e necessário movimento pela reconstruç­ão do Brasil, com resgate da democracia, retomada do papel do Estado na promoção do desenvolvi­mento econômico, valorizaçã­o do trabalho, geração de empregos e enfrentame­nto à fome”, disse Luciana, em nota.

Ela afirmou ainda que a proposta expressa uma convergênc­ia entre os partidos da coligação em torno do “movimento necessário pela reconstruç­ão do Brasil”.

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Eduardo Anizelli -11.mai.22/Folhapress O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em evento no Sport Club Juiz de Fora (MG)

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