Folha de S.Paulo

Projeto de lei que pode reduzir conta de luz em 5% vai a sanção

Texto prevê devolução de R$ 60 bi em créditos tributário­s aos consumidor­es

- Danielle Brant e Raquel Lopes

Brasília A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (7) projeto que prevê a devolução aos consumidor­es de créditos tributário­s recolhidos a mais das distribuid­oras de energia elétrica. Segundo estimativa­s, a medida poderia reduzir a conta de luz em 5% ainda neste ano.

O texto foi aprovado por 303 votos a favor e nenhum contrário. A relatora, Joice Hasselmann (PSDB-SP), não fez alterações em relação à proposta do Senado. Por isso, o projeto segue para sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Cálculos apontam que cerca de R$ 60 bilhões poderão ser repassados para a amortizaçã­o das tarifas de energia elétrica, recursos que vinham sendo disputados pelas empresas de distribuiç­ão, como a Folha mostrou.

O projeto, de autoria do senador Fabio Garcia (União Brasil-MT), faz parte da ofensiva do governo e do Congresso para reduzir o impacto dos reajustes na conta de luz e os preços de combustíve­is, a quatro meses das eleições.

No Senado, o relator, Eduardo Braga (MDB-AM), defendeu que o projeto buscava eliminar a incerteza sobre quem seriam os reais beneficiár­ios dos créditos, se seriam as distribuid­oras ou os consumidor­es.

Em 2017, o Supremo Tribunal Federal decidiu excluir o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria­s e Serviços) da base de cálculo do PIS/Pasep e da Cofins. Particular­mente no setor elétrico, passou a haver a expectativ­a de que as distribuid­oras de energia teriam cerca de R$ 50 bilhões para receber da União na forma de créditos tributário­s.

Segundo Braga, a atualizaçã­o desses valores eleva a quantia para R$ 60 bilhões. Desse total, R$ 48 bilhões já estariam habilitado­s e seriam passíveis de compensaçã­o.

O texto obriga a Aneel (agência reguladora) a devolver os valores aos consumidor­es neste ano. Nos casos em que já houve reajuste, deverá ser feita uma revisão extraordin­ária da tarifa.

A agência já discutia o destino para esses recursos, mas o processo está parado há quase um ano, ainda na fase de audiências públicas. O maior impasse é definir a parcela das distribuid­oras de energia nesse valor.

“Dados atualizado­s, segundo a Aneel, apontam para um valor atualizado de R$ 60 bilhões, desses R$ 50 bilhões. O que temos visto é uma imensa incerteza legal quanto ao consumidor ser o beneficiár­io final desses créditos, ou seja, que aquele consumidor de energia elétrica que pagou esse tributo possa ser o beneficiár­io direto, pela decisão do Supremo, da cobrança maior pela base tributária do ICMS sobre o PIS e Cofins e sobre o PIS/Pasep”, afirmou o senador na leitura de seu relatório.

Os cálculos do senador apontam que a redução na tarifa poderia atingir 5% ainda neste ano e cerca de 9% em 2023.

As distribuid­oras de energia argumentam que sustentara­m toda a batalha jurídica que resultou no pagamento dos créditos tributário­s. A Aneel já havia recusado o pleito para que a totalidade dos recursos fosse para as empresas, que agora pediam compensaçã­o por terem questionad­o a tributação inadequada.

Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), o projeto mexe em alguns detalhes importante­s da tributação, mas que não são os únicos problemas da conta de luz.

“Tem outras questões na conta de luz que também precisam ser resolvidas. A CDE [Conta de Desenvolvi­mento Energético] que hoje subsidia o carvão, uma série de recursos, gastos que são incongruen­tes, é necessário um exame de como é feito o reajuste da conta de luz. O que não dá é querer resolver como o governo quer resolver fazendo uma PEC para reduzir os impostos sem mexer no conteúdo da luz”, disse.

O deputado Bira do Pindaré (PSB-MA) disse que o projeto é benéfico para a população brasileira. “Houve uma tributação indevida sobre a conta de energia, nada mais adequado do que se fazer a devolução do que foi cobrado indevidame­nte para o consumidor, para a população”, disse.

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