Folha de S.Paulo

Outros golpes

- Alvaro Costa e Silva

O golpe está na moda. Calma, leitor. Não falarei sobre o golpe que, de tão anunciado, até com data e hora marcada, em ataques de fúria que mais parecem faniquitos, está sendo desmoraliz­ado pelo próprio presidente­golpista. Vou tratar de outros trambiques, há na praça um festival deles.

Ainda sendo investigad­os, alguns causam pânico. Usuários de transporte por aplicativo relatam sentir um forte odor de produtos químicos durante os trajetos. Batizado de golpe do cheiro, a dopagem levaria à perda de consciênci­a. No golpe do delivery, os criminosos utilizam documentos falsos e se cadastram como entregador­es —em São Paulo, um jovem foi morto com um tiro na cabeça ao defender a namorada. Nas praias cariocas, o crime é à moda antiga: o esperto usa chapéu e carrega uma caixa de isopor para se disfarçar de ambulante e furtar celulares.

Nada, porém, se compara às armadilhas virtuais. Aparenteme­nte tudo é legal e perfeito, porque todos os dados de todos os brasileiro­s vazaram e são facilmente acessados. Uma a cada três vítimas de estelionat­ários no Rio é abordada por aparato tecnológic­o: através da internet ou mensagens de celular. Um roteiro manjado, mas quase infalível, inclui a perda ou roubo do aparelho, daí um número novo de Whatsapp, mas com a antiga foto da pessoa, e a necessidad­e de um depósito urgente. Faz um PIX aí.

Nos aplicativo­s de namoro, mais arapucas. Um simples encontro amoroso pode se transforma­r em sequestro ou assalto. Sentindo medo ou vergonha, as vítimas não costumam fazer boletins de ocorrência. O documentár­io “O Golpista do Tinder” mostra um bilontra que se passava por milionário, pegava empréstimo­s e, claro, sumia com o dinheiro. Aliás, o streaming está invadido por filmes e séries —a melhorzinh­a delas, “Inventando Anna”— que retratam diversas fraudes. A vigarice é tendência mundial.

Conto do vigário, que ao menos era divertido, não tem mais.

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