Remodelação global dramática vale também para a inflação
No alto do Wall Street Journal, a inflação americana “alcança novo pico de quatro décadas”, com 8,6% ano a ano, “devido a ganhos amplos nos preços”. Ressaltou combustíveis e alimentos e os custos com moradia, “um indicador de pressões inflacionárias amplas”.
Mas Joe Biden, no New York Times, voltou a falar em “aumento de preços de Putin”, para uma inflação que, na verdade, vem do ano passado —surgindo do excesso de estímulo para reerguer a economia. No enunciado do jornal, o presidente dos EUA quer “elencar a inflação como um problema global”, não de seu governo.
Não é bem assim, como evidencia uma decisão editorial inusitada do Financial Times, que ainda tem sede em Londres, mas é controlado pelo Nikkei, de Tóquio, na Ásia.
O jornal adotou, para acompanhar em tempo real a inflação global, um mapa-múndi com proporções alteradas para o tamanho da população de cada país: o Japão, por exemplo, surge agora duas vezes maior do que o Reino Unido.
O mapa mostra que a Ásia, com 2,1% de inflação na China, 2,5% no Japão, 3,5% na Indonésia e 2,9% no Vietnã, entre outros, segue longe da disparada inflacionária ocidental.
Os números recém-divulgados para maio, segundo o South China Morning Post, mostram que os preços mantiveram o patamar na China —e a projeção para a também gigante Índia é até de queda, segundo a Reuters, no anúncio previsto para a segunda.
Também a Rússia anotou uma queda na inflação de maio, levando seu banco central a anunciar a quarta redução nos juros desde março, como noticiaram as páginas iniciais dos mesmos WSJ e FT.
Segundo o Nikkei, a China aumentou as compras de petróleo russo, nos últimos três meses, em relação ao mesmo período no ano passado, em 70%; e a Índia aumentou “oito vezes”, o que, declara um economista indiano, ajudou a segurar os preços no país.
No dizer do jornal japonês, os dois gigantes asiáticos encabeçam “uma remodelação dramática do comércio global de energia”, que abrange ainda os europeus se voltando para o petróleo africano —e para conflitos no continente.
Esse mundo em remodelação dramática está retratado no cartograma do FT, que por sua vez se baseou no que foi desenvolvido pelo Our World in Data, o portal acadêmico que concentrou o acompanhamento da pandemia nestes últimos dois anos e meio.
É “o mapa de que precisamos se queremos pensar em como as condições de vida estão mudando no mundo”.