Folha de S.Paulo

Eduardo Leite recua de pensão especial e afirma que admitir ser gay não é fácil

- CF

PORTO ALEGRE Ex-governador e pré-candidato do PSDB outra vez no Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, 37, disse que vai devolver os cerca de R$ 40 mil recebidos até aqui como pensão temporária após renunciar ao cargo de governador, embora não considere o benefício “imoral ou ilegal.”

O tucano falou nesta segunda-feira (20)durante a sabatina Folha/UOL com pré-candidatos ao Governo do RS.

Comentou a polêmica da quinta passada (16), quando o partido Novo ajuizou ação contestand­o o pagamento R$ 39,9 mil por dois meses de vencimento­s referentes a pensão de ex-governador.

Conforme a Procurador­iaGeral do Estado, embora o Rio Grande do Sul tenha extinguido em agosto de 2021 a pensão vitalícia a ex-governador­es, Leite teria direito a um benefício por quatro anos proporcion­al ao tempo pelo qual foi governador.

Ele anunciou que abdicaria do pagamento, embora não o considere “imoral ou ilegal”.

“Acabo de abdicar desse valor porque não vou abrir espaço para ataques maliciosos que distorcem a realidade”, declarou Leite.

Depois de dois anos e meio de governo com vitórias significat­ivas na Assembleia Legislativ­a e contas em dia no Rio Grande do Sul, Leite deu largada na pré-candidatur­a a presidente da República, primeiro no PSDB.

Ao perder as prévias para o então governador de São Paulo, João Doria, flertou com o PSD, renunciou ao Governo do RS e ensaiou candidatur­a paralela no PSDB contando com a desistênci­a de Doria, o que aconteceu tarde demais para voltar à disputa. O PSDB apoia Simone Tebet (MDB).

Deu a entender que sua derrota nas prévias fez parte de estratégia do partido para manter o Governo de São Paulo e se livrar de Doria.

Agora, Leite é cobrado pelos concorrent­es por descumprir a promessa de não concorrer à reeleição. Ele justificou a decisão como uma opção para a continuida­de de um projeto de governo sob supostas “ameaças populistas à esquerda e à direita”. E disse que não deixou os gaúchos em segundo plano.

Falou ainda do regime de recuperaçã­o fiscal, criticado por rivais. Para ele, embora dependesse de homologaçã­o, o RS já opera sob as suas diretrizes desde que ele vinha sendo negociado.

“Nós estamos dando solução para um problema estrutural do estado. O regime de recuperaçã­o fiscal não é camisa de força. Talvez seja a inexperiên­cia administra­tiva dos meus adversário­s, que não conhecem a administra­ção pública por dentro. Não pagar uma dívida não é boa opção para ninguém. É viver com uma espada sobre a cabeça”, explicou.

Sobre ter revelado publicamen­te ser homossexua­l, disse que “não é fácil para ninguém”. “Admitir para si próprio sendo criado em um mundo que tentou nos convencer de que isso é uma coisa errada torna difícil admitir para nós mesmos.”

“A maior parte das pessoas sofreu conflitos internos para sua própria aceitação. Se foi tão difícil, como é que eu vou cobrar que outros de uma hora para outra aceitem? É um processo de educação a ser trabalhado”, disse.

Leite é formado em direito. Aos 27 anos, se elegeu prefeito de sua cidade natal, Pelotas (RS). Deixou o cargo em 2016 e se candidatou ao governo do RS em 2018. Às vésperas do segundo turno, em 2018, pressionad­o pelo cresciment­o da campanha a reeleição de José Ivo Sartori (MDB), declarou “apoio eleitoral a Jair Bolsonaro”.

Sobre o presidente, disse que a inflação está corroendo “o poder de compra da população” e que há ataques às instituiçõ­es democrátic­as. “Nenhum promoverá a cicatrizaç­ão das feridas. Por isso vou trabalhar para ajudar a constituir uma alternativ­a.”

A sabatina foi conduzida pelos jornalista­s Tales Faria, do UOL, e Alexa Salomão, da Folha.

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O pré-candidato do PSDB ao governo gaúcho, Eduardo Leite

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