Dólar vai a R$ 5,11 e Bolsas despencam sob temor de aperto maior nos juros
Expectativa é que bancos centrais no Brasil e nos EUA sinalizem taxas mais altas contra inflação
SÃo PauLo Investidores viveram nesta segunda-feira (13) o temor de que o descontrole da inflação global leve as principais potências econômicas à recessão.
No Brasil, o dólar teve forte valorização de 2,48% e subiu a R$ 5,1130, a maior cotação da moeda americana desde 12 de maio. O índice Ibovespa, referência para a Bolsa brasileira, afundou 2,73%, a 102.598 pontos.
Entre as companhias com maior volume de negociações no país, destaque para os tombos da Eletrobras (-2,20%), da Vale (-3,17%), da Petrobras (-1,28%) e do Itaú (-1,20%).
Os resultados domésticos refletiram o dia negativo no exterior. Na Bolsa de Nova York, o indicador de referência S&P 500 mergulhou 3,88%. Outros dois índices importantes do mercado dos EUA, o Dow Jones (que acompanha 30 empresas de grande valor) e o Nasdaq (focado em companhias médias do setor de tecnologia), desabaram 2,79% e 4,68%, respectivamente.
O mercado financeiro mundial permanece abalado por dados recentes da inflação americana, cuja alta acima do previsto revelada na sexta-feira (10) poderá influenciar autoridades monetárias em todo o mundo a acelerar ainda mais suas respectivas taxas de juros. Essa situação, em linhas gerais, tende a valorizar moedas fortes, sobretudo o dólar, e tirar investimentos de ações de empresas negociadas nas Bolsas.
Nesta quarta-feira (15), o Fomc (comitê de política monetária) do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) concluirá sua reunião de dois dias e informará a sua decisão sobre o ritmo de aumento dos juros no país.
O mercado passou a considerar a possibilidade de o Fed pisar no acelerador e elevar o ritmo de alta de juros de 0,5 para 0,75 ponto percentual —o que seria o maior aumento desde 1994.
Também nesta quarta, o Copom, comitê responsável por formular a política monetária do Banco Central do Brasil, também apresentará sua decisão sobre a taxa básica de juros do país, a Selic.
O aperto monetário —o que significa tornar o crédito mais caro para, assim, esfriar o consumo e desacelerar a inflação— nos EUA também aumenta o rendimento dos títulos do Tesouro americano, considerado o investimento mais seguro do planeta.
Isso leva investidores a diminuir suas aplicações em mercados mais arriscados, como as Bolsas. É um momento em que o mercado quer tirar proveito da renda fixa mais atrativa nos EUA.
Esse aumento do fluxo de dólares em direção aos títulos soberanos nos Estados Unidos torna a moeda mais escassa e cara, provocando uma reação em cadeia no mundo dos negócios.
Em países de economia emergente, como o Brasil, a alta do dólar eleva custos de importação e faz disparar a inflação. Bancos centrais são forçados a elevar juros para convencer investidores de que o retorno oferecido por seus títulos soberanos compensa o risco que eles correm ao não levarem seus dólares para os EUA.
O principal problema desse movimento é a falta de liquidez no mercado, uma vez que investidores passam a ter a chance de obter ganhos confortáveis com juros altos pagos pela renda fixa em todo o mundo. O dinheiro que sai das Bolsas faz falta para as empresas, pois elas perdem capital com a queda das suas ações e deixam de crescer e gerar empregos.
“O grande problema é que aumentou a percepção [dos investidores] de que o Fed está atrasado em sua normalização da política monetária, uma vez que a inflação está saindo do seu controle”, disse Alexandre Espirito Santo, economista-chefe da Órama.
Ações da Eletrobras caem 6,8% desde a privatização
Desde que a Eletrobras fixou o preço unitário de R$ 42 para as suas ações ordinárias, na quinta-feira (9), os papéis da maior companhia elétrica da América Latina afundaram 6,83% em apenas duas sessões de negociação da B3.
Na sexta-feira (10), o tombo de 4,74% foi atribuído ao ajuste do mercado ao valor inicial da oferta, uma vez que o papel havia sido cotado na véspera a R$ 43,04. Já nesta segunda (13), dia em que as ações emitidas na oferta pública passaram a ser negociadas, houve queda de 2,20%.
Quem tomou contato pela primeira vez com a Bolsa devido à capitalização da Eletrobras pode estar se perguntando se fez um bom negócio. A resposta só virá com o tempo, mas analistas dizem que o investimento é promissor, sobretudo se pensado para o longo prazo.
Para esses novos investidores, cabe lembrar que aplicações em renda variável, como é o caso do mercado de ações, não têm esse nome por acaso. Diversos fatores podem fazer uma ação perder ou ganhar valor de forma significativa em um único dia.
No caso da Eletrobras, além das questões sobre o ajuste à precificação dos papéis, é necessário considerar que a oferta pública ocorreu em um momento de turbulência no mercado de ações.
Paulo Henrique Duarte, economista da Valor Investimentos, afirma que houve “sucesso na capitalização da Eletrobras”, com a movimentação de mais de R$ 29 bilhões, e que isso “mostrou que o mercado tem apetite para aplicar em bons ativos” mesmo em momentos como o atual.
Duarte afirma que, a partir de agora, o desempenho das ações da companhia também dependerá dos próximos passos que ela irá tomar quanto a investimentos, redução de despesas e a adoção de boas práticas de governança.
Apesar da imprevisibilidade quanto ao futuro, o cenário visto pelo retrovisor reforça a afirmação do economista: desde janeiro, enquanto a Bolsa brasileira caiu 2,73%, as ações ordinárias da Eletrobras subiram 20%.