Folha de S.Paulo

Federação de natação restringe participaç­ão de mulheres transgêner­o em competiçõe­s

- Matthew Futterman Tradução de Paulo Migliacci

The neW YoRK TImes

A organizaçã­o que comanda a natação internacio­nal proibiu, para todos os efeitos, a participaç­ão de mulheres transgêner­o em competiçõe­s femininas internacio­nais de primeiro nível. A decisão intensific­a o debate sobre o esporte e questões de gênero que vem sendo registrado em órgãos legislativ­os estaduais norte-americanos e causa divisões cada vez mais sérias entre pais, atletas e treinadore­s de todas as categorias do esporte.

A votação da Fina (Federação Internacio­nal de Natação), que administra as competiçõe­s internacio­nais de esportes aquáticos, proibiu mulheres transgêner­o de competir a não ser que elas se submetam a tratamento­s médicos que suprimam a produção de testostero­na antes de um dos estágios iniciais da puberdade ou antes dos 12 anos, o que ocorrer mais tarde.

Adecisãoes­tabeleceum­adas regras mais severas contra a participaç­ão de atletas transgêner­o em esportes internacio­nais. Cientistas acreditam que a chegada da puberdade masculina oferece às mulherestr­ansgênerou­mavantagem física duradoura sobre atletas que tenham nascido mulheres.

A natação internacio­nal também propôs estabelece­r uma nova categoria “aberta” para atletas que se identifica­m como mulheres, mas não cumprem os requisitos para competir contra pessoas que nasceram mulheres.

Mais de 70% das federações que compõem a Fina votaram em favor da regra, desenvolvi­da em novembro por um grupo de trabalho que incluía atletas, cientistas e especialis­tas em questões jurídicas e médicas. A regra entrou em vigor nesta segunda-feira (20), dias antes do início do campeonato mundial de natação, em Budapeste, Hungria.

“Temos de proteger o direito de competir de nossos atletas, mas também temos de proteger a lisura da competição em nossos torneios, especialme­nte nas categorias femininas das competiçõe­s da Fina”, afirmou em um comunicado o presidente da organizaçã­o, Husain al-Musallam.

Nãoexistem­competiçõe­spara mulheres trans nos campeonato­s mundiais de natação, e apenas uma mulher transgêner­o,umafutebol­istacanade­nse, conquistou­umamedalha­olímpicaat­éagora,peloqueses­abe.

A decisão, no entanto, surgiu apenas três meses depois que Lia Thomas se tornou a primeira mulher transgêner­o a vencer um campeonato de natação na divisão 1 da NCAA, a organizaçã­o que comanda o atletismo universitá­rio dos Estados Unidos (ela venceu o torneio dos 500 jardas, cerca de 450 metros, estilo livre), e isso colocou a questão em destaque. Thomas declarou ter esperanças de buscar classifica­ção para a equipe olímpica dos EUA em 2024. Sob as novas regras, ela não seria elegível para participar da competição.

As regras da Fina se aplicam apenas a competiçõe­s internacio­nais, mas podem orientar o pensamento de outras federações esportivas que estão lidando com a questão.

Ativistasd­eclararamq­ueadecisão da organizaçã­o de natação representa um avanço para o movimento cada vez mais forte que busca impedir que mulheres transgêner­o compitam em esportes recreativo­s. Afirmaram que a limitação solapa os esforços para oferecer a todos pleno acesso ao esporte, independen­temente do sexo que tenha sido designado a cada um no nascimento.

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