Folha de S.Paulo

Zona do euro indica que vai elevar os juros acima de zero pela 1ª vez em uma década

- Tradução de Paulo Migliacci

amsterdã e londres | financial times A presidente do BCE (Banco Central Europeu), Christine Lagarde, buscou rebater nesta quinta (9) as preocupaçõ­es de que a instituiçã­o não estava fazendo o suficiente para combater a inflação, que vem batendo recordes de alta, e anunciou planos de elevar a taxa de juros para acima de zero pela primeira vez em uma década, em setembro.

O BCE surpreende­u os mercados depois de sinalizar, depois da reunião de seu conselho de política monetária, em Amsterdã, que provavelme­nte elevará os juros em 0,5% em setembro, além do aumento de 0,25% já previsto para julho.

Frederik Ducrozet, diretor de pesquisa macroeconô­mica da Pictet Wealth Management, disse que “eles inverteram o ônus da prova: ou a inflação melhora ou eles decretarão um aumento de 50 pontos básicos” (0,5%).

Críticos vêm acusando o BCE de estar defasado em suas medidas de combate, depois que a inflação atingiu a marca de 8,1% anuais —mais de quatro vezes acima da meta de 2% ao ano do banco central—, nos 12 meses até maio. Os planos mais recentes alinharão a política monetária da zona do euro mais estreitame­nte à do Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos, e à do Banco da Inglaterra (banco central britânico), que já elevaram os juros diversas vezes neste ano. Isso deixaria os bancos centrais do Japão e da Suíça como as duas últimas autoridade­s monetárias importante­s a ainda manter taxas negativas de juros.

Lagarde e Philip Lane, o economista-chefe do BCE, haviam declarado anteriorme­nte que aumentos de 0,25% eram “o padrão” para as reuniões do comitê de política monetária em julho e setembro.

No entanto, a presidente do BCE enfatizou que os riscos em termos inflacioná­rios eram “principalm­ente de alta”. Dirigentes do banco central estão cada vez mais preocupado­s com a possibilid­ade de que os aumentos dos salários e as dificuldad­es continuada­s nas cadeias mundiais de suprimento levem a inflação a fincar raízes.

A decisão de anunciar com antecedênc­ia o aumento de julho na taxa de juros e o aumento provável de 0,50% em setembro foi tomada por unanimidad­e, e os defensores de uma linha mais branda se contentara­m com evitar uma postura mais dura já para o primeiro aumento de juros, em troca de deixar a porta aberta a medidas mais fortes em setembro.

“Muitas das ferramenta­s de que dispomos se destinam a produzir mais inflação, mas agora estamos na situação oposta e precisamos fazer com que ela caia”, disse Lagarde, acrescenta­ndo que o BCE “manteria o rumo e a determinaç­ão”.

A última vez que o banco central aumentou os juros foi em 2011, e sua taxa de redepósito no momento é de 0,5% negativo, depois de cair a zero em julho de 2012 e mergulhar em território negativo em 2014, quando a região enfrentou uma crise de dívida.

Os custos de captação dos governos subiram em resposta ao anúncio de uma política monetária mais dura. O título de dez anos do Tesouro alemão subiu 0,09% ponto percentual, para 1,45%. Papéis de maior risco passaram por altas mais fortes de taxa, com o título italiano de dez anos registrand­o alta de 0,25% em sua taxa, para 3,62%.

Tal como planejado, o banco anunciou que encerraria seu programa de aquisição de € 20 bilhões em ativos por mês no começo de julho.

O BCE anunciou em comunicado que seu conselho de política monetária “pretende elevar as principais taxas de juros do banco central em 0,25 ponto percentual em sua reunião de política monetária em julho”. O texto acrescenta­va que, se as perspectiv­as inflacioná­rias continuare­m como estão ou se deteriorar­em, “um aumento maior será apropriado na reunião de setembro”.

Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu e hoje primeiro-ministro italiano, declarou, antes da reunião do conselho monetário, que a alta da inflação na União Europeia “não era completame­nte um sinal de superaquec­imento, mas sim o resultado de uma série de choques de suprimento” Ele disse que “continua a haver capacidade excedente na economia”.

 ?? John THYS/AFP ?? A presidente do BCE, Christine Lagarde, durante entrevista em Amsterdã
John THYS/AFP A presidente do BCE, Christine Lagarde, durante entrevista em Amsterdã

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