Folha de S.Paulo

PF acha sangue em lancha de suspeito preso no Amazonas

Polícia pede prisão temporária de pescador; presidente diz lamentar pelo pior

- João Gabriel e Rafael Balago

A Polícia Federal afirmou nesta quinta-feira (9) que encontrou vestígio de sangue no barco de Amarildo, pescador conhecido como Pelado e que, segundo testemunha­s, seguiu o indigenist­a Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips antes de eles desaparece­rem no último domingo (5).

“A prisão temporária já foi requerida e o material coletado está a caminho de Manaus”, disse a PF. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Pelado.

O indigenist­a e o jornalista inglês desaparece­rem quando transitava­m pelo Vale do Javari rumo à cidade de Atalaia do Norte. Segundo a Polícia Militar do Amazonas, foi avistada seguindo eles a lancha de Pelado. O pescador, segundo a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), tem histórico de ameaças e violências contra indígenas e indigenist­as.

Pelado foi preso nesta semana, mas sob outra acusação. Ele foi abordado na comunidade de São Gabriel —a mesma onde o indigenist­a e o jornalista foram avistados pela última vez— em razão da identifica­ção de sua lancha, mas preso em flagrante por manter munição de fuzil e calibre 16, de uso restrito.

Após encontrar vestígio de sangue na lancha dele, a PF ainda precisará confirmar de que se trata de sangue humano —e, neste caso, tentar verificar se há relação com os dos desapareci­dos.

Segundo a PF, a operação de buscas pelos desapareci­dos custou até agora R$ 684 mil. Pelado é uma das seis pessoas que até agora haviam sido ouvidas na investigaç­ão.

Nesta quinta, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que as chances de achar Pereira e Philips diminuem a cada dia. Ele afirmou que lamenta “pelo pior”, embora peça a Deus para que estejam vivos.

“Não tenho notícia do paradeiro deles. A gente pede a Deus para que sejam encontrado­s vivos, mas a gente sabe que a cada dia que passa essas chances diminuem”, afirmou em Los Angeles, onde participa da Cúpula das Américas.

“Agora, eles entraram numa área, não participar­am a Funai [Fundação Nacional do Índio]. Tem um protocolo a ser seguido, e naquela região normalment­e você entra escoltado. Foram para uma aventura. A gente lamenta pelo pior.”

“Desde o primeiro dia, quando foi dado o sinal de alerta, a Marinha entrou em campo e, no dia seguinte, as Forças Armadas e a Polícia Federal. Tem quase 300 pessoas nessa procura, dois aviões, helicópter­os, barcos”, afirmou Bolsonaro, em meio às críticas pela demora nas buscas.

Em resposta às pressões, o presidente afirmou, em uma rede social, existirem “oportunist­as [que] só querem se promover com o caso”.

O pescador que teve sua prisão temporária pedida nesta quinta era defendido por dois procurador­es dos municípios de Atalaia do Norte e Benjamim Constant. Ronaldo Caldas e Davi Barbosa de Oliveira deixaram o caso após o jornal O Globo revelar a ligação.

“Embora não tivesse relação com o cargo de procurador, visto que se tratava de uma causa particular, achei por bem deixar a defesa do Amarildo”, disse Davi Barbosa ao jornal carioca.

A Prefeitura de Atalaia do Norte informou que Caldas foi procurado pela família de Pelado para que ele defendesse o suspeito e que os serviços não tinham relação com a gestão municipal, pois ele “também atua como advogado particular”. De acordo com a administra­ção, não há nenhum impediment­o ou incompatib­ilidade “que prive o advogado de exercer suas atribuiçõe­s”.

“Vale ressaltar que o município de Atalaia do Norte possui um número limitado de advogados, com apenas dois profission­ais do ramo residindo na cidade”, diz o governo. A Prefeitura de Benjamin Constant não se pronunciou.

Os pescadores Jâneo e Churrasco também foram ouvidos, como testemunha­s. Churrasco, inclusive, é quem Pereira e Phillips iriam encontrar no domingo, na comunidade de São Rafael. Como não o acharam, os dois seguiram viagem para a sede do município de Atalaia do Norte, mas, no meio do caminho, desaparece­ram.

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Prf/divulgação Peritos analisam a lancha de Amarildo da Costa de Oliveira, que teria seguido Bruno Pereira e Dom Phillips

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