Folha de S.Paulo

Remodelaçã­o global dramática vale também para a inflação

- Nelson de Sá nelson.sa@grupofolha.com.br

No alto do Wall Street Journal, a inflação americana “alcança novo pico de quatro décadas”, com 8,6% ano a ano, “devido a ganhos amplos nos preços”. Ressaltou combustíve­is e alimentos e os custos com moradia, “um indicador de pressões inflacioná­rias amplas”.

Mas Joe Biden, no New York Times, voltou a falar em “aumento de preços de Putin”, para uma inflação que, na verdade, vem do ano passado —surgindo do excesso de estímulo para reerguer a economia. No enunciado do jornal, o presidente dos EUA quer “elencar a inflação como um problema global”, não de seu governo.

Não é bem assim, como evidencia uma decisão editorial inusitada do Financial Times, que ainda tem sede em Londres, mas é controlado pelo Nikkei, de Tóquio, na Ásia.

O jornal adotou, para acompanhar em tempo real a inflação global, um mapa-múndi com proporções alteradas para o tamanho da população de cada país: o Japão, por exemplo, surge agora duas vezes maior do que o Reino Unido.

O mapa mostra que a Ásia, com 2,1% de inflação na China, 2,5% no Japão, 3,5% na Indonésia e 2,9% no Vietnã, entre outros, segue longe da disparada inflacioná­ria ocidental.

Os números recém-divulgados para maio, segundo o South China Morning Post, mostram que os preços mantiveram o patamar na China —e a projeção para a também gigante Índia é até de queda, segundo a Reuters, no anúncio previsto para a segunda.

Também a Rússia anotou uma queda na inflação de maio, levando seu banco central a anunciar a quarta redução nos juros desde março, como noticiaram as páginas iniciais dos mesmos WSJ e FT.

Segundo o Nikkei, a China aumentou as compras de petróleo russo, nos últimos três meses, em relação ao mesmo período no ano passado, em 70%; e a Índia aumentou “oito vezes”, o que, declara um economista indiano, ajudou a segurar os preços no país.

No dizer do jornal japonês, os dois gigantes asiáticos encabeçam “uma remodelaçã­o dramática do comércio global de energia”, que abrange ainda os europeus se voltando para o petróleo africano —e para conflitos no continente.

Esse mundo em remodelaçã­o dramática está retratado no cartograma do FT, que por sua vez se baseou no que foi desenvolvi­do pelo Our World in Data, o portal acadêmico que concentrou o acompanham­ento da pandemia nestes últimos dois anos e meio.

É “o mapa de que precisamos se queremos pensar em como as condições de vida estão mudando no mundo”.

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Financial Times retrata inflação com mapa que segue a proporção das populações, evidencian­do concentraç­ão na Ásia

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