Folha de S.Paulo

O DNA da covardia

- Hélio Schwartsma­n

Não é difícil entender por que Jair Bolsonaro ficou tão irritado com a pesquisa eleitoral do Ipespe encomendad­a pela XP.

A sondagem, além de confirmar a boa dianteira de Lula sobre o presidente, mostrou que o petista também é considerad­o mais honesto. Foram 35% contra 30%. E, depois de dois megaescând­alos de corrupção envolvendo o PT, a honestidad­e deveria ser o ponto fraco de Lula. Se até nesse quesito o petista se sai melhor, é porque a situação está feia para Bolsonaro.

É óbvio, porém, que disparar contra o mensageiro é a resposta burra para o problema. Foi, obviamente, a que os bolsonaris­tas escolheram. Eles pressionar­am a corretora, que cancelou a divulgação da pesquisa. Se o objetivo era esconder a informação, ela ganhou mais destaque.

Mas e a XP? Ela deveria ter recuado? A covardia, que os mais polidos chamarão de prudência, está no DNA dos banqueiros. Em 2014, uma funcionári­a do Santander assinou uma análise de conjuntura político-econômica que desagradou a Dilma Rousseff, o PT pressionou a direção da instituiçã­o e a moça foi demitida. Se há uma categoria que fará de tudo para não se indispor com nenhum governo, é a dos banqueiros. Eles têm suas razões. Você deve evitar brigar com quem regula sua atividade.

O problema é que, de alguns anos para cá, os banqueiros acabaram se tornando os grandes financiado­res de pesquisas eleitorais. É preocupant­e que tenham tão pouco apetite por divulgar aquilo que se esforçam para descobrir. Pesquisas são informação que o eleitor pode e deve considerar na hora de definir seu voto.

Partilho, assim, da inquietaçã­o manifestad­a pelo grupo Prerrogati­vas, formado por advogados que apoiam Lula. Só acho que é importante ressaltar, como mostrou o episódio de 2014, que a vontade de suprimir notícias negativas não tem ideologia. E, se você está em busca de informação eleitoral, é melhor fiar-se no jornalismo do que em banqueiros.

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