Bolsonaro indica chefe da Serpro para o conselho da Petrobras
Governo tentou manobra para evitar nova assembleia e agilizar troca na estatal, mas não conseguiu
Depois de fracassar em tentativa de tentar destituir José Mauro Coelho da presidência da Petrobras sem necessidade de assembleia de acionistas, o governo anunciou nesta quinta-feira (9) uma lista de novos indicados para o conselho de administração da estatal —composta em sua maioria por executivos que ocupam cargos públicos.
Para o cargo de presidente do colegiado, foi escolhido Gileno Gurjão Barreto, o atual presidente da estatal de processamento de dados Serpro, que chegou a ser comandada pelo indicado do governo a substituir Coelho na Petrobras, Caio Mario Paes de Andrade.
Barreto substituiu Paes de Andrade na presidência da Serpro, e ambos trabalhavam na mesma área do governo, a digitalização dos serviços públicos, área sob o guarda-chuva do ministro Paulo Guedes (Economia).
A troca do conselho é necessária porque o presidente Jair Bolsonaro (PL) resolveu demitir Coelho, que havia sido indicado pelo ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, destituído logo após o reajuste mais recente do preço do diesel.
O presidente da Petrobras tem que ser membro do conselho de administração da companhia e, por isso, sua substituição exigirá nova eleição para escolher oito nomes do colegiado que foram eleitos pelo mesmo sistema de voto que Coelho.
O governo tentou na quarta (8) uma manobra para tentar evitar nova assembleia e agilizar a troca, solicitando ao conselho atual que destituísse Coelho. Em reunião, porém, o assunto chegou a ser debatido, mas sem deliberação.
A necessidade de assembleia atrasa os planos de Bolsonaro para ter um comando da estatal mais alinhado com o governo, já que são necessários ao menos 30 dias entre a convocação e a realização do encontro.
A lista divulgada nesta quinta confirma expectativas do mercado com relação aos planos de Bolsonaro: tem menos membros independentes, ligados aos mercados financeiro e de petróleo, e mais pessoas com ligação ao governo.
Entre os indicados, estão Ricardo Soriano de Alencar, procurador-geral da Fazenda Nacional (integrante da equipe do ministro de Guedes); Jonathas Assunção Salvador Nery de Castro, secretário-executivo da Casa Civil; e Ieda Aparecida Moura Gagni, presidente do conselho do Banco do Brasil e com passagem por diversos órgãos públicos.
Outro dos indicados é Edison Antonio Costa Britto Garcia, atual presidente do conselho de administração da CEB (Companhia Energética de Brasília), controlada pelo governo Ibaneis Rocha, aliado de Bolsonaro. Dois nomes já estavam no conselho, Ruy Flacks Schneider e Márcio Andrade Weber, atual presidente do colegiado.
O comunicado do MME (Ministério de Minas e Energia) inclui ainda na lista os nomes de João José Abdalla Filho e Marcelo Gasparino, que haviam sido eleitos por investidores privados na assembleia mais recente da Petrobras.
O primeiro, conhecido como Juca Abdalla, é o maior acionista privado da estatal e conseguiu apoio de outros investidores para avançar sobre uma das cadeiras do governo no conselho neste ano. Gasparino é seu parceiro e costuma representá-lo em conselhos de administração.
A citação aos dois levantou questionamentos entre conselheiros da Petrobras, já que costumavam figurar como antagonistas do governo em disputas por vagas no conselho da estatal. A Petrobras ainda não divulgou detalhes das indicações.
Com Abdalla e Gasparino, a lista do Ministério de Minas e Energia tem dez nomes, mas o governo só concorre a 8 das 11 cadeiras do conselho. Outras duas são ocupadas por representantes de minoritários e uma pertence a representante dos trabalhadores.