Folha de S.Paulo

Presidente elogia Biden por ‘conversa franca e sem máscara’

- RB

Antes de discursar na Cúpula das Américas nesta sexta-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a comentar o encontro que teve com o americano Joe Biden na noite anterior.

“A conversa foi muito boa. Ficamos sentados a menos de um metro de distância, olho no olho, por 30 minutos e sem máscara”, disse o brasileiro, na saída do hotel em que ficou hospedado, em Los Angeles. “Foi uma conversa bastante franca, muitas coisas técnicas estratégic­as que infelizmen­te vocês não vão tomar conhecimen­to. Mas é muito bom, para além de Brasil ou EUA. É muito bom para o mundo.”

Bolsonaro conversou com o democrata pela primeira vez na quinta (9), após mais de um ano emeio de rusgas entre eles. Na própria quinta, o presidente já havia dito ter ficado “maravilhad­o” com o encontro.

Membros da comitiva em Los Angeles consideram que a visita pôs um ponto final na crise entre os mandatário­s. Biden não havia conversado com Bolsonaro desde que assumiu o cargo, em janeiro de 2021; o presidente brasileiro é próximo do antecessor do democrata, Donald Trump, e chegou a endossar ataques do republican­o contra o sistema eleitoral americano.

A Folha conversou com cinco brasileiro­s envolvidos na realização da reunião à margem da Cúpula das Américas. Diplomatas e outros integrante­s do governo se mostraram surpresos com os resultados do encontro e disseram que houve “química” entre os líderes de Estados Unidos e Brasil.

Depois de um preâmbulo com a presença de jornalista­s no qual ambos pareciam distantes, os presidente­s se falaram cercados pelas respectiva­s comitivas com mais detalhes sobre temas citados nessas falas iniciais. Segundo os relatos colhidos pela reportagem, Bolsonaro tentou propor novas parcerias a Biden, que teria reagido com poucas palavras e de modo protocolar.

Após 15 minutos, o brasileiro pediu que a conversa ficasse mais reservada, com a permanênci­a apenas de tradutores, do chanceler brasileiro, Carlos França, e do secretário de Estado, Antony Blinken. O americano topou, e a partir daí teria havido uma conversa mais direta sobre temas que afetam a relação entre os países. “Foi muito melhor do que eu esperava”, disse Bolsonaro mais tarde. “Estou maravilhad­o com ele.”

Nesta sexta, uma porta-voz do Departamen­to de Estado dos EUA disse que Biden também ficou muito satisfeito. De acordo com Kristina Rosales, o americano afirmou na reunião que confia no sistema eleitoral brasileiro.

“Nós, obviamente, levamos a sério as palavras que saem da boca do presidente, que é a autoridade máxima do país. Esperamos que o resultado, seja qual for, seja respeitado. Não toleramos e não aceitamos intervençã­o no sistema eleitoral em nenhum lugar”.

O líder brasileiro tem feito uma série de ataques ao sistema eleitoral e à democracia e no encontro com Biden repetiu pedidos por um pleito “limpo, confiável e auditável”.

Na quinta, após a reunião, a Casa Branca divulgou um comunicado em que chamou a parceria entre EUA e Brasil de “vital para os esforços internacio­nais para lidar com a crise climática e garantir a paz”. O governo americano também reafirmou o apoio para a entrada do Brasil na OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico), o clube dos países ricos.

Já o Itamaraty destacou, em nota, que as relações bilaterais passam por um “estágio positivo, havendo amplas possibilid­ades de aprofundar a cooperação em temas como energia, defesa, espaço, ciência e tecnologia e comércio e investimen­tos, com ênfase numa maior integração de cadeias de suprimento­s”.

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