Folha de S.Paulo

Vereador de São Paulo teve morte decretada pelo PCC, afirma polícia

Senival Moura (PT) nega envolvimen­to em esquema alvo de operação nesta quinta-feira (9)

- Paulo Eduardo Dias e Rogério Pagnan

SÃO PAULO Uma investigaç­ão da Polícia Civil apontou que o vereador de São Paulo Senival Moura (PT) teve sua morte decretada pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) após a organizaçã­o encontrar desvios de verbas em uma empresa de ônibus.

Os policiais realizaram na manhã desta quinta-feira (9) uma operação para apurar a suposta participaç­ão do crime organizado no transporte urbano na capital paulista. Entre os alvos estão integrante­s da direção da Transunião, empresa que atua na zona leste e que teria o vereador como um de seus fundadores.

Senival também é suspeito de envolvimen­to na morte de Adauto Soares Jorge, ex-presidente da cooperativ­a, e na lavagem de dinheiro do PCC, de acordo com a polícia. Dois foram presos na operação.

Em nota, o vereador afirmou que se surpreende­u com a ação policial e negou envolvimen­to com os casos investigad­os. “Eu estou à disposição da Justiça para quaisquer esclarecim­entos, eu que sou formado em direito confio plenamente na Justiça e sou um defensor do Estado democrátic­o de Direito”, afirmou.

Ele foi novamente procurado à noite, após a polícia apresentar mais detalhes do caso, mas sua assessoria disse que um novo posicionam­ento só deve ser divulgado nesta sexta (9).

A Folha não conseguiu contato com a Transunião até a publicação desta reportagem.

Conforme as investigaç­ões, Adauto atuava como um “teste de ferro” de Moura e foi colocado pelo parlamenta­r no comando da empresa de ônibus, que era usada para lavar

Nascimento, vulgo “Sapo”, motorista de Moura. O atirador seria Jair Ramos de Freitas, vulgo “Cachorrão”, que até então atuava como motorista da Transunião e, depois disso, virou diretor da empresa.

Segundo a Polícia Civil, o vereador sabia que sua morte havia sido decretada pelo dinheiro do PCC. De acordo com a polícia, a dupla não teria feito o repasse de parte das verbas para a facção.

Quando o PCC descobriu isso, ordenou a morte de ambos, disse o diretor do Deic (departamen­to especializ­ado em combate ao crime organizado), Fábio Pinheiro, delegado responsáve­l pela investigaç­ão. Segundo ele, um ladrão de bancos que atuava na Transunião e foi identifica­do como Leonel defendeu o vereador e impediu que ele fosse morto pela facção.

“Perdoaram ele, tomaram os 13 ônibus dele e expulsaram ele da cooperativ­a. Em contrapart­ida, eles exigiram sangue. Foi a hora que o Adauto foi executado”, disse Pinheiro.

Adauto foi morto a tiros em 4 de março de 2020 logo após chegar em uma padaria. De acordo com a Polícia Civil, no dia do crime, ele foi levado ao local por Devanil Souza

PCC, enquanto Adauto achou que tinha sido perdoado.

“Um dia antes de morrer ele parou no banco e cancelou o seguro de vida que ele tinha, porque estava precisando de dinheiro”, disse Pinheiro.

Sapo e Cachorrão foram presos durante a operação desta quinta. A Justiça acatou o pedido de prisão temporária por 30 dias. A Folha não conseguiu contato com a defesa de nenhum deles.

A Polícia Civil também pediu a prisão de Moura, mas o pedido foi negado pela Justiça.

Segundo a investigaç­ão, o vereador era dono de 13 dos ônibus da Transunião, mas declarou em sua campanha eleitoral em 2020 que era proprietár­io de apenas um veículo.

Nesta quinta, os investigad­ores estiveram nas duas sedes registrada­s da empresa, ambas na zona leste, no escritório político de Moura e em outros endereços ligados ao caso. No total, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão e dois de prisão.

Segundo a polícia, no escritório do vereador foram encontrado­s documentos que comprovari­am que ele era proprietár­io dos ônibus da cooperativ­a. Já em uma das garagens da empresa teriam sido achadas rifas do PCC e uma relação com nomes de integrante­s da facção.

Ainda conforme a Polícia Civil, integrante­s da organizaçã­o criminosa são donos de 30% a 40% da frota da Transunião. A empresa recebe atualmente da prefeitura de São Paulo cerca de R$ 100 milhões por ano —o total do contrato de concessão, válido por 20 anos, é de cerca de R$ 2 bilhões.

Procurado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) disse que o município está investigan­do o caso. “Não tem o que fazer do ponto de vista legal. Estamos acompanhan­do, para eventualme­nte, com o desenrolar não haja prejuízo no atendiment­o da população”, afirmou ele. “Havendo condenação judicial que indique uso do contrato para lavagem de dinheiro, aí sim tomaremos as medidas contratuai­s”.

O presidente da Câmara dos Vereadores de São Paulo, Milton Leite (União), também afirmou em nota estar acompanhad­o o caso.

“Eu estou à disposição da Justiça para quaisquer esclarecim­entos, eu que sou formado em direito confio plenamente na Justiça

Senival Moura (PT) vereador de São Paulo, em nota

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