PF acha sangue em lancha de suspeito preso no Amazonas
Polícia pede prisão temporária de pescador; presidente diz lamentar pelo pior
A Polícia Federal afirmou nesta quinta-feira (9) que encontrou vestígio de sangue no barco de Amarildo, pescador conhecido como Pelado e que, segundo testemunhas, seguiu o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips antes de eles desaparecerem no último domingo (5).
“A prisão temporária já foi requerida e o material coletado está a caminho de Manaus”, disse a PF. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Pelado.
O indigenista e o jornalista inglês desaparecerem quando transitavam pelo Vale do Javari rumo à cidade de Atalaia do Norte. Segundo a Polícia Militar do Amazonas, foi avistada seguindo eles a lancha de Pelado. O pescador, segundo a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), tem histórico de ameaças e violências contra indígenas e indigenistas.
Pelado foi preso nesta semana, mas sob outra acusação. Ele foi abordado na comunidade de São Gabriel —a mesma onde o indigenista e o jornalista foram avistados pela última vez— em razão da identificação de sua lancha, mas preso em flagrante por manter munição de fuzil e calibre 16, de uso restrito.
Após encontrar vestígio de sangue na lancha dele, a PF ainda precisará confirmar de que se trata de sangue humano —e, neste caso, tentar verificar se há relação com os dos desaparecidos.
Segundo a PF, a operação de buscas pelos desaparecidos custou até agora R$ 684 mil. Pelado é uma das seis pessoas que até agora haviam sido ouvidas na investigação.
Nesta quinta, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que as chances de achar Pereira e Philips diminuem a cada dia. Ele afirmou que lamenta “pelo pior”, embora peça a Deus para que estejam vivos.
“Não tenho notícia do paradeiro deles. A gente pede a Deus para que sejam encontrados vivos, mas a gente sabe que a cada dia que passa essas chances diminuem”, afirmou em Los Angeles, onde participa da Cúpula das Américas.
“Agora, eles entraram numa área, não participaram a Funai [Fundação Nacional do Índio]. Tem um protocolo a ser seguido, e naquela região normalmente você entra escoltado. Foram para uma aventura. A gente lamenta pelo pior.”
“Desde o primeiro dia, quando foi dado o sinal de alerta, a Marinha entrou em campo e, no dia seguinte, as Forças Armadas e a Polícia Federal. Tem quase 300 pessoas nessa procura, dois aviões, helicópteros, barcos”, afirmou Bolsonaro, em meio às críticas pela demora nas buscas.
Em resposta às pressões, o presidente afirmou, em uma rede social, existirem “oportunistas [que] só querem se promover com o caso”.
O pescador que teve sua prisão temporária pedida nesta quinta era defendido por dois procuradores dos municípios de Atalaia do Norte e Benjamim Constant. Ronaldo Caldas e Davi Barbosa de Oliveira deixaram o caso após o jornal O Globo revelar a ligação.
“Embora não tivesse relação com o cargo de procurador, visto que se tratava de uma causa particular, achei por bem deixar a defesa do Amarildo”, disse Davi Barbosa ao jornal carioca.
A Prefeitura de Atalaia do Norte informou que Caldas foi procurado pela família de Pelado para que ele defendesse o suspeito e que os serviços não tinham relação com a gestão municipal, pois ele “também atua como advogado particular”. De acordo com a administração, não há nenhum impedimento ou incompatibilidade “que prive o advogado de exercer suas atribuições”.
“Vale ressaltar que o município de Atalaia do Norte possui um número limitado de advogados, com apenas dois profissionais do ramo residindo na cidade”, diz o governo. A Prefeitura de Benjamin Constant não se pronunciou.
Os pescadores Jâneo e Churrasco também foram ouvidos, como testemunhas. Churrasco, inclusive, é quem Pereira e Phillips iriam encontrar no domingo, na comunidade de São Rafael. Como não o acharam, os dois seguiram viagem para a sede do município de Atalaia do Norte, mas, no meio do caminho, desapareceram.