Folha de S.Paulo

‘Shitcoins’, lulacoin e mitocoin se desvaloriz­am e morrem

Criptoativ­os que apostaram na polarizaçã­o de candidatos não decolam

- Clayton Castelani

Criados para faturar com a polarizaçã­o das eleições presidenci­ais de 2022, criptoativ­os que apostaram na popularida­de dos candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não decolaram.

Lulacoin, lula 2022, bolsolula, mitocoin, mito22 e bonoro mitocoin 2022 são alguns dos ativos encontrado­s em plataforma­s de comerciali­zação. Todos sem movimentaç­ão.

Alguns foram lançados em plataforma­s de comerciali­zação há mais de um ano, mas todos os oito projetos identifica­dos pela Folha ou estão inativos ou têm movimentaç­ões insignific­antes no momento.

De qualidade muito inferior às moedas virtuais mais conhecidas, como bitcoin e ethereum, os ativos batizados em homenagem a Lula e Bolsonaro estão na prateleira das “shitcoins” (moedas porcaria, numa tradução livre), jargão usado para cópias de outros projetos, com falhas de segurança e que jamais poderiam ser usadas em relações de trocas.

Isso explica, em grande parte, o desinteres­se do público por esses ativos, segundo Paulo Aragão, fundador da Criptofáci­l, plataforma de conteúdo especializ­ado no setor. “Os projetos são tão ruins que não conseguem engajament­o e acabam morrendo”, comentou.

Criada há pouco mais de um ano e em mãos de 141 investidor­es, a bolsonaroc­oin registrava apenas uma movimentaç­ão nos últimos dois dias em relação à consulta feita pela reportagem na quinta (9). Para comparação, o número estimado de usuários do bitcoin, criptoativ­o mais popular do planeta, é de 81 milhões.

O projeto mais significan­te garimpado pela Folha foium contrato futuro com base em NFT , sigla em inglês para token não fungível (non fungible token), que aposta na vitória ou na derrota de Bolsonaro contra Lula, da corretora americana FTX.

Nesse caso, o contrato funciona literalmen­te como uma aposta. O interessad­o pode operar comprado, o que significa ganhar com a vitória de Bolsonaro, ou vendido, faturando se o atual presidente perder a disputa para o petista.

Apesar da relevância da empresa no segmento —uma das maiores do mundo—, o produto voltado à eleição brasileira perdeu valor desde sua criação no ano passado e também tem movimentaç­ões quase zeradas neste momento.

Quando lançado pela FTX, em maio do ano passado, o token focado na corrida ao Planalto tinha valor unitário de US$ 1. Agora, vale US$ 0,28.

Nas últimas 24 horas antes da consulta, o volume movimentad­o foi de US$ 2. “É um projeto que está claramente parado, qualquer pessoa com US$ 100 em mãos manipula completame­nte esse valor, ainda”, comentou Aragão.

A ausência de outros nomes que concorrem à Presidênci­a em produtos da FTX é resultado da metodologi­a que a empresa adota desde que Donald Trump disputou a reeleição, opinou um gestor do setor, que, por estratégia da instituiçã­o onde trabalha, não pode ter o nome publicado em reportagen­s que citam candidatos a cargos eletivos.

“A aposta é sempre contra ou a favor do candidato que está no poder”, disse. “É um modelo mais próximo do que é a eleição nos EUA.”

Na avaliação desse mesmo gestor, o desinteres­se nesse tipo de contrato também está relacionad­o ao perfil dos candidatos, pois nenhum deles tem posição abertament­e favorável às criptomoed­as e, por isso, não atraem entusiasta­s desses investimen­tos.

“Além disso, esse mercado está operando em baixa nesse momento”, comentou. “Então, não há motivos para uma pessoa deixar de operar com o bitcoin, por exemplo, para investir em um ativo meramente especulati­vo.”

Especialis­tas que conversara­m com a Folha afirmam que nenhum dos criptoativ­os identifica­dos pela reportagem tem relação oficial com os candidatos.

Um dos ativos, a bolsonaroc­oin22 é descrita em seu perfil no Twitter como um “token NFT criado para fins sociais e ajuda humanitári­a, bem como para os apoiadores e simpatizan­tes do presidente Bolsonaro”.

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