Folha de S.Paulo

Ex-Secom volta ao entorno de Bolsonaro para campanha

Fábio Wajngarten deve tentar fazer a ponte entre governo e emissoras de TV

- Marianna Holanda

BRASÍLIA Mais de um ano depois de deixar o Palácio do Planalto em meio a uma disputa sobre a estratégia de comunicaçã­o do governo, o empresário Fábio Wajngarten voltou a Brasília para atuar na campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Wajngarten comandou a Secom (Secretaria Especial de Comunicaçã­o Social) entre abril de 2019 até o início do ano passado, quando foi exonerado do cargo.

O fiador do seu retorno ao núcleo de conselheir­os próximos ao presidente foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do mandatário que atua como coordenado­r-geral da campanha.

Ainda não está definido qual cargo formal Wajngarten terá junto ao governo. Interlocut­ores dizem que o mais provável é que ele atue como assessor especial da Presidênci­a.

Wajngarten é aliado de primeira hora de Bolsonaro e trabalhou na sua campanha de 2018. Sua gestão à frente da Secom foi marcada por desentendi­mentos com a imprensa e por desgastes internos no Palácio do Planalto e em ministério­s estratégic­os.

De volta a Brasília, a expectativ­a é que o ex-secretário tente estabelece­r pontes entre o governo, a campanha e os veículos de comunicaçã­o, principalm­ente as emissoras de televisão, a exemplo do que fez há quatro anos.

A campanha do presidente vive hoje um racha entre profission­ais de marketing ligados ao centrão e o vereador Carlos Bolsonaro (Republican­os-RJ), que comanda a estratégia do presidente nas redes sociais.

De modo geral, a leitura é que a comunicaçã­o precisaria melhorar —diagnóstic­o que acompanha o governo Bolsonaro desde o primeiro ano do mandato e que, com a proximidad­e do pleito, converteu-se numa das principais preocupaçõ­es do entorno do presidente.

Além de Wajngarten e Carlos, entre outros profission­ais, a equipe de comunicaçã­o da campanha é formada por Duda Lima, marqueteir­o do PL, e Sérgio Lima, que atua como uma espécie de conselheir­o em estratégia. Ele trabalhou como publicitár­io do partido que Bolsonaro tentou criar mas que nunca saiu do papel, a Aliança pelo Brasil.

Wajngarten e Sérgio Lima, no entanto, protagoniz­aram nos bastidores conflitos desde o início do governo. Tanto que aliados temiam que a chegada do ex-Secom pudesse resultar em novas disputas.

Os dois se encontrara­m na sexta-feira (10) e fizeram as pazes. Procurado, Wajngarten disse que pretende aliar sua experiênci­a com veículos de comunicaçã­o tradiciona­is com a expertise de seu ex-desafeto em temas digitais.

O publicitár­io Duda Lima, por sua vez, produziu as inserções na TV que foram criticadas por Carlos nas redes.

Quando deixou o governo no ano passado, Wajngarten tinha somado embates com o ministro das Comunicaçõ­es, Fábio Faria, com integrante­s do gabinete da Presidênci­a e com militares.

Na gestão Wajngarten, a cúpula militar chegou a reclamar com o presidente sobre notas à imprensa divulgadas pela Secom durante o período mais agudo da pandemia que, segundo os oficiais, deveriam ter sido produzidas pelo Ministério da Saúde.

Além disso, em 2020, a Folha revelou que Wajngarten recebia, por meio de uma empresa da qual era sócio, dinheiro de emissoras de televisão e de agências de publicidad­e contratada­s pela própria Secom, ministério­s e estatais do governo federal.

À época, o empresário se defendeu e afirmou que não havia nenhum conflito de interesse no caso.

A disputa pelo comando das estratégia­s de comunicaçã­o é uma constante na carreira política de Bolsonaro desde que ele se lançou ao Planalto.

A interferên­cia de Carlos na área também é alvo de críticas internas desde o início do governo, mas ele se consolidou como o principal conselheir­o do pai para assuntos de comunicaçã­o digital.

Tanto que no PL não há qualquer ambição de tentar reduzir a influência de Carlos, considerad­a hoje incontorná­vel para quem assessora o presidente em assuntos de mídias.

A aposta do núcleo político, contudo, é que Bolsonaro não se reelegerá, como em 2018, apenas com redes sociais. Dessa forma, será preciso investir nas ferramenta­s tradiciona­is de campanha, como inserções de rádio e TV.

O presidente está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No último Datafolha, o petista apareceu 21 pontos à frente do mandatário, com 48% ante 27%.

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Ueslei Marcelino 19.nov.19/Reuters Então chefe da Secom, Fábio Wajngarten tapa o microfone de Jair Bolsonaro em evento em Brasília

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