Folha de S.Paulo

Novo foi estruturad­o para atuar como um time

João Amoêdo responde à coluna ‘Partido Novo entra em nova fase, menos personalis­ta’, de Helio Beltrão, publicada no dia 8

- Engenheiro e administra­dor de empresas, foi presidente do Partido Novo e candidato à Presidênci­a da República pela legenda em 2018 João Amoêdo

Estamos a quatro meses das eleições nacionais, com resultados ainda incertos. Mas, se queremos viver em um regime democrátic­o, ver o nosso país progredir e oferecer oportunida­des para todos, é fundamenta­l contarmos com instituiçõ­es fortes.

O presidente Jair Bolsonaro faz o oposto, procurando sempre que possível enfraquece­r as instituiçõ­es. Ele foi incapaz de entregar as mudanças que prometeu, se uniu ao fisiologis­mo do centrão para sobreviver politicame­nte e agora, com a proximidad­e das eleições e o seu alto índice de rejeição, questiona o sistema eleitoral e busca aprovar subsídios para tentar reverter o fracasso da sua gestão. Sua única prioridade é se manter no poder.

Com esse objetivo, o presidente não só promove ataques diretos contra instituiçõ­es ou pessoas que ousam criticá-lo como incentiva seus apoiadores a fazer o mesmo. A mentira —e a sua repetição— é o método utilizado.

Em março de 2020, no início da pandemia, afirmei que a melhor solução para o Brasil seria a renúncia de Bolsonaro. No mês seguinte, passei a defender diariament­e o seu impeachmen­t. Assim, me tornei odiado e alvo de todos aqueles que, por convicção ou oportunism­o, apoiam o “mito”.

É nesse contexto que, ocasionalm­ente, surgem artigos mentirosos, mas que são facilmente desmontado­s pelos fatos. Normalment­e costumo ignorá-los e não responder, porém, em respeito aos leitores desta Folha e aos dirigentes do Novo, que foram afrontados pelo articulist­a, decidi me pronunciar sobre o texto “Partido Novo entra em nova fase, menos personalis­ta”, publicado na quarta-feira (8).

Uma das falsas narrativas é que controlo o Partido Novo e atuo de forma personalis­ta. Obviamente, nada mais falso.

O Partido Novo, desde sua concepção, em 2010, foi pensado e estruturad­o para funcionar como uma instituiçã­o. Não acredito em nenhuma organizaçã­o que possa ter sucesso sem atuar como um time, com um propósito claro e com uma cultura de princípios e valores. Foi assim que atuei na vida privada e é assim que atuo na vida publica. No Novo, quem deveria mandar no partido é o seu estatuto. Ao presidente e diretórios, cabe cumpri-lo.

Em março de 2020, mesmo com ainda três anos e meio de mandato, renunciei à presidênci­a do Novo. Após a minha saída, o comando do partido foi assumido por Eduardo Ribeiro, que, em outubro deste ano, mês das eleições, completará dois anos e sete meses de mandato. Será o presidente da instituiçã­o que por mais tempo ocupa o cargo.

Se de fato desejasse me manter à frente do Novo, não faria sentido renunciar —especialme­nte se tivesse planos eleitorais. Teria muito mais visibilida­de como presidente do partido do que como filiado.

Em relação à afirmação de que “dava as cartas” no partido, os fatos comprovam exatamente o contrário. Caso ela fosse verdadeira, diversas ações seriam diferentes, como:

- O Novo teria se declarado oposição ao governo Bolsonaro já em março de 2020.

- O partido teria trabalhado pelo impeachmen­t do presidente a partir de abril de 2020. Isso não só seria o certo a ser feito como pouparia os candidatos do Novo de constantem­ente responder à imprensa se o partido é ou não linha auxiliar do governo Bolsonaro.

- O processo seletivo do Novo não aprovaria nenhum candidato para as eleições de 2022 que não seguisse as normas, as resoluções e as diretrizes partidária­s, como a que estabelece­u, em março de 2021, que o Novo é oposição ao governo Bolsonaro.

- Divulgaria mensalment­e a quantidade de filiados totais e a quantidade de filiados pagantes, visto que esses são os principais indicadore­s da qualidade da gestão do partido.

- Vetaria a existência de um “voto de minerva” dando mais poder ao presidente, como foi proposto e implementa­do pelo atual gestor.

Questões estratégic­as no Novo, em todas as administra­ções anteriores, sempre foram decididas pelo colegiado e de acordo com os ideais e o estatuto do partido.

Mas nada disso aconteceu. A gestão do partido, inclusive com a utilização do “voto de minerva”, vem sendo exercida de forma ampla e completa por Eduardo Ribeiro, que afirma frequentem­ente que o partido está forte e unido para as eleições de 2022. Portanto, os resultados do Novo no pleito deste ano, sejam eles positivos ou não, devem ser atribuídos aos atuais gestores partidário­s.

No Novo, sigo como fundador e, desde o início de 2020, apenas como filiado.

Uma das falsas narrativas é que controlo o Partido Novo e atuo de forma personalis­ta. Obviamente, nada mais falso. O Novo, desde sua concepção, em 2010, foi pensado e estruturad­o para funcionar como uma instituiçã­o

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