Folha de S.Paulo

Ficha-suja, Arruda articula chapa para o DF

Ex-governador flagrado com maço de dinheiro ainda precisa reverter condenaçõe­s para retomar elegibilid­ade

- Cézar Feitoza , Julia Chaib , Marianna Holanda e Thaísa Oliveira

BRASÍLIA Pivô do escândalo conhecido como mensalão do DEM, o ex-governador José Roberto Arruda (PL) tem afirmado em conversas reservadas que deseja disputar a eleição ao Governo do Distrito Federal e tenta articular a formação de uma chapa.

A expectativ­a de que ele possa voltar ao tabuleiro político do DF movimenta campanhas e embaralha o cenário local, hoje dominado pelo atual governador, Ibaneis Rocha (MDB). A decisão afetaria diretament­e o palanque de Jair Bolsonaro (PL) na capital federal.

A articulaçã­o de Arruda ocorre diante de sua convicção de que se livrará de punições na Justiça e poderá brigar pela sucessão de Ibaneis.

O ministro André Mendonça, do STF (Supremo Tribunal Federal), já anulou duas condenaçõe­s do ex-governador. Os processos foram enviados à Justiça Eleitoral.

Agora, para tornar-se elegível e deixar a lista dos chamados fichas-sujas, ele precisa reverter outras duas condenaçõe­s.

Sua defesa tem defendido que ambas estão prescritas e não comprovam dolo, como exige a nova Lei de Improbidad­e Administra­tiva. Sem estar condenado, ele se livra das restrições da Lei da Ficha Limpa.

Apesar de suas ambições, ele sofreu um revés no TJ-DFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Território­s), quando o desembarga­dor Ângelo Passareli negou pedidos da defesa para anular as condenaçõe­s.

Seus advogados ainda avaliam se vão recorrer da decisão .

Confiante de que poderá concorrer, Arruda já conversou com o próprio Bolsonaro, segundo aliados do mandatário, e com lideranças de partidos como PP, Republican­os, PSD e Cidadania.

Ele teve uma reunião na última semana com dirigentes de Republican­os, PP e do PL, para pedir apoio dessas legendas —hoje próximas a Ibaneis.

Se viabilizad­a, a candidatur­a de Arruda pode impedir (por ajustes da aliança) o projeto político de sua esposa, a ex-ministra Flávia Arruda (PL), que busca uma vaga no Senado.

Flávia foi ministra da Secretaria de Governo de Bolsonaro entre 2021 e março deste ano.

Sobre o tema, Arruda diz que, hoje, o que está na mesa é a candidatur­a de Flávia ao Senado. “O que temos é a pré-candidatur­a da Flávia ao Senado. Está muito bem”, disseà Folha.

Em conversas com políticos e empresário­s, ele também tem levantado a hipótese de concorrer a deputado federal.

Interlocut­ores ouvidos pela Folha, no entanto, não acreditam na possibilid­ade e consideram o posicionam­ento do exgovernad­or uma forma de não enterrar a candidatur­a da esposa ao Senado antes mesmo de garantir sua elegibilid­ade.

O advogado de Arruda, Paulo Emílio Catta Preta, diz que “não existe calendário eleitoral” na estratégia de defesa. “O que a gente quer é recobrar os direitos violados, inclusive a elegibilid­ade. E aí ele decide o que fazer. Mas não é algo orquestrad­o.”

Nos últimos dias, Arruda voltou a acompanhar a esposa em agendas pelo Distrito Federal. Em clima de campanha, em 11 de junho, foram a duas feiras em Ceilândia —região administra­tiva mais populosa do DF e reduto eleitoral do casal.

Vestindo camiseta com o nome de Flávia, Arruda cumpriment­ou eleitores e posou para fotos. Ele espera ter apoio de Bolsonaro na sucessão de Ibaneis e tem buscado partidos que compõem a aliança nacional do presidente.

Em conversa com integrante­s do Republican­os, Arruda disse, segundo relatos, que gostaria que a ex-ministra Damares Alves (Republican­os) disputasse o Senado na sua chapa.

Políticos do DF dizem que ele também poderia estimular a candidatur­a do empresário Paulo Octávio (PSD) ao Senado com Damares como suplente, o que desagrada a líderes do Republican­os.

Nos dois cenários, Flávia seria candidata à reeleição como deputada federal. Aliados acham que ela conseguiri­a voltar à Câmara facilmente.

Paulo Octávio foi vice-governador de Arruda em 2006 e renunciou em 2010 após a prisão do então governador com o escândalo do mensalão do DEM.

O caso veio à tona com a operação da Polícia Federal Caixa de Pandora. Arruda foi filmado recebendo dinheiro e alegou, à época, que o recurso seria usado em ações sociais, como a compra de panetones.

Em outra frente da articulaçã­o de uma eventual chapa, Arruda já disse a integrante­s do PP e Republican­os querer a deputada Celina Leão (PP) como sua candidata a vice.

Mas ela tem dito em conversas reservadas que não gostaria disso por avaliar que perderia protagonis­mo político.

Celina também foi cotada para vice de Ibaneis. Em um cenário de reeleição, seus aliados dizem que ela poderia assumir o governo no final do mandato e ser opção para a disputa, daqui a quatro anos, pela chefia do Executivo no DF.

Na sexta (15), Damares publicou foto ao lado de Celina e escreveu: “Comecei o dia tomando café com minha amiga Celina Leão, líder da bancada feminina no Congresso Nacional. Novidades no ar! Aguardem!”

Ibaneis tem trabalhado para se reaproxima­r de Bolsonaro. Segundo interlocut­ores, quer garantir que o presidente fique neutro na disputa do DF. Como o MDB, partido de Ibaneis, lançou a senadora Simone Tebet como pré-candidata ao Planalto, eles não poderão dividir palanque.

Aliados o têm aconselhad­o a procurar Arruda e Damares para conversar. Dizem que ele não pode menospreza­r aforça política do ex-governador e lembram que a ex-ministra Flávia foi a deputada federal mais votada do DF em 2018.

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Givaldo Barbosa - 13.ago.14/ Agência O Globo José Roberto Arruda (PL)

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