Folha de S.Paulo

Importação cresce mais do que exportação no agronegóci­o

- Mauro Zafalon mauro.zafalon@uol.com.br

Neste período de preços internacio­nais aquecidos, as exportaçõe­s brasileira­s do agronegóci­o perdem espaço em relação às importaçõe­s.

De janeiro a maio, as importaçõe­s do Brasil voltadas para a agropecuár­ia somaram 30% das receitas obtidas com as exportaçõe­s. No mesmo período do ano passado, o percentual era de 24%. Esse cálculo leva em conta não apenas as commoditie­s agropecuár­ias, mas também fertilizan­tes, agroquímic­os e máquinas agrícolas.

Os preços das commoditie­s agrícolas continuam em patamares recordes, mas a evolução tem sido menor do que a dos produtos com maior valor agregado. O Brasil é um dos líderes no fornecimen­to mundial de commoditie­s, mas também é um grande importador de produtos com valor agregado, como os agroquímic­os.

A demanda internacio­nal para as commoditie­s se mantém firme, e os preços são puxados também pelos estoques inferiores aos de anos anteriores.

O desarranjo provocado pela pandemia e, a partir de fevereiro, pela guerra entre Rússia e Ucrânia na economia e no transporte marítimo internacio­nal, no entanto, fez o custo dos insumos superar o das commoditie­s.

A médio prazo, o cenário não é confortáve­l para o país. No topo das importaçõe­s estão produtos que dificilmen­te o Brasil terá uma produção local no curto prazo.

Os gastos com adubo subiram para US$ 9,6 bilhões nos cinco primeiros meses deste ano, 178% acima dos de igual período do ano passado. As importaçõe­s dos agrotóxico­s atingiram US$ 1,74 bilhão no período, com alta de 94%.

Na lista das importaçõe­s, porém, existem produtos que o país poderia melhorar a produtivid­ade e até reverter esse quadro de compras externas. Entre eles estão leite, hortícolas, peixes, coco, laranja e até água.

Essa pressão das importaçõe­s continuará no segundo semestre. De um lado, as compras de insumos são necessária­s para equilibrar a demanda da próxima safra de grãos. De outro, há dois anos que o país vem exportando menos do que o esperado. Esse é também um dos motivos da maior participaç­ão das importaçõe­s em relação às exportaçõe­s.

No segundo semestre do ano passado, foi a ausência do milho na balança comercial. Previa-se exportação de 40 milhões de toneladas no ano, mas o volume ficou em 20,4 milhões, devido a seca e geada.

Neste segundo semestre, a soja também terá uma participaç­ão menor do que o previsto. A produção, estimada em até 144 milhões de toneladas, ficou próxima de 125 milhões. Sobra menos para a exportação.

O trigo deverá pesar na balança comercial nos próximos meses. Aproveitan­do os preços dos primeiros meses do ano, o Brasil exportou 2,45 milhões de toneladas do cereal até maio, um volume recorde e bem acima das 568 mil toneladas de igual período de 2021.

Para completar a demanda interna, o país deverá importar 6,5 milhões de toneladas neste ano. Segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), 2,57 milhões já chegaram.

Dólar e preços elevados, além de menor renda no país, seguram as importaçõe­s de produtos industrial­izados e de valor agregado. É o que ocorre com o azeite de oliva.

A presença brasileira era comemorada no mercado europeu, devido à expansão das compras brasileira­s acima da média mundial há três anos.

Neste, o Brasil reduziu em 5% as compras, mas está pagando 11% amais.

No setor industrial, a inflação mundial e a falta decomponen­tes eletrônico­s fi zeramos gastos brasileiro­s com importaçõe­s de máquinas agrícolas e de tratores subir 23% e 77%, respectiva­mente, neste ano.

O ritmo das importaçõe­s no setor do agronegóci­o é bem mais acelerado do que o das exportaçõe­s, embora o país tenha um bom saldo comercial no setor.

As exportaçõe­s totais do agronegóci­o já somam US$ 63,98 bilhões de janeiro a maio, 29% amais doque em igual período de 2021. Neste mesmo período, porém, as importaçõe­s subiram para US$ 19,5 bilhões, 63% amais doque em 2021. A explosão dos preços dos fertilizan­tes é um dos responsáve­is por essa aceleração.

Nos últimos 12 meses, as exportaçõe­s totais do agronegóci­o atingiram US$ 134,5 bilhões; as importaçõe­s, US$ 45,3 bilhões.

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