Folha de S.Paulo

Ala da União Brasil tenta vetar Moro nas eleições

- João Gabriel e Julia Chaib

BRASÍLIA Após ver a Justiça Eleitoral impedir sua candidatur­a em São Paulo, o ex-juiz Sergio Moro enfrenta resistênci­a dentro do seu partido, a União Brasil, para ser candidato pelo Paraná.

A ala bolsonaris­ta da União Brasil protocolou, nesta segunda-feira (13), um pedido interno para impugnar sua filiação ao partido, o que pode impedir sua candidatur­a. O questionam­ento foi apresentad­o ao diretório estadual do Paraná. O protocolo tem como base uma resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de 2006.

Quem entrou com o pedido de impugnação da filiação de Moro foi Cristiane Mesquita, nome pouco conhecido no partido e que integra a ala bolsonaris­ta.

Moro abandonou a magistratu­ra em 2018 para tornarse ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL) e deixou o governo em 2020, acusando o presidente de tentar interferir politicame­nte na Polícia Federal para blindar sua família de investigaç­ões. Desde então, o ex-juiz sofre rejeição de bolsonaris­tas.

O documento apresentad­o nesta segunda (13) requer que seja declarada “a inexistênc­ia de filiação do impugnado [Sergio Moro] ao União Brasil do Paraná e, com isso, afastar desde já as suas pretensões políticas no estado tendo em vista os enormes prejuízos que causará aos demais filiados e ao nome da agremiação perante a sociedade”.

O argumento é de que, uma vez que a filiação é circunscri­ta ao estado para a candidatur­a a cargos estaduais, Moro, por estar filiado ao União Brasil de São Paulo, só poderia tentar algum cargo paulista.

Caso quisesse concorrer a deputado ou senador pelo Paraná, teria que mudar seu vínculo para o diretório estadual paranaense, o que seria considerad­a uma nova filiação —o que, pela lei, o impediria de concorrer, já que o prazo para filiações para o pleito de 2022 já acabou.

Pela tese usada como base para a impugnação, Moro só poderia concorrer à Presidênci­a, uma vez que a resolução de 2006 diz que “se a candidatur­a é a mandato presidenci­al, por óbvio, válido será o domicílio e a filiação em qualquer município”.

Na ocasião, o TSE respondeu a um questionam­ento sobre o tema feito pelo PSL, partido pelo qual Bolsonaro foi eleito em 2018 e que, em 2022, se fundiu com o DEM para fundar o União Brasil.

“Se a candidatur­a é de cunho municipal, o domicílio e filiação devem ser aí comprovado­s. Se a candidatur­a é a cargo eletivo estadual, a circunscri­ção é o estado”, diz o voto do relator, o então ministro José Delgado.

O pedido foi protocolad­o nesta segunda no diretório estadual da União Brasil, que vai decidir se julga procedente ou não a solicitaçã­o. O caso pode subir também para a esfera nacional do partido em caso de recurso.

Procurado, o deputado federal Felipe Francischi­ni, presidente do União Brasil no Paraná, afirmou que vai analisar o caso. Já o ex-juiz respondeu por meio de seu advogado.

“A filiação foi regular e a impugnação, além de improceden­te, é manifestam­ente intempesti­va. Não nos causa nenhuma preocupaçã­o”, afirmou Gustavo Guedes, que representa Moro.

De forma reservada, dirigentes da União Brasil afirmaram à reportagem que seguem confiantes da possibilid­ade de Moro concorrer, uma vez que foram feitas análises prévias sobre a sua candidatur­a.

Atualmente, o plano da cúpula do partido para Moro é que ele faça viagens pelo Paraná e bata o martelo mais à frente, em julho, sobre a qual cargo vai concorrer. O mais provável é tentar o Senado.

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