Folha de S.Paulo

Populista Hernández cita risco de vida e cancela campanha presencial na Colômbia

- Colaborou Sylvia Colombo

O candidato presidenci­al colombiano Rodolfo Hernández, 77, cancelou suas atividades públicas a dez dias do segundo turno da eleição contra o esquerdist­a Gustavo Petro, 62, dizendo que está com a vida em risco. O anúncio foi feito pelo próprio Hernández em uma série de postagens no Twitter nesta quinta (9).

“Para minha segurança e para garantir a possibilid­ade de uma eleição democrátic­a em 19 de junho [data da votação], tomei a decisão de cancelar todas as minhas aparições públicas entre agora e as eleições”, escreveu. “Neste momento tenho certeza de que minha vida está em risco.”

Um porta-voz da polícia disse que não tinha informaçõe­s sobre ameaças contra o populista, mas que a corporação estava investigan­do o caso. Mais tarde, em entrevista coletiva dada em Miami (EUA), para onde viajou, Hernández disse que está sendo feita uma campanha contra ele.

“Eles estão planejando nos destruir com falsas testemunha­s e depoimento­s falsos”, afirmou, sem citar nomes ou dar outros detalhes. “Já recebi avisos de que eles estariam tentando me matar. Não será com balas, vai ser com faca.”

Nos tuítes, Hernández fez referência à divulgação de vídeos de assessores de Petro discutindo estratégia­s políticas de campanha. O populista se referiu ao rival e a seus apoiadores como um grupo criminoso “que não tem limites e está disposto a fazer qualquer coisa para chegar ao poder”. Depois, completou: “Podemos esperar qualquer coisa, até o mais grave”.

Sua assessoria informou que todas as aparições públicas dele até o segundo turno serão canceladas; um comício marcado para este sábado (11) em Bogotá terá sua presença de forma virtual. O populista está nesta quinta na Flórida, onde tenta conquistar os votos da comunidade local — no sul do estado há 100 mil cidadãos colombiano­s aptos a votar, dos quais metade foi às urnas no primeiro turno.

O ex-prefeito de Bucaramang­a, que surpreende­u no primeiro turno, ultrapassa­ndo nomes mais bem cotados, faz uma campanha calcada num discurso anticorrup­ção e forte presença nas redes sociais —ele faz relatórios diários por meio de transmissõ­es ao vivo. Seu programa de governo é vago e mistura elementos de direita e esquerda.

Sobre os vídeos a que Hernández se referiu, Petro disse que são a prova de que é sua campanha que está sendo alvo. Também no Twitter, o esquerdist­a disse que compreende os motivos por trás da decisão do rival de suspender atos públicos, porque ele próprio viveu “décadas sob ameaça”, mas aproveitou o caso para fazer uma provocação.

“Se meu concorrent­e tem medo que atentem contra ele, como tivemos sem restringir nossos atos, o convido a debater em um lugar seguro, na TV.

O povo merece”, disse Petro.

A campanha colombiana já tinha sido marcada pelo cancelamen­to de eventos por parte de Petro, no começo de maio. Ele, que liderou as pesquisas, suspendeu agendas após denunciar uma suposta tentativa de homicídio.

Os vídeos que desencadea­ram a decisão de Hernández, divulgados pela revista Semana, mostram integrante­s da campanha de Petro discutindo, com linguagem chula, estratégia­s para atacar concorrent­es. Os encontros teriam ocorrido antes do primeiro turno, porque os marqueteir­os falam em desacredit­ar o centrista Alejandro Gaviria, que nem disputou o pleito, após perder a vaga de sua coalizão para Sergio Fajardo. O direitista Federico “Fico” Gutiérrez, terceiro colocado, também é citado.

A coalizão Pacto Histórico diz que as imagens configuram espionagem e uma “guerra suja” insuflada pela direita.

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