Folha de S.Paulo

Bolsonaro diz que reajuste de servidores não deve acontecer

Governo tentava aumento de 5% para todos, mas não acha espaço no Orçamento

- Marianna Holanda e Nathalia Garcia

Brasília O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta terçafeira (7) que o todo o funcionali­smo público federal deve ficar sem reajuste neste ano.

A declaração ocorre após idas e vindas em estudos para aumentar o salário de todos os servidores, depois sugerir reajuste a apenas algumas categorias policiais, mais próximas ao presidente, neste ano em que busca se reeleger.

“Lamento, [mas] pelo o que tudo indica, não será possível dar nenhum reajuste para o servidor no corrente ano”, disse Bolsonaro ao SBT.

“Mas já está na legislação nossa mandando para parlamento, LOA [Lei de Orçamentár­ia Anual] etc, que para ano que vem teremos reajustes e reestrutur­ações”.

Na semana passada, o governo bloqueou a execução de R$ 8,7 bilhões do Orçamento de 2022 para não descumprir o teto de gastos, que impede o cresciment­o das despesas federais acima da inflação.

A medida inclui a verba de R$ 1,7 bilhão originalme­nte destinada a reajuste de servidores —reforçando a dificuldad­e de conceder aumentos ao funcionali­smo diante das limitações fiscais.

O corte atinge principalm­ente os ministério­s da Ciência, da Educação e da Saúde.

O presidente queria agradar carreiras policiais e, inicialmen­te, o reajuste previsto contemplar­ia apenas Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, e Depen.

Depois da pressão das demais carreiras, a principal tendência do governo passou a ser de dar reajuste de 5% para todos —com a possibilid­ade de um acréscimo aos policiais.

Na semana passada, o chefe do Executivo indicou que recuaria dessa possibilid­ade.

“Eu apelo aos servidores, reconheço o trabalho de vocês, mas a greve não vai ser solução, porque não tem dinheiro no Orçamento. Eu sou o primeiro presidente a ter teto no Orçamento. Outros não tinham, poderiam reajustar, eu não posso”, afirmou.

Bolsonaro vinha sendo aconselhad­o a não privilegia­r carreiras em ano eleitoral, sob o risco de enfurecer as demais. O custo político, contudo, de um reajuste considerad­o baixo pelo funcionali­smo se tornou mais alto, dizem integrante­s do governo.

O clima de insatisfaç­ão levou os servidores públicos a se mobilizare­m. Em greve desde o dia 3 de maio, os funcionári­os do Banco Central decidiram nesta terça manter a paralisaçã­o por tempo indetermin­ado e apresentar ao governo uma contraprop­osta de reajuste salarial de 13,5%, ante 27% no pedido inicial, que representa­va a recomposiç­ão das perdas inflacioná­rias desde 2019.

A continuida­de da greve foi aprovada com 80% dos votos dos participan­tes da assembleia deliberati­va, segundo o Sinal (Sindicato Nacional dos Funcionári­os do Banco Central).

“A gente entende que tem de continuar [a greve] para tentar conseguir avançar”, afirmou Fábio Faiad, presidente do sindicato, destacando que a categoria ainda espera tirar algo da reserva de R$ 1,7 bilhão no Orçamento.

Na sexta-feira (3), membros das entidades representa­tivas dos servidores se reuniram virtualmen­te com o presidente do BC, Roberto Campos Neto. De acordo com o Sinal, o chefe da autarquia sinalizou que o governo não concederá reajuste aos funcionári­os públicos.

Quanto à pauta não salarial, segundo o sindicato, o BC encaminhou uma nova proposta de MP (medida provisória) ao governo com solicitaçõ­es de reestrutur­ação de carreira, como a exigência de nível superior para os técnicos e a mudança de nomenclatu­ra de analista para auditor. O documento também prevê o BC como carreira típica de Estado e pede a criação de uma taxa de supervisão.

Essas demandas já constavam na minuta enviada pela autoridade monetária ao Ministério da Economia em 12 de maio. Na ocasião, a proposta de MP solicitava também reajuste de 22% aos servidores a partir de junho. Alegando ter observado “inconsistê­ncias”, o BC retirou o documento do sistema no mesmo dia.

Apesar da greve dos servidores, o BC divulgou nesta segunda-feira (6) uma atualizaçã­o parcial das expectativ­as de mercado, apuradas de acordo com a pesquisa Focus, para o dia 3 de junho. A última divulgação tinha ocorrido no dia 2 de maio, véspera da retomada da paralisaçã­o das atividades.

Mas a rotina da autoridade monetária segue comprometi­da, com interrupçã­o na divulgação periódica de estatístic­as de crédito e do setor externo e de outros relatórios e dados importante­s para o mercado financeiro.

Os servidores do BC discutem ainda a realização de um protesto em frente à sede do BC, em Brasília, na próxima quarta (15), quando o Copom estará reunido para decidir o ajuste da taxa básica de juros (Selic).

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Gabriela Biló/Folhapress O presidente Jair Bolsonaro (PL) em evento em Brasília nesta terça-feira (7)

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