Poupança das famílias encolhe pela primeira vez desde início da pandemia
SÃO PAULO A poupança das famílias brasileiras encolheu no primeiro trimestre de 2022, na primeira variação negativa desde o início da pandemia. Fatores como a queda na renda do brasileiro, o arrefecimento da crise sanitária e o retorno ao padrão de consumo pré-Covid estão entre as explicações para esse movimento.
O saldo de poupança financeira acumulada caiu de R$ 529,6 bilhões para R$ 497,1 bilhões, uma redução de R$ 32,4 bilhões (ou 6,1%) em relação a dezembro de 2021, segundo levantamento do Cemec-Fipe (Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Os dados consideram diversas formas de poupar recursos, como caderneta, fundos de investimento e ações.
Segundo a instituição, uma possível explicação para a queda da poupança financeira é que o controle da pandemia levou à flexibilização do distanciamento social e reduziu a incerteza, de modo que as famílias começaram a retornar gradativamente ao padrão de consumo anterior.
Na hipótese de os resultados do primeiro trimestre indicarem o início de um processo de uso da poupança acumulada para reforçar a demanda, diz o Cemec, esse movimento tem potencial para mudar as projeções do consumo e do PIB (Produto Interno Bruto) para 2022.
O saldo acumulado representa cerca de 9% do consumo total de 2021.
Os dados mais recentes do IBGE mostraram que o consumo das famílias avançou no primeiro trimestre, superando o patamar pré-pandemia, e ajudou a garantir o crescimento do PIB no período.
A alta da inflação, no entanto, é uma ameaça a esse avanço.
O Cemec também registrou mudança no perfil dessas aplicações financeiras, com a migração de recursos de cadernetas, fundos de investimento e ações para outros ativos de renda fixa, liderados por títulos de captação bancária (LF, LCA, LCI), depósitos a prazo, títulos de dívida privada e títulos públicos.
Olhando apenas para a caderneta, as famílias de renda mais baixa já haviam iniciado esse processo de redução de poupança no ano passado, o que pode refletir a utilização desses recursos para complementar o orçamento doméstico, pressionado com a forte elevação dos preços de itens básicos, segundo o Cemec.
Nas faixas de maior valor, variações negativas começaram a ser vistas no primeiro trimestre de 2022. “A hipótese é que a maior parte da queda do saldo de poupança das famílias com faixas de saldos mais elevados foi realocada para aplicações mais rentáveis de renda fixa.”