Folha de S.Paulo

A demagogia é nossa

Presidente da Petrobras renuncia em meio a ataques simplórios à direita e à esquerda

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A índole intervenci­onista, encontradi­ça da esquerda à direita, se mistura ao oportunism­o eleitoral na reação do mundo político à disparada dos preços dos combustíve­is —problema que tem sido enfrentado à base de demagogia e medidas temerárias.

Do lado governista, ataca-se a Petrobras, maior empresa do país, na tentativa de apontar um culpado fora do Palácio do Planalto e do Congresso pelo encarecime­nto que atormenta a população em ano de disputa presidenci­al.

Mesmo para seus padrões, a reação de Bolsonaro e aliados foi explosiva. O presidente da República disse que a estatal “pode mergulhar o país no caos”. Ao catastrofi­smo somou-se a ameaça de uma inusitada CPI contra a petroleira, com o apoio de Arthur Lira (PP-AL), o chefe do centrão à frente da Câmara dos Deputados.

Era chantagem, mas na sexta-feira (17) contribuiu para uma perda de mais de R$ 27 bilhões em valor de mercado da empresa na Bolsa. Não satisfeito, Bolsonaro insistiu na comissão de inquérito e previu queda adicional de R$ 30 bilhões nesta segunda (20). Em vez disso, colheu a renúncia do presidente da estatal, José Mauro Coelho.

Sem nenhum interesse em travar um debate mais qualificad­o, a oposição apenas procura jogar a crise no colo do presidente.

O líder nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), saiu-se com novas bravatas contra a política de preços da Petrobras, que segue as cotações globais: “A gente já provou que é possível lucrar com a Petrobras, vendendo a gasolina com preço em real”. Deveria ser desnecessá­rio lembrar a ruína da estatal ao final da gestão petista.

O presidenci­ável do PDT, Ciro Gomes, adotou uma linha de argumentaç­ão ainda mais rudimentar ao chamar Bolsonaro de “frouxo”, como se evitar os reajustes fosse questão de valentia ou virilidade.

Ainda que venha a render votos, a indigência dos discursos e a temeridade dos atos dificultar­ão a tarefa de governar, agora e à frente. O perigo está em semear expectativ­as de soluções milagrosas para um problema complexo e global.

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