Folha de S.Paulo

Liberdade fardada

- Alvaro Costa e Silva

O que diz o ministro da Defesa, tão preocupado com as urnas eletrônica­s, sobre a nova tentativa de golpe programada para Sete de Setembro —a 26 dias das eleições? Paulo Sérgio Nogueira sente-se prestigiad­o a participar de ataques aos ministros do STF e TSE? O general mandará às ruas tanques fumacentos? Comandará a retirada de oxigênio da população para manter a liberdade fardada?

Havendo golpe para invalidar a votação desfavoráv­el a Bolsonaro, será um movimento militar. O presidente se transforma­rá num mito banal. Um ditador de mentira (tudo a ver, para quem sempre viveu mentindo), que poderá ser descartado a qualquer momento. Para a eventualid­ade, haverá um vice-presidente que é general, óbvio. Na chapa que concorre com as bênçãos do centrão e as mãos manchadas com o sangue de Dom Phillips e Bruno Pereira, o escolhido é Walter Braga Netto, que deixou o cargo de ministro da Defesa.

A articulaçã­o golpista abrange um plano com a presença de militares no governo até 2035. Se valer o primeiro mandato de Bolsonaro, serão 16 anos. Um tempo até modesto, levando-se em conta que o Golpe de 64 produziu uma ditadura de 21 anos.

A busca por informaçõe­s falsas sobre as urnas vem desde 2019 —quando já havia sinais de rejeição ao governo e de que Lula, fora da prisão, voltaria ao páreo —e envolve os generais Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria da Presidênci­a, e Augusto Heleno, que controla o Gabinete de Segurança Institucio­nal e a Abin. Na época, Bolsonaro começou a desferir ataques ao sistema eleitoral. A partir da live-bomba de 2021 —investigad­a no inquérito das fake news—, eles foram intensific­ados.

Sem qualquer pudor, Bolsonaro se compara a Jeanine Áñez, que se autodeclar­ou presidente da Bolívia com uma Bíblia na mão e foi condenada a dez anos de prisão por tramar um golpe de Estado. Só para constar: também foram condenados o ex-comandante das Forças Armadas e o ex-chefe da polícia.

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