Folha de S.Paulo

Falta de ação do governo impede ganho de eficiência energética

- Pedro Lovisi VEJA O DEBATE folha.com/w3b8x1an

A falta de políticas públicas é o principal freio para o aumento dos índices de eficiência energética no Brasil, de acordo com os participan­tes da segunda mesa do seminário Meio Ambiente, organizado pela Folha na última terça-feira (7).

Para os especialis­tas, o governo Jair Bolsonaro (PL) se ausentou do tema em discussões internacio­nais, o que afastou o Brasil ainda mais do protagonis­mo global no setor.

Participar­am do evento Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e membro do IPCC (Painel Intergover­namental das Mudanças Climáticas da ONU); Robson Casali, gerente de desenvolvi­mento de negócios de energia da Braskem; e Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica. O debate foi moderado pela repórter Ana Carolina Amaral e teve patrocínio da Ambipar e da JBS.

De acordo com Elbia, falta ao governo brasileiro “visão estratégic­a dos recursos que o país possui”, além de tratar a transição energética como um potencial negócio financeiro.

Hoje, cerca de 80% da energia no Brasil vêm de fontes renováveis, sendo 60% de hidrelétri­cas. Os recentes períodos de seca, porém, ameaçam o equilíbrio sustentáve­l da matriz. No ano passado, o governo contratou usinas térmicas para reforçar a produção das hidrelétri­cas entre 2022 e 2025.

A média mundial de uso de fontes renováveis para gerar energia elétrica é de cercade30%.

Por outro lado, o Brasil tem índices de eficiência energética abaixo do resto do globo.

O termo se refere à capacidade de gerar a mesma quantidade de energia usando menos recursos naturais não sustentáve­is. Em 2018, de acordo com a IEA (Agência Internacio­nal de Energia), apenas 8% do utilizado pela indústria brasileira era coberto por políticas que miravam ganhos nesse quesito. A média mundial era de 38%.

Segundo Casali, o pouco feito pela indústria é mérito do setor. “Apesar de não haver programas que nos incentivem, a demanda pelo tema faz com que a indústria se mova na direção de buscar maior eficiência energética.”

Em 2011, o governo lançou o Pnef (Plano Nacional de Eficiência Energética), que previa reduzir em 10% o consumo até 2030. Se tivesse sucesso, o plano seria responsáve­l pela economia de 106,6 mil gigawattho­ra (GWH) ao final do período estipulado —Itaipu nos últimos oito anos produziu 87 mil GWH, anualmente. O plano ainda não foi implementa­do, segundo especialis­tas.

Questionad­o, o Ministério de Minas e Energia afirmou que em 2021 o país conseguiu, proporcion­almente, os 5,8% anuais de economia propostos pelo Pnef. No ano passado, porém, o consumo de energia foi menor do que o estipulado para o período. A pasta não se manifestou sobre a falta de posicionam­ento internacio­nal apontada pelos especialis­tas.

“Nenhum outro país está em uma região tropical, com alta incidência de radiação solar e alta taxa de ventilação como o Brasil. Por que não estamos aproveitan­do essas vantagens?”, questiona Artaxo.

A participaç­ão das fontes solar e eólica na matriz brasileira foi de 2,6% e 12% em 2021, respectiva­mente. Dois anos antes, era de 1,5% e 9,1%. Os dados são do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

Segundo Elbia, nos últimos anos, a instalação de energia eólica bateu recorde no país. “A curva de cresciment­o da energia eólica e solar, porém, bate no limite da capacidade do mercado. Temos excesso de energia renovável e precisamos criar novos mercados.”

O setor de transporte­s também prejudica os índices do país. Conforme a IEA, a eficiência média de combustíve­l dos veículos de passeio é quase 24% menor no Brasil do que na União Europeia. As razões para isso passam pela falta de padrões obrigatóri­os de economia de combustíve­l para carros e caminhões no país.

Artaxo acredita que a solução está em pesquisas sobre o uso do hidrogênio verde como substituto. Considerad­o o combustíve­l do futuro, é produzido a partir da água, por meio de um processo térmico.

“Falta visão de Estado. O país precisa olhar para o restante do planeta e identifica­r suas vantagens e aproveitá-las, diz.

As perspectiv­as do Brasil são excelentes, mas falta visão de Estado. O país precisa olhar para o restante do planeta e identifica­r suas vantagens estratégic­as e aproveitá-las

Paulo Artaxo professor do Instituto de Física da USP

Apesar de não haver programas que nos incentivem, a necessidad­e e a demanda pelo tema [energia limpa] fazem com que a indústria se mova na direção de buscar maior eficiência energética

Robson Casali gerente de desenvolvi­mento de negócios de energia da Braskem

A curva de cresciment­o da energia eólica e solar, porém, bate no limite da capacidade do mercado brasileiro. Temos um excesso de energia renovável e nós precisamos criar novos mercados

Elbia Gannoum presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica

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