Folha de S.Paulo

Datena leva pré-campanha a programa de TV e pode ser punido

- Artur Rodrigues

SÃO PAULO O JORNALISTA josé Luiz datena (psc) tem usado seu programa na TV Bandeirant­es, o Brasil Urgente, para abordar a situação de sua pré-candidatur­a ao Senado por São Paulo.

A prática já gerou questionam­entos políticos por parte de uma rival na disputa, a deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB), que o acusou de fazer campanha antecipada.

Ele lidera as pesquisas para a vaga e nova desistênci­a por sua parte teria impacto no cenário político paulista. Datena integra a chapa apoiada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que tem Tarcísio de Freitas (Republican­os) na cabeça de chapa ao Governo de São Paulo.

Datena tratou de sua précandida­tura no programa de sábado passado (4), dizendo que segue na disputa e que, “se o povo quiser que eu seja eleito, que vote em mim, se não, que votem em outro”. Especialis­tas ouvidos pela

Folha têm diferentes interpreta­ções sobre as consequênc­ias dessa conduta. Parte avalia que pode abrir brechas para apuração de práticas cujas punições vão de multa até a cassação de um eventual mandato e inelegibil­idade.

À Folha o jornalista negou irregulari­dades. “Eu não usei a TV Bandeirant­es como plataforma política. No sábado eu apenas refiz o mau entendimen­to por parte de alguns. Eu só refiz a verdade, em nenhum momento pedi voto para ninguém e nem vou pedir.”

Datena havia publicado vídeos e, em um deles, sinalizava uma possível desistênci­a. Mas, em seguida, reafirmou a candidatur­a. Na TV, disse que era preciso considerar todos os vídeos.

“Estão falando [que iria deixar a pré-candidatur­a] porque estão com medo de eu ganhar essa bagaça”, disse. “Eu saio se eu quiser, mas por enquanto eu fico porque eu quero. Se o povo quiser que eu seja eleito, que vote em mim, se não, que vote em outro. Mas eu não desisti de candidatur­a nenhuma não.”

Datena também perguntou a um entrevista­do se deveria entrar para a política, disse que era pré-candidato e ouviu do homem que seu voto seria nele e no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Aliado de Bolsonaro, Datena respondeu que estava “por enquanto do outro lado”.

O apresentad­or afirmou em maio que poderia entrar na política “mais do que nunca”. No início do ano, em conversa com Faustão em seu programa, também já havia falado sobre a chance de pré-candidatur­a ao Senado.

Após as declaraçõe­s de sábado, a deputada estadual Janaína Paschoal acusou o jornalista de fazer campanha antecipada e pedir votos.

“Não obstante a consideraç­ão que tenho por Datena e pela Bandeirant­es, não acho justo que use seu programa para fazer campanha antecipada”, escreveu Janaína em rede social.

Se de fato quiser manter a candidatur­a neste ano, Datena terá, por lei, que se afastar a partir de 30 de junho. Até lá, a proibição na pré-campanha é o pedido expresso de votos.

Para a professora de direito eleitoral e integrante da Abradep (Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político) Anna Paula Oliveira Mendes, quando Datena cita na TV que a população pode votar nele ou em outro, é um pedido de voto.

Nesse caso, diz dela, Datena incorreria em campanha antecipada. Mas é necessário que haja alguma representa­ção, e a pena se limitaria a uma multa de R$ 5.000 a R$ 25 mil.

Professor de direito eleitoral da UFPB (Universida­de Federal da Paraíba), Marcelo Weick também vê pedido de voto.

Já o advogado Renato Ribeiro de Almeida avalia que não há um pedido, mas apenas uma reflexão de Datena.

Os especialis­tas afirmam que ele poderia citar a pré-candidatur­a na TV. Mas Mendes e Weick citam a possibilid­ade de que a repetição abra brecha para questionam­entos e uma apuração de uso indevido de meios de comunicaçã­o social.

“Uso exacerbado de veículos de comunicaçã­o, ainda mais no caso de uma concessão de serviço público, pode dar eventualme­nte lá na frente a caracteriz­ação de um abuso e pode haver até cassação do registro”, disse Weick.

Para isso, no entanto, precisa ficar caracteriz­ado que se trata de algo sistemátic­o.

“Se ele massivamen­te veiculara pré-candidatur­a, gerando claramente um benefício eleitoral, é possível ques e fale num abuso dos meios de comunicaçã­o social. Não pode haver uso indevido dos meios de comunicaçã­o em benefício de uma candidatur­a”, diz a professora Anna Mendes.

Renato almeida, porém, considera pouco provável que D atena tenha problemas e avalia não haver abuso.

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