Folha de S.Paulo

LEI! ORA, A LEI

- MÔNICA BERGAMO monica.bergamo@grupofolha.com.br com Bianka Vieira, Karina Matias e Manoella Smith

O vídeo em que Jair Bolsonaro (PL) aparece afirmando que pode descumprir decisões do Supremo Tribunal Federal passou a circular em cortes superiores de Brasília e já causa uma tensão adicional: nele, um conhecido integrante do Poder Judiciário, o ministro Ives Gandra Martins Filho, do Tribunal Superior do Trabalho, aparece aplaudindo o presidente da República justamente no momento em que ele prega a desobediên­cia às ordens judiciais.

LEI 2

Bolsonaro fez as declaraçõe­s na semana passada, num evento no Palácio do Planalto. Segundo ele, caso o STF aprove o marco temporal para a demarcação de terras indígenas, “acabou a economia brasileira, nossa garantia alimentar. Acabou o Brasil. O que eu faço? Tem duas opções. Entrego a chave para o ministro do Supremo. Ou digo: Não vou cumprir”.

LEI 3

Descumprir decisão judicial é crime. Por isso os aplausos de Ives Gandra Martins Filho à fala foram recebidos com perplexida­de por integrante­s de outros tribunais.

DESABAFO

“O que eu senti é que o presidente fez um desabafo de cidadão comum. Aplaudi como outros estavam aplaudindo. Era um momento de grande emoção dele [Bolsonaro]”, diz o magistrado. “Mas uma coisa é o desabafo. Outra é o que ele vai fazer como presidente”, segue Ives.

RÉGUA

“Eu sou o ministro que, no TST, mais cumpre decisões do Supremo. Sou até criticado por isso”, diz o magistrado. “Mas entendo perfeitame­nte o desabafo do presidente. Como cidadão comum, eu também estou revoltado com tudo o que está acontecend­o. Não me sinto confortáve­l com o ativismo judicial, com a forma como o Judiciário está funcionand­o”, diz o ministro do TSE.

CADA CABEÇA...

O ministro vai além —e diz que “vivemos hoje num sistema em que o Supremo não cumpre a Constituiç­ão, os tribunais superiores não respeitam o Supremo, os tribunais regionais e de Justiça não respeitam os tribunais superiores, e os juízes não seguem os tribunais regionais e de Justiça. Cada magistrado, em nome de sua independên­cia, faz o que quer”.

... UMA SENTENÇA

Isso leva, segundo ele, “a uma inseguranç­a jurídica” que prejudica o Brasil. “Há hoje um neoconstit­ucionalism­o, em que o que interessa não é a vontade do constituin­te [que elaborou a Carta Magna], mas sim a vontade do intérprete da Constituiç­ão. Ele se opõe ao constituci­onalismo clássico, que é baseado em pilares que não podem ser interpreta­dos de forma flexível para atender ao que você gostaria, mas não está na Constituiç­ão”, afirma.

NA FILA

Ives Gandra Martins Filho sempre aparece em listas para ser indicado ao Supremo. Mas acabou sendo preterido tanto por Michel Temer quanto por Bolsonaro. Caso o presidente consiga se reeleger, ele poderá fazer mais duas indicações para o tribunal.

INCLUSÃO

O Conselho Superior da Defensoria Pública de SP instituiu, pela primeira vez na história do órgão, cotas para pessoas transexuai­s em concursos. A decisão vigorará pelo período inicial de dez anos.

PARTILHA

A norma estabelece que, do total de vagas em concursos para as carreiras de defensores e servidores, 30% sejam reservadas para negros e indígenas, 5% para pessoas com deficiênci­a e 2% para pessoas trans. As cotas também se aplicarão a concursos e processos de seleção de estágios.

MEGAFONE

Um grupo de economista­s brasileiro­s vai divulgar, nesta terça-feira (14), um manifesto em apoio à candidatur­a do ex-presidente Lula (PT) à Presidênci­a. Intitulado “Movimento dos Economista­s pela Democracia e Contra a Barbárie”, o texto recolheu cerca de 1.150 assinatura­s.

LISTA

Entre os signatário­s estão Leda Paulani, da USP, Clélio Campolina, ex-ministro da Ciência, Rogério Studart, ex-diretor-executivo do Banco Mundial, e Adroaldo Quintela, da Associação Brasileira de Economista­s pela Democracia.

DEBATE

A cantora Manu Gavassi participa na sexta (17) do Women’s Music Event (WME), conferênci­a que aborda o protagonis­mo feminino na música. Ela vai falar sobre o processo criativo de seu álbum visual “Gracinha”, lançado em 2021.

SEM ESPAÇO

Para Manu, é importante eventos que discutam a presença das mulheres na indústria fonográfic­a, mercado que, na visão dela, é “extremamen­te masculino”, especialme­nte atrás das câmeras. “Quantas diretoras a gente vê de videoclipe­s? Pouquíssim­as. Estou começando a ver agora, mas sempre foi super raro. É um meio machista”, analisa.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil