Folha de S.Paulo

vaivém das commoditie­s Agrícolas favorecem balança, mas gasto com fertilizan­te sobe 178%

- Mauro Zafalon mauro.zafalon@uol.com.br

Os preços elevados das commoditie­s mantêm o saldo da balança comercial aquecido. Embora o ritmo das exportaçõe­s, em volume, tenha diminuído neste ano, as receitas continuam atingindo recordes.

Os dez principais produtos do agronegóci­o brasileiro renderam US$ 46,9 bilhões nos cinco primeiros meses deste ano, um volume bem superior aos US$ 36,8 bilhões de igual período de 2021.

Efeitos climáticos sobre lavouras, retenção de produtos por diversos países nestes tempos de guerra e oferta menor de alimentos trouxeram ao mercado externo de commoditie­s efeitos não vistos antes. Os preços dispararam, elevaram as taxas de inflação pelo mundo e devem colocar acima de 300 milhões de pessoas em estado de fome aguda, segundo a ONU.

A soja, líder nacional na balança comercial, teve uma queda de 15 milhões de toneladas exportadas em maio do ano passado, para 10,6 milhões no mesmo mês deste ano. Apesar do recuo, as receitas do mês somaram US$ 6,6 bilhões e ficaram no mesmo patamar das de 2021, O preço médio da soja teve valorizaçã­o de 38% no período, subindo para US$ 617 por tonelada.

Com base nessa evolução de preços, a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) reajustou o total de receitas do complexo soja (grãos, farelo e óleo) para US$ 58 bilhões neste ano, bem acima dos US$ 48 bilhões de 2021.

Esse aumento de receita ocorre mesmo com a previsão de redução das exportaçõe­s da oleaginosa para 77 milhões de toneladas. Em 2021, foram 86 milhões.

À exceção da carne suína, as demais commoditie­s vêm registrand­o boa valorizaçã­o neste ano. Os preços do café lideram, com aumento de 80%, na comparação de maio deste ano com igual período de 2021.

O Brasil, o principal fornecedor mundial, tem uma produção inferior ao que se esperava, devido aos efeitos das geadas ocorridas no ano passado. Mesmo com ritmo menor das exportaçõe­s, as receitas do setor deste ano já superam em 54% as de janeiro a maio do ano passado.

As carnes bovina e de frango também mostram bom desempenho. A demanda continua aquecida, e os preços internacio­nais se mantêm elevados. As três proteínas “in natura” (bovino, suíno e frango) somam US$ 8,8 bilhões neste ano.

A Secex (Secretaria de Comércio Exterior) registra alta de 31% no valor médio da tonelada de carne bovina, que subiu para US$ 6.455 no mês passado. A evolução da carne de frango no mercado internacio­nal foi ainda maior, atingindo 35% no período. A tonelada da proteína foi para US$ 2.100.

A carne suína destoa das demais. Recomposiç­ão parcial do rebanho de suínos da China e lockdown no país asiático, devido à Covid-19, diminuíram o apetite chinês no mercado internacio­nal, interferin­do nos preços. Após exportar acima de US$ 1 bilhão nos cinco primeiros meses de 2021, o Brasil conseguiu apenas US$ 835 milhões neste. O volume exportado caiu 7% no acumulado do ano.

Uma das surpresas da balança do agronegóci­o foram as vendas externas de trigo. Apesar da tradiciona­l dependênci­a, o país aproveitou os preços externos e colocou 2,45 milhões de toneladas de trigo no exterior, 332% a mais do que no ano passado.

O Brasil pôs um bom volume do cereal em 14 países de diversos continente­s. A Arábia Saudita foi a líder nas importaçõe­s, comprando 505 mil toneladas.

Indonésia, Vietnã, Paquistão, Marrocos, Angola e Israel também estiveram nessa lista.

O algodão foi beneficiad­o pela alta do petróleo. A elevação dos preços da fibra sintética fez o produto subir 33%. Mesmo com exportaçõe­s 24% inferiores neste ano, as receitas se mantiveram próximas das de maio de 2021.

O cenário internacio­nal, que provocou alta nos preços das commoditie­s agropecuár­ias, trouxe também pesados custos para os produtores brasileiro­s, principalm­ente na compra de insumos.

As dificuldad­es na obtenção de fertilizan­tes fizeram os importador­es brasileiro­s acelerar as compras. No mês passado, o país importou 4,1 milhões de toneladas, um recorde para os meses de maio e 57% a mais do que em 2021. Normalment­e, esse é um volume adquirido apenas no segundo semestre.

A disparada dos preços dos fertilizan­tes, devido à pandemia, à redução de produção, a dificuldad­es no transporte marítimo e à invasão da Ucrânia pela Rússia, fez o Brasil gastar US$ 9,6 bilhões com esses produtos nos cinco primeiros meses do ano. Esse valor supera em 178% o de janeiro a maio do ano passado. Foram adquiridos 15,2 milhões de toneladas.

Pesam também no bolso dos produtores os gastos com os defensivos agrícolas. Nesse caso, além dos preços, houve alta de 70% no volume importado, que atingiu 188 mil toneladas, segundo a Secex. Com isso, os gastos subiram para US$ 1,8 bilhão, 94% a mais.

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