Fez da viola e do irmão Beija-flor seus eternos companheiros
SÃO PAULO A história de José Wilson Mendes Gonçalves poderia se confundir com a de Mirosmar José de Camargo, caso seu pai fosse como o do outro cantor, mostrado no filme famoso.
Pingo de Ouro, assim como Francisco, o pai de Zezé di Camargo, foi um sonhador obstinado pela música caipira. A diferença no seu caso é que ele mesmo se tornaria sucesso nas rádios e palcos do interior do país e não o filho.
José Wilson era o mais velho de sete irmãos na roça em Varzelândia (MG). Ali, já pensava em um dia ser cantor. Com a família se mudou para Londrina e lá montou a dupla Pingo de Ouro e Beijaflor com o irmão Anísio. O parceiro logo desistiu e outro irmão, Romildo, 13 anos mais jovem, se tornou o novo Beija-flor da dupla, que cantou e tocou modas de viola Brasil afora por mais de 40 anos.
A família mais uma vez mudou de estado e fixou residência em Jundiaí (SP), onde os dois cantores trabalharam na indústria, até que decidiram viver apenas de música.
No início, cantavam e tocavam em um clube aos sábados e em uma churrascaria aos domingos. Foi o dono do restaurante, aliás, que em 1988 ajudou a tirar do papel o sonho do primeiro disco da dupla, “Gaúcho Velho”, e emprestou o Mercedes-benz da foto da capa do LP.
“Meu pai colocou o disco embaixo do braço e viajou o Brasil batendo na porta de rádios”, lembra a psicóloga Elisangela Mendes Gonçalves Momenté, 42, filha mais velha.
Foi a Rádio Nacional de Brasília, conta ela, que abriu de vez as portas para o sucesso da dupla. A partir dali, os irmãos começaram a cantar em festas de peões, festivais e na TV. Puxaram o modão no programa Viola, Minha Viola, da TV Cultura, apresentado por Inezita Barroso e Moraes Sarmento.
Nas andanças da vida, Pingo de Ouro e Beija-flor se apresentaram com sertanejos famosos, como Sérgio Reis, Tonico e Tinoco, João Mineiro e Marciano, entre tantos outros, mais os anônimos que levaram para cima do palco.
De cantores de rádio, os dois viraram apresentadores de programa da madrugada de música sertaneja em Jundiaí. Em 2007 a dupla resolveu encostar viola e violão. Pingo de Ouro passou por um tratamento de câncer e nunca deixou de cantar sertanejo raiz para sua grande família.
O músico morreu no último dia 6. Deixa a mulher, três filhos, oito netos, 500 letras de músicas, três discos e a lembrança da viola chorosa.