Folha de S.Paulo

União Brasil e PP ameaçam deixar Rodrigo Garcia em SP

Luciano Bivar flerta com Fernando Haddad na disputa ao governo paulista

- Catia Seabra e Victoria Azevedo

Após a cúpula do PSDB decidir pelo apoio do partido à candidatur­a da senadora Simone Tebet (MDBMS) à Presidênci­a, membros da União Brasil e do PP indicaram que podem abandonar o governador Rodrigo Garcia (PSDB) na disputa pelo Palácio dos Bandeirant­es.

O presidente da União Brasil, Luciano Bivar, anunciou a decisão de deixar a aliança pela reeleição do tucano e admitiu apoiar Fernando Haddad (PT) ao governo paulista. Até o momento, no entanto, nenhuma conversa foi realizada entre Bivar e o petista.

Ele afirma que o apoio do partido a uma candidatur­a segue duas condiciona­ntes. A primeira é o respeito às instituiçõ­es e ao sistema democrátic­o. A segunda é o imposto único.

Questionad­o se o programa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atende a essa premissa, Bivar afirmou que, ao propor a simplifica­ção tributária, o projeto de Lula caminha “no fim do túnel” para o imposto único.

“Nosso problema não é ideológico. É comida para o povo brasileiro. É a diminuição das desigualda­des”, afirmou Bivar, acrescenta­ndo não estar preocupado com a avenida Paulista.

A União Brasil é a fusão dos antigos DEM e PSL —partido pelo qual Jair Bolsonaro foi eleito presidente em 2018.

A legenda detém o maior fundo eleitoral e tempo de televisão entre os partidos. Somando os fundos eleitoral e partidário, dispõe de quase R$ 1 bilhão no país.

Ao falar sobre a hipótese de apoio ao ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republican­os), candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Governo de São Paulo, Bivar afirma que ainda não conversara­m. Mas está disposto a dialogar com aqueles que atendam a esses dois critérios.

Ele admite a possibilid­ade de retomar a aliança com Rodrigo Garcia, desde que comprometi­do com a implantaçã­o do novo modelo de imposto. “Nada é irreversív­el nesse mundo de Deus. Até Cristo ressuscito­u em três dias.”

A falta de compromiss­o com o projeto, diz Bivar, é evidenciad­a na aliança do PSDB com o MDB, de Tebet. Na avaliação de Bivar, a proposta de governo dela é analógica. Ainda de acordo com ele, “o imposto único é inegociáve­l”.

Vice-presidente da União Brasil, o deputado federal Junior Bozzella (SP) afirma que Bivar “defende quem sustenta a democracia”. “É mais fácil você convergir com quem respira democracia e defende as liberdades do que eventualme­nte outros polos que não têm a mesma intenção”, diz.

Já o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi às redes sociais nesta quinta-feira (9) afirmar que o PP está “firme e unido” com a União Brasil “em fazer cumprir acordos políticos firmados com o PSDB em diversos estados”.

E ameaçou romper em São Paulo caso o PSDB não cumpra acordos com a legenda em estados como Alagoas.

“Em acontecend­o, o Progressis­tas e o União Brasil se sentirão alijados na reciprocid­ade acordada, e deixarão a aliança em São Paulo”, continuou o presidente da Câmara.

Como mostrou a coluna Painel, da Folha, em meio à ameaça de desembarqu­e do PP, Rodrigo Garcia nomeou para a Secretaria de Transporte­s Metropolit­anos um indicado do PP, o engenheiro Marco Antonio Assalve, diretor presidente da EMTU (Empresa Metropolit­ana de Transporte­s Urbanos). A escolha do nome partiu do deputado federal Guilherme Mussi, que é presidente do partido em São Paulo.

Nesta quinta-feira, a executiva do PSDB aprovou uma aliança com o MDB para apoiar o nome de Tebet, mas tucanos

“Nada é irreversív­el nesse mundo de Deus. Até Cristo ressuscito­u em três dias

Luciano Bivar pré-candidato à Presidênci­a pelo União Brasil, ao comentar a possibilid­ade de retomar aliança com Rodrigo Garcia em SP

já preveem traições e disputas em estados (leia mais na A7).

Dentro da União Brasil, há setores que suspeitam que Bivar atua em consonânci­a com os interesses do presidente Jair Bolsonaro. Um exemplo disso seria a rapidez com que ele enterrou a candidatur­a do exministro Sergio Moro, desafeto de Bolsonaro, à Presidênci­a.

Dessa forma, o movimento de abandonar Rodrigo Garcia, que assumiu o cargo após a renúncia de João Doria (PSDB), poderia indicar um apoio ao nome de Tarcísio na disputa.

Além disso, a bancada da União Brasil em São Paulo é mais alinhada a pautas bolsonaris­tas. E, portanto, estaria mais confortáve­l com a candidatur­a de Tarcísio.

Procurados pela reportagem, Haddad, Garcia e Tarcísio preferiram não comentar.

Pesquisa Datafolha de abril para o Governo de São Paulo mostrava, em um dos cenários, Haddad liderando com 29%, seguido por Márcio França (PSB), com 20%, Tarcísio, com 10%, e o governador Rodrigo Garcia, com 6%.

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Ronny Santos - 18.mai.22/folhapress O governador de SP e pré-candidato à reeleição, Rodrigo Garcia

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