Com forte demanda, ação da Eletrobras deve ter rateio
Estimativa é que procura possa ter chegado a R$ 51 bi; valores saem hoje
SÃO PAULO A demanda dos investidores pelas ações da Eletrobras superou de três a quatro vezes o tamanho total da oferta, estimam operadores do mercado ouvidos pela Folha em condição de anonimato. Analistas estimam um volume de pelo menos R$ 27,5 bilhões, sendo que uma fonte do mercado afirmou que o valor chegou a R$ 51 bilhões.
A oferta de ações da Eletrobras, no âmbito do processo de privatização da empresa de energia elétrica, tem um limite de R$ 35 bilhões, consideradas a primária de 627,6 milhões de ações e um lote adicional de 104,6 milhões de ações.
Entre os grandes investidores que atuaram como âncora na operação —aqueles que garantem uma demanda para a oferta sair—, estão o GIC, o fundo soberano de Singapura, e o CPPIB, fundo de pensão canadense, segundo a Reuters.
O valor de cada ação comprada será divulgado nesta quinta-feira (9), conforme o cronograma oficial, e o preço será determinado com base no interesse dos investidores.
Os dois grandes investidores já haviam sido indicados à Folha em reportagem publicada no fim de maio, junto a outros agentes como 3G Radar, já um dos principais acionistas da Eletrobras, e Itaúsa.
Um gestor ouvido pela Folha diz que os âncoras já teriam assegurado um volume ao redor de R$ 13,5 bilhões.
Segundo um gestor de fundo de investimento, que também pediu anonimato, nas conversas que têm tido com os bancos e corretoras que participaram da oferta, a demanda dos investidores com recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) teria sido um sucesso e superado as expectativas, alcançando uma cifra acima dos R$ 6 bilhões estabelecidos pela Eletrobras como limite.
O prazo para os trabalhadores fazerem a reserva de ações utilizando dinheiro do FGTS terminou às 12h desta quarta. Caso a demanda dos trabalhadores se confirme acima dos R$ 6 bilhões, haverá rateio, com a destinação aos interessados de uma fatia menor que o valor reservado.
Caso haja rateio, os valores depositados em excesso serão devolvidos ao FGTS sem nenhuma remuneração.
“A Eletrobras foi na contramão do mercado. O papel teve alta. Teve a demanda do FGTS, que ficou em mais de R$ 7,5 bilhões, e o reservado para essa categoria era em torno de R$ 6 bilhões. O mercado fala em uma forte demanda no follow on”, diz Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha Investimentos.
Além do volume destinado aos trabalhadores com o FGTS, agentes de mercado que acompanham a operação estimam um volume adicional de aproximadamente R$ 3 bilhões para os investidores
“A Eletrobras hoje é altamente ineficiente, sob a ótica dos custos em relação à capacidade instalada de geração, que é quase o dobro da média das empresas privadas do setor. Com a privatização, a empresa deve ter a oportunidade de reduzir os custos pela metade, ou até mais do que isso
Marcelo Sandri
analista da gestora de recursos Perfin
pessoa física que entraram na oferta comprando as ações diretamente, não via cotas dos fundos mútuos de privatização.
Ou seja, considerados os âncoras e a demanda do varejo com e sem FGTS, o total estaria em algo como R$ 22,5 bilhões.
Além desse montante, há o volume destinado aos investidores com prioridade na oferta, como aqueles que já compõem a base acionária. Nesse caso, fontes estimam um volume em torno de R$ 5 bilhões, levando o total para R$ 27,5 bilhões.
As ações ordinárias da Eletrobras fecharam a sessão desta quarta em alta de 0,81%, a R$ 42,14, após terem chegado a marcar valorização de quase 3% durante a tarde.
Além da divulgação do preço de cada ação nesta quintafeira, também tem início a negociação dos ADRs (American Depositary Receipts) da Eletrobras na Bolsa de Nova York, emitidas no âmbito do processo de privatização, segundo o calendário da empresa.
O cronograma divulgado pela Eletrobras aponta também que o início do prazo para o exercício da opção de ações do lote suplementar está previsto para esta sexta (10), com término no dia 11.
Já na segunda (13) começam as negociações das ações da Eletrobras na B3, a Bolsa de Valores.
Com o processo de privatização da Eletrobras, e os ganhos de eficiência que podem vir a reboque com a empresa de energia elétrica deixando de estar sob o controle do Estado, analistas de mercado estimam que os papéis na Bolsa possam se valorizar até 85% nos próximos meses. A empresa deve reduzir a participação do governo de 70% para cerca de 45%.
Mesmo com a forte alta em torno de 30% das ações da Eletrobras no acumulado do ano, boa parte justamente pela expectativa da privatização, analistas entendem que ainda há espaço para que a valorização prossiga com força.
Sócio e analista da gestora de recursos Perfin, Marcelo
Sandri diz que, embora os papéis da companhia de energia com foco em geração e transmissão já tenham apresentado um desempenho destacado, conforme os ganhos de eficiência passem a se materializar, de fato, a tendência é de uma continuidade de valorização dos papéis na Bolsa.
“A Eletrobras hoje é altamente ineficiente, sob a ótica dos custos em relação à capacidade instalada de geração, que é quase o dobro da média das empresas privadas do setor. Com a privatização, a empresa deve ter a oportunidade de reduzir os custos pela metade, ou até mais do que isso”, afirma Sandri, que conta ter na empresa uma das principais posições na carteira dos fundos de ações da gestora.
Os analistas da Eleven Financial Research projetam um preço-alvo de R$ 79 para os papéis da Eletrobras em dezembro, com um potencial de valorização estimado em torno de 85%.
“Com controle privado, esperamos que a alocação de capital e a gestão do portfólio sejam direcionadas para a criação de valor”, dizem os especialistas da casa de análise de investimentos em relatório.
Eles notam que, em empresas privadas do setor, há uma avaliação mais ativa sobre os seus portfólios, com trocas ou desinvestimentos quando determinado ativo não estiver entregando um bom desempenho.
“Adicionalmente, também vemos oportunidade em melhor alocar o capital em projetos de crescimento.”
Com controle privado e como líder de mercado tanto em geração quanto em transmissão de energia, os analistas da Eleven preveem que a Eletrobras possa participar de maneira relevante na expansão do sistema, alavancando a sua expertise técnica e a sua escala.
“Em termos relativos, vemos a Eletrobras negociando com desconto em todos os múltiplos ante a média dos múltiplos de geradoras e transmissoras”, assinalam os especialistas da Eleven.