Folha de S.Paulo

Fez da viola e do irmão Beija-flor seus eternos companheir­os

- Fábio Pescarini coluna.obituario@grupofolha.com.br JOSÉ WILSON MENDES GONÇALVES (1946-2022) MEYER WAISBERG Aos 83, divorciado. Sexta (10/6). Cemitério Israelita Butantã, Jardim Educandári­o, São Paulo (SP)

SÃO PAULO A história de José Wilson Mendes Gonçalves poderia se confundir com a de Mirosmar José de Camargo, caso seu pai fosse como o do outro cantor, mostrado no filme famoso.

Pingo de Ouro, assim como Francisco, o pai de Zezé di Camargo, foi um sonhador obstinado pela música caipira. A diferença no seu caso é que ele mesmo se tornaria sucesso nas rádios e palcos do interior do país e não o filho.

José Wilson era o mais velho de sete irmãos na roça em Varzelândi­a (MG). Ali, já pensava em um dia ser cantor. Com a família se mudou para Londrina e lá montou a dupla Pingo de Ouro e Beijaflor com o irmão Anísio. O parceiro logo desistiu e outro irmão, Romildo, 13 anos mais jovem, se tornou o novo Beija-flor da dupla, que cantou e tocou modas de viola Brasil afora por mais de 40 anos.

A família mais uma vez mudou de estado e fixou residência em Jundiaí (SP), onde os dois cantores trabalhara­m na indústria, até que decidiram viver apenas de música.

No início, cantavam e tocavam em um clube aos sábados e em uma churrascar­ia aos domingos. Foi o dono do restaurant­e, aliás, que em 1988 ajudou a tirar do papel o sonho do primeiro disco da dupla, “Gaúcho Velho”, e emprestou o Mercedes-benz da foto da capa do LP.

“Meu pai colocou o disco embaixo do braço e viajou o Brasil batendo na porta de rádios”, lembra a psicóloga Elisangela Mendes Gonçalves Momenté, 42, filha mais velha.

Foi a Rádio Nacional de Brasília, conta ela, que abriu de vez as portas para o sucesso da dupla. A partir dali, os irmãos começaram a cantar em festas de peões, festivais e na TV. Puxaram o modão no programa Viola, Minha Viola, da TV Cultura, apresentad­o por Inezita Barroso e Moraes Sarmento.

Nas andanças da vida, Pingo de Ouro e Beija-flor se apresentar­am com sertanejos famosos, como Sérgio Reis, Tonico e Tinoco, João Mineiro e Marciano, entre tantos outros, mais os anônimos que levaram para cima do palco.

De cantores de rádio, os dois viraram apresentad­ores de programa da madrugada de música sertaneja em Jundiaí. Em 2007 a dupla resolveu encostar viola e violão. Pingo de Ouro passou por um tratamento de câncer e nunca deixou de cantar sertanejo raiz para sua grande família.

O músico morreu no último dia 6. Deixa a mulher, três filhos, oito netos, 500 letras de músicas, três discos e a lembrança da viola chorosa.

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