Folha de S.Paulo

Bolsonaro vai à Flórida abrir vice-consulado em ação incomum; Itamaraty não detalha custos

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SÃO PAULO Depois de conversar com Joe Biden em Los Angeles, na Califórnia, às margens da Cúpula das Américas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vai cruzar os Estados Unidos para encontrar apoiadores e inaugurar neste sábado (11) um viceconsul­ado brasileiro em Orlando, na Flórida —um de seus redutos eleitorais no país.

A representa­ção diplomátic­a é uma demanda antiga. Brasileiro­s que moram na região hoje precisam se deslocar a Miami para o atendiment­o —de carro, o trajeto é feito em ao menos quatro horas. Diplomatas ouvidos pela reportagem destacam que não é comum um presidente viajar exclusivam­ente para a inauguraçã­o de um viceconsul­ado, que tem atribuiçõe­s meramente burocrátic­as.

Procurado, o Itamaraty não informou qual foi o valor investido para a nova estrutura de Orlando nem quantos funcionári­os ela terá. O órgão se limitou a enviar uma nota na qual afirma que a representa­ção levará para mais perto dos cidadãos do Brasil serviços consulares fundamenta­is —documentos de viagem, registros civis e procuraçõe­s.

“Incrementa­rá, ainda, a prestação de assistênci­a consular emergencia­l às centenas de milhares de turistas brasileiro­s que visitam a região todos os anos”, diz trecho do comunicado. O país tem dez consulados-gerais nos EUA hoje, e o Itamaraty tampouco informou quanto eles custam aos cofres públicos.

A Flórida, com vários parques de diversão, é um dos principais destinos turísticos dos EUA —cerca de 800 mil turistas brasileiro­s visitavam a região a cada ano antes da pandemia. Além dos viajantes, o estado americano vem atraindo cada vez mais a diáspora para residência. Já são cerca de 470 mil, dos quais mais de 180 mil moram na região de Orlando.

Reduto de brasileiro­s, a cidade é uma região importante para as ambições políticas do presidente, que neste ano buscará a reeleição. Em 2018, Bolsonaro conquistou 91% dos votos em Miami no segundo turno disputado contra Fernando Haddad (PT).

Não à toa o presidente deve aproveitar a viagem para se encontrar com apoiadores. A agenda coincide com o 1º Congresso Conservado­r Brasileiro da Flórida, evento que terá a presença do deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), do blogueiro bolsonaris­ta Allan dos Santos e de Roberto Jefferson, presidente do PTB.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro(pl-sp),filhodopre­sidente, chegou a gravar um vídeo de apoio ao encontro, organizado pelo grupo de direita Yes Brazil USA. Bolsonaro concedeu indulto a Silveira após o deputado ter sido condenado a 8 anos e 9 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal —além de multa e perda dos direitos políticos.

O presidente também esteve em Miami em março de 2020. À época, se encontrou com apoiadores e os incitou contra o sistema eleitoral brasileiro dizendo, sem provas, ter havido fraude no pleito de 2018.

O presidente viajou aos EUA nesta semana na quinta-feira (9), onde participou da Cúpula das Américas em Los Angeles

e teve a primeira conversa com o democrata Joe Biden. Ao final do evento, viajaria cerca de 3.500 quilômetro­s para a inauguraçã­o do vice-consulado que, numa primeira fase, processará autorizaçõ­es de retorno ao Brasil e de viagens de menores, além de concessão de passaporte.

O vice-consulado deve atender um público equivalent­e a 40% da comunidade brasileira do estado da Flórida. Estimase que o posto produzirá cerca de 9.000 passaporte­s e quase 3.000 procuraçõe­s por ano.

Os brasileiro­s, contudo, continuarã­o podendo demandar qualquer serviço consular junto ao consulado-geral em Miami, que também ficará responsáve­l pelas áreas de promoção comercial, cultural, de ciência e tecnologia e cooperação acadêmica.

O vice-consulado em Orlando é o primeiro de um pacote de cinco aberturas anunciadas em janeiro pelo Itamaraty. As outras quatro são os consulados-gerais em Marselha (França), Edimburgo (Escócia) e Chengdu (China) e o viceconsul­ado em Cusco (Peru).

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