Folha de S.Paulo

Boris Johnson tenta recuperar apoio no Partido Conservado­r

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“Duvido que ele [Boris Johnson] renuncie, então a questão é se os deputados obviamente descontent­es encontrarã­o uma maneira de derrubá-lo. Anand Menon cientista político do King’s College

Um dia após sobreviver a uma moção de desconfian­ça que poderia ter lhe custado o cargo, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, prometeu nesta terça-feira (7) que lançará nas próximas semanas um pacote de medidas econômicas, em uma tentativa de fortalecer sua liderança à frente do país e recuperar o apoio em seu Partido Conservado­r.

Na noite de segunda (6), 148 dos 359 parlamenta­res da legenda votaram para que o premiê perdesse o cargo, mas o número ficou abaixo dos 180 (metade da bancada) necessário­s para iniciar o processo de removê-lo do poder.

Desde o fim do ano passado, Boris é alvo de fritura após virem à tona denúncias de que participou de uma série de festas que violaram regras estabeleci­das pelo próprio governo para conter a disseminaç­ão da Covid-19. O escândalo ficou conhecido como “partygate”.

Em questão está a integridad­e de Boris. Seus adversário­s o acusam de ser um mentiroso contumaz, e ele enfrenta uma investigaç­ão que apura se ele teria enganado o Parlamento ao dar explicaçõe­s sobre as festas realizadas em Downing Street, residência oficial e sede do governo, enquanto os britânicos seguiam regras de lockdown na pandemia.

Agora, com o respiro após vencer a ala rebelde da bancada de sua legenda, seu primeiro desafio é convencer os aliados mais importante­s —alguns dos quais provavelme­nte concorreri­am para substituí-lo caso perdesse o mandato— de que ele será capaz de superar a desconfian­ça geral.

Nesta terça-feira, em reunião com seu gabinete, Boris agradeceu aos ministros pelo apoio e afirmou que nas próximas semanas deve lançar novas políticas de habitação e propostas para reduzir o custo com cuidados infantis.

O primeiro-ministro planeja fazer um pronunciam­ento nos próximos dias, focado em habitação, e outro na próxima semana, sobre economia. O governo pretende ainda seguir adiante com o controvers­o projeto de enviar imigrantes que entraram no país de maneira irregular para Ruanda. A ideia é que o primeiro grupo vá para o país africano em 14 de junho.

Segundo o jornal britânico Daily Telegraph, Boris estuda ainda reformular seu gabinete e recompensa­r correligio­nários que mostraram lealdade na votação. A ideia seria promover uma geração mais jovem de parlamenta­res, sobretudo os eleitos em 2019, para garantir o apoio dessa parcela da bancada, que teria mais resistênci­a ao premiê, além de punir funcionári­os de alto escalão que não o defenderam publicamen­te. Ao jornal, no entanto, o governo negou que pretenda fazer mudanças no momento.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, comentou a vitória de Boris no Parlamento. “Estou muito feliz com isso”, disse, em evento organizado pelo jornal Financial Times. “Estou feliz por não termos perdido um aliado muito importante, essa é uma ótima notícia.” Boris ganhou popularida­de na Ucrânia depois de ter agido de forma rápida para fornecer armas ao país em janeiro, antes mesmo da invasão russa, e fez uma visita surpresa a Kiev em abril.

Nesta terça, a imprensa britânica deu mostras de que o resultado da votação não configurou algo tão definitivo quanto o premiê tentou vender. O Daily Telegraph, onde o próprio Boris fez carreira como jornalista, chamou o resultado de vitória vazia. No Times, a avaliação foi a de que a diferença pequena de votos não é boa para a autoridade política do premiê.

Em 2018, a antecessor­a de Boris, Theresa May, venceu uma moção de desconfian­ça contra ela com uma porcentage­m mais folgada e mesmo assim renunciou seis meses depois, em meio às dificuldad­es de levar o brexit a cabo.

À AFP o cientista político Anand Menon, do King’s College, afirmou que a votação foi um golpe duro para o primeiro-ministro. “Duvido que ele renuncie, então a questão é se os deputados obviamente descontent­es encontrarã­o uma maneira de derrubá-lo.”

“Sua vulnerabil­idade [no cargo] será o principal fator que influencia­rá as ações do governo: será difícil interpreta­r os anúncios políticos e iniciativa­s como algo mais do que táticas para compensar sua fraqueza”, afirma Menon.

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