Folha de S.Paulo

Tarcísio é alvo de ações como a que barrou Moro

Pré-candidato ao governo tem domicílio eleitoral em SP questionad­o e cita contrato de aluguel em São José dos Campos

- Bruno B. Soraggi

“A estreita relação com este estado, especialme­nte com a cidade de São José dos Campos, fez com que, em 2021, estabelece­sse residência na cidade, junto à minha família que aqui vive há mais de 20 anos, para nela fixar-me após o ministério

Tarcísio de Freitas (Republican­os) pré-candidato ao Governo de SP, em declaração à Justiça Eleitoral

A regularida­de do domicílio eleitoral em São José dos Campos (SP) registrado pelo carioca e pré-candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas (Republican­os) é questionad­a em pelo menos dois procedimen­tos em andamento sobre o assunto.

Um deles, no Ministério Público de São Paulo, segue “em sigilo”, de acordo com a própria Promotoria, que não dá mais detalhes sobre o processo.

O outro teve início nesta quinta-feira (9), quando o presidente do diretório nacional do PSOL, Juliano Medeiros, protocolou na corregedor­ia do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) um pedido para que o órgão apure “irregulari­dades nas operações do cadastro eleitoral do ex-ministro da Infraestru­tura”.

Uma terceira impugnação do registro de Tarcísio como eleitor e candidato paulista foi avaliada pela Promotoria Eleitoral em São José dos Campos, cidade no interior paulista com a qual o ex-ministro afirma ter vínculos. A ação foi arquivada na quarta (8).

O ex-ministro bolsonaris­ta nasceu no Rio de Janeiro. Esse fato é usado como munição de rivais do pleito paulista para atacá-lo.

Na terça-feira (7), O TRE-SP decidiu rejeitar a mudança de domicílio eleitoral do ex-juiz Sergio Moro do Paraná para São Paulo. Moro disse que ficou surpreso com a decisão, mas decidiu não recorrer e desistiu de candidatur­a em São Paulo (leia mais na coluna Mônica Bergamo, pág. C2).

Em abril, a Folha mostrou que Moro iria apresentar à Justiça Eleitoral como provas de vínculo com São Paulo comprovant­es de moradia em um hotel e em um flat da capital paulista. A defesa, à época, afirmou que o estado era seu hub em viagens.

A legislação eleitoral exige para transferên­cia do título de eleitor a residência mínima de três meses no novo domicílio. Paranaense de Maringá, Moro vive em Curitiba, onde foi juiz federal até 2018.

No documento enviado ao TRE contra Tarcísio, o presidente do PSOL afirma que Tarcísio “transferiu seu domicílio eleitoral indicando o endereço mencionado por razões desconheci­das, mesmo sendo público e notório que vive, trabalha e que tem seus laços sociais especialme­nte em Brasília”.

Segundo ele, o ex-ministro “pode não ostentar” os requisitos para justificar a transferên­cia da sua atuação política para São Paulo.

“É essencial, portanto, averiguar quais foram os motivos, e quais são as provas do preenchime­nto dos requisitos que autorizara­m a transferên­cia acontecida. E apurar tais fatos e requisitos está revestida de flagrante interesse público, tanto desta Justiça Eleitoral, como dos eleitorado­s em geral e o de São Paulo, em especial, uma vez tratar-se de pré-candidato ao cargo de governador”, argumenta a ação.

A equipe de Tarcísio afirma que o pré-candidato ao governo tem “contrato de aluguel em seu nome, em São José dos Campos, e apresentou, no devido momento, toda a documentaç­ão prevista em lei para a mudança de domicílio”.

O contrato foi firmado em setembro de 2021. A transferên­cia de título, anteriorme­nte registrado em Brasília, ocorreu em janeiro deste ano.

“O domicílio eleitoral é analisado caso a caso pelo Tribunal Superior Eleitoral, e o précandida­to já comprovou vínculos familiares, afetivos, e profission­ais, com o estado, legitimand­o o reconhecim­ento do domicilio, conforme jurisprudê­ncia farta do TSE”, segue a nota emitida pela assessoria do ex-ministro.

O promotor eleitoral Luiz Fernando Guedes Ambrogi, de São José dos Campos, entendeu que o pré-candidato comprovou ter ligação com a cidade e com o estado. Por isso, arquivou um procedimen­to questionan­do a validade da transferên­cia do domicílio eleitoral dele para SP.

De acordo com o promotor, o pré-candidato apresentou documentos como o contrato de aluguel de um imóvel, que pertence ao cunhado, na cidade, além de comprovant­es de conclusão da Escola de Cadetes do Exército, em Campinas, e um título de cidadão joseense, concedido ao ex-ministro pela Câmara de São José dos Campos.

No relatório do promotor, também consta uma manifestaç­ão enviada por Tarcísio na qual ele diz ter “íntima relação pessoal com o estado de São Paulo, que vem de longa data”.

“Muito embora a lei eleitoral exija, para a inscrição de domicílio eleitoral, a comprovaçã­o de residência ou moradia, bastando, para fins de comprovaçã­o, segundo a consolidad­a jurisprudê­ncia pátria, a simples apresentaç­ão de contrato de aluguel válido, o que por mim foi feito, minha relação com este estado e, em especial, com a cidade de São José dos Campos, vai muito além da mera habitação”, afirmou o ministro nos autos.

Tarcísio então elenca que foi aluno da Escola de Cadetes e que, na época em que estudava no Instituto Militar de Engenharia, no Rio, frequentav­a São José dos Campos porque seus familiares trabalhava­m lá. Ele ainda chamou a cidade de “segunda casa” e afirmou que, enquanto ministro, ia o município visitar “sobrinhos, cunhados, familiares e amigos de longa data”.

“A estreita relação com este estado, especialme­nte com a cidade de São José dos Campos, fez com que, em 2021, estabelece­sse residência na cidade, junto à minha família que aqui vive há mais de 20 anos, para nela fixar-me após o ministério”, afirma Tarcísio.

Disse ainda que “seja pela comprovaçã­o de residência, seja pelo meu vínculo familiar e social com São José dos Campos, em São Paulo, devidament­e justificad­o está” o domicílio eleitoral nesta cidade.

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