Executiva do PSDB apoia Tebet, mas tucanos já preveem traições e disputas
Dirigentes do partido referendaram acordo com MDB; vice será tucano e o mais cotado é Tasso
A executiva do PSDB aprovou nesta quinta-feira (9) uma aliança com o MDB para apoiar a senadora Simone Tebet (MDB-MS) na eleição presidencial, mas tucanos já preveem traições e disputas em estados.
Com a decisão da executiva, o PSDB terá a vaga de vice na chapa da pré-candidata. O nome mais provável para o posto é o do senador Tasso Jereissati (CE).
A indicação do vice, porém, não foi debatida no encontro dos tucanos desta quinta. Embora Tasso tenha dito publicamente não querer ocupar a vaga, em conversas privadas afirma aceitar integrar a chapa caso seja a vontade da maioria do partido.
Além do senador, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, também citou a senadora Mara Gabrilli (SP) como opção de vice-presidente.
A opção do PSDB por apoiar a senadora emedebista ocorre após a desistência do ex-governador João Doria (SP) de disputar o Palácio do Planalto. Doria não tinha o apoio da cúpula do partido.
Araújo disse que a “alma do PSDB era oferecer uma candidatura própria”, mas que o melhor é oferecer uma alternativa ao país com a unidade entre os partidos e “fortalecer esse palanque nacional de quebra da polarização”.
Na reunião da executiva ampliada do PSDB, que inclui as bancadas da Câmara e do Senado, houve 46 votantes, dos quais 39 se manifestaram a favor da aliança com Tebet e seis, contra: os deputados Aécio Neves (MG), Eduardo Barbosa (MG), Paulo Abi-ackel (MG), Alexandre Frota (SP) e Valdir Rossoni (PR), além do senador Plínio Valério (AM).
O ex-prefeito de Porto Alegre e ex-deputado Nelson Marchezan Júnior (RS), vice-presidente do PSDB, se absteve.
Durante a reunião, além de Aécio, uma ala defendeu que os tucanos lançassem um candidato próprio à Presidência.
Pré-candidatos aos governos, respectivamente, de Minas Gerais e de Goiás, o deputado Marcus Pestana e o exgovernador Marconi Perillo participaram do encontro e acompanharam a posição de Aécio. No entanto, eles não têm voto na executiva.
Marchezan Júnior também defendeu um nome do PSDB na disputa ao Planalto. O exsenador José Aníbal (SP), por sua vez, pregou que o ideal seria os tucanos terem um candidato, mas optou por votar a favor de Tebet.
Aécio alega que o PSDB não pode perder protagonismo na disputa e deixar a liderança do processo para o MDB.
Derrotado na reunião executiva, o deputado mineiro avalia que o apoio a Tebet antecipará o movimento de “voto útil”, de clima de “segundo turno” no partido.
“Eu temo que o apoio a Tebet não tenha correspondência na base real do PSDB, que hoje se divide entre Lula e Bolsonaro”, disse o parlamentar, ex-presidente do PSDB.
Como mostrou a Folha ,em Mato Grosso do Sul o ex-secretário Eduardo Riedel (PSDB) será candidato à sucessão do governador tucano Reinaldo Azambuja e pode apoiar o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Já no Rio de Janeiro, está em curso uma negociação para que o vereador César Maia (PSDB) seja candidato a vicegovernador na chapa de Marcelo Freixo (PSB), apoiado pelo ex-presidente Lula (PT).
Aécio lembra que MDB e PSDB são adversários em alguns estados. Ele cita o caso de Pernambuco e Mato Grosso do Sul, em que os tucanos pediram apoio dos emedebistas, mas não deverão ter por divergências locais.
Em Goiás, Perillo será candidato ao governo, e o MDB apoiará a candidatura à reeleição de Ronaldo Caiado (União Brasil). No Rio Grande do Sul, o PSDB quer que o MDB abra mão da pré-candidatura de Gabriel Souza para que ele seja vice de Eduardo Leite, e condicionou a aliança com Tebet ao avanço do acordo no estado.
Aécio reclama que, por lá, as conversas podem ter avançado, mas ainda não há garantia da aliança com emedebistas em torno nome de Leite.
Leite indicou topar disputar o governo, mas ainda não anunciou que o fará nem recebeu apoio formal do MDB.
O presidente do PSDB, no entanto, minimiza a reclamação de Aécio e afirma que a tendência é de os partidos estarem juntos no palanque gaúcho. “Temos uma sinalização no Rio Grande do Sul e ele vai ser o laboratório do que estamos vivendo nacionalmente. O PSDB abriu mão de uma história própria para preservar alternativas ao eleitor brasileiro. A mesma coisa vai ser com o MDB do Rio Grande do Sul”, disse Araújo.
Parte da velha guarda do MDB gaúcho resistia ao acordo com os tucanos argumentando que o partido tem tradição na política local.
Araújo diz que divergências internas são naturais e alega que o placar da reunião da executiva, com maioria favorável a Tebet, deixa claro que o partido não está dividido.
Para ele, “eleições nacionais nunca verticalizam todo o processo”. “Vamos ter estados onde o próprio PSDB vai ter dificuldades de votar com Simone”, reconheceu o tucano.