Folha de S.Paulo

Rússia destrói acessos e impõe cerco a Severodone­tsk

Zelenski volta a reclamar de apoio ofertado pela Alemanha em críticas a Scholz

-

kiev | reuters Em um cenário que ecoa o cerco à cidade portuária de Mariupol, no mês passado, as forças da Rússia reforçaram nesta segunda-feira (13) o controle sobre Severodone­tsk, no leste da Ucrânia, ao conseguire­m interrompe­r as últimas rotas para a retirada de civis, afirmou uma autoridade ucraniana.

Em meio a bombardeio­s, o governador de Lugansk, Serhii Gaidai, escreveu no Telegram que as pontes próximas à área foram destruídas, impossibil­itando a entrada de cargas humanitári­as ou a saída de cidadãos. “É impossível dirigir até a cidade, entregar algo lá. A retirada é impossível.”

De acordo com Gaidai, 70% do pequeno município industrial, foco de uma das batalhas mais sangrentas da guerra, está sob controle russo, ainda que os defensores ucranianos restantes não estejam totalmente neutraliza­dos. “Eles têm capacidade para mandar feridos para hospitais, então ainda há acesso”, afirmou ao serviço ucraniano da Radio Liberty. “Mas é difícil levar armas ou reservista­s.”

A Ucrânia faz pedidos cada vez mais urgentes a potências do Ocidente para obter armas pesadas que ajudem a defender Severodone­tsk, cidade que Kiev vê como chave para a batalha pela região do Donbass, no leste do país —e, claro, para o curso total da guerra, agora em seu quarto mês.

Após falhar na tentativa de tomar Kiev no início da invasão, Moscou se concentrou em expandir o controle no leste da Ucrânia, na área que compreende Lugansk e Donetsk, ocupada por separatist­as apoiados pelo Kremlin desde 2014, além de tentar tomar mais território­s na costa do mar Negro.

Damien Magrou, da Legião Internacio­nal para a Defesa da Ucrânia, que tem forças em Severodone­tsk, disse que a situação ali pode se tornar o mesmo cenário de Mariupol, “com um grande bolsão de defensores ucranianos isolados do resto das tropas” do país. “Essa é uma das razões pelas quais é tão importante que os parceiros ocidentais entreguem artilharia de longo alcance o mais rápido possível.”

Mariupol virou ruína, com a prefeitura local estimando 90% de prédios danificado­s e talvez 20 mil mortos, entre os mais de 400 mil habitantes no pré-guerra. Houve ataques notórios, como a destruição de um teatro e de uma maternidad­e. A resistênci­a ucraniana foi possível devido à grande rede de túneis e bunkers dentro do complexo siderúrgic­o Azovstal, desenhado nos tempos da União Soviética para aguentar até um ataque nuclear. Sem água, comida ou reforços, contudo, ela ficou impossível.

Para combater em pé de igualdade no leste, o conselheir­o da Presidênci­a ucraniana Mikhailo Podoliak listou as armas pesadas do Ocidente que seriam necessária­s, incluindo mil obuseiros, 500 tanques e mil drones. Nos últimos dias, as críticas do Kremlin aos EUA e a outras nações devido ao envio de armas a Kiev se acumularam, com a ameaça de novos ataques em caso de repasse de mísseis de longo alcance.

Em relatório recente, o Ministério da Defesa russo afirmou ter destruído armas e equipament­os enviados por americanos e europeus, como em uma ação com mísseis de alta precisão contra um alvo próximo à estação ferroviári­a em Udachne, a noroeste de Donetsk. Não houve comentário­s do lado ucraniano.

O presidente Volodimir Zelenski, por outro lado, vocalizou outra vez a insatisfaç­ão com o apoio ofertado pela Alemanha, acusando o premiê Olaf Scholz de estar muito preocupado com as repercussõ­es nos laços de Berlim com Moscou. Os comentário­s, feitos à emissora pública alemã ZDF, ocorrem em meio a rumores de que o primeiro-ministro alemão faria na quinta-feira sua primeira viagem a Kiev desde o início da guerra.

“Precisamos do premiê Scholz a certeza de que a Alemanha apoia a Ucrânia”, disse Zelenski. “Ele e seu governo devem decidir: não pode haver um trade-off entre a Ucrânia e as relações com a Rússia.”

O alemão, que nega as acusações, tem refutado os pedidos para visitar Kiev, dizendo que só iria à capital ucraniana caso tivesse algo concreto para anunciar. Mais cedo nesta segunda, Scholz afirmou a jornalista­s que a Alemanha enviou à Ucrânia um dos sistemas de artilharia mais avançados e que a conclusão do processo demorou porque antes era necessário treinar os militares ucranianos para usá-lo.

 ?? Marko Djurica - 11.jun.22/Reuters ?? Parentes e amigos participam, na catedral de Kiev, de velório de soldado ucraniano morto em combate em Severedone­tsk
Marko Djurica - 11.jun.22/Reuters Parentes e amigos participam, na catedral de Kiev, de velório de soldado ucraniano morto em combate em Severedone­tsk
 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil