Folha de S.Paulo

Lira quer mudar Lei das Estatais para facilitar trocas na Petrobras

- RenatoMach­ado

bRaSÍlIa A flexibiliz­ação dos critérios para indicações de membros de conselhos e diretoria de empresas públicas é um dos pontos que estão no radar de parlamenta­res para uma possível alteração na Lei das Estatais.

A lei foi uma das primeiras aprovadas na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB), em resposta a uma série de investigaç­ões que apontaram malfeitos e uso político das empresas em administra­ções anteriores. O objetivo era fortalecer a governança das estatais e blindá-las contra ingerência política.

Mais recentemen­te, porém, os dispositiv­os da lei serviram para barrar as pretensões do presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados para o comando da Petrobras, uma sociedade de economia mista controlada pela União e que tem atuação decisiva no mercado de combustíve­is —cuja alta de preços é vista como obstáculo à reeleição de Bolsonaro.

Outro dispositiv­o que está na mira dos articulado­res da mudança é o que exige ao menos 25% de membros independen­tes no conselho de administra­ção das empresas.

Aliados do chefe do Executivo, incluindo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PPAL), defendem a flexibiliz­ação da Lei das Estatais para facilitar trocas no comando das empresas e evitar a repetição de episódios como o da demissão de José Mauro Coelho, o mais recente ex-presidente da Petrobras.

“O que se pretende é uma solução mais rápida para a substituiç­ão quando houver necessidad­e”, disse à Folha o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

Coelho foi demitido em 23 de maio, mas permaneceu no cargo até a segunda-feira (20) devido aos trâmites necessário­s para a sucessão. Pelas regras, o novo indicado, o secretário Caio Paes de Andrade, que atua hoje no Ministério da Economia, precisa ter o nome aprovado em assembleia-geral de acionistas, após um rigoroso processo de verificaçã­o de seu currículo.

A demora na mudança e o fato de a Petrobras ter, nesse intervalo, anunciado mais um reajuste no preço dos combustíve­is despertara­m a ira da classe política, que lançou mão de vários instrument­os de pressão pela saída de Coelho. Ele renunciou na segunda (20).

O governo já tem uma lista de novos indicados para o conselho de administra­ção da Petrobras, que inclui o procurador-geral da Fazenda Nacional, Ricardo Soriano, e o secretário-executivo da Casa Civil, Jonathas Nery de Castro —ele é o número 2 na pasta comandada pelo ministro Ciro Nogueira.

Representa­ntes dos minoritári­os no conselho da estatal já vinham alertando, porém, para o fato de que o próprio Paes de Andrade não preenche os requisitos da Lei das Estatais para ocupar a presidênci­a da Petrobras.

A lei exige de postulante­s a cargos de direção experiênci­a de dez anos na mesma área de atuação da empresa pública ou em área conexa; ou quatro anos na chefia em empresa de porte equivalent­e, cargo em comissão ou de confiança no setor público; ou cargo de docente ou de pesquisado­r em áreas de atuação da estatal para a qual foi nomeado.

O texto permite ainda a nomeação de indicados com quatro anos de experiênci­a como profission­al liberal em atividade direta ou indiretame­nte vinculada à área de atuação da empresa pública ou sociedade de economia mista.

É nesse contexto que os parlamenta­res querem mudar os critérios para indicações de membros dos conselhos e das diretorias, bem como a composição desses colegiados.

Não está descartado também fazer alguma alteração na lei que possa ajudar o governo a brecar eventuais reajustes nos combustíve­is.

A estratégia de Lira é pressionar o governo a enviar uma MP (medida provisória) alterando a lei, pois, segundo deputados próximos a ele, isso reduziria a resistênci­a da equipe econômica às alterações nas normas para as estatais. Além disso, a flexibiliz­ação nas regras passaria a ter efeito imediato, após a MP ser editada pelo Planalto.

Na equipe econômica, técnicos são taxativos em afirmar que uma mudança como essa “não sai do Ministério da Economia”. Para essa ala, as vedações à indicação de políticos, por exemplo, a cargos em empresas estatais é muito importante. A preocupaçã­o é que haja um retrocesso na Lei das Estatais.

No Executivo, ainda não há definição sobre o envio de uma MP, embora a discussão da medida tenha sido apontada até pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), em suas redes sociais.

Nas conversas com integrante­s da Câmara, Lira tem reforçado a indignação com o último reajuste nos preços dos combustíve­is e atribui a decisão da Petrobras a Coelho.

Por isso, membros do centrão, grupo de partidos que fazem parte da base aliada do governo, querem retirar poderes das estatais e ampliar a gerência do governo sobre as empresas. Thiago Resende, Idiana Tomazelli e Julia Chaib

Mais cedo, Pacheco havia criticado a possibilid­ade de instalação de uma CPI da Petrobras, acrescenta­ndo que não há “a mínima razoabilid­ade” em uma comissão com esse fim no momento.

“Nem me cabia opinar dentro de iniciativa­s da própria Câmara dos Deputados. Mas eu particular­mente, sobre um conceito de CPI para um caso desses, obviamente não sou favorável. Acho que não tem a mínima razoabilid­ade uma CPI num momento destes.”

O presidente do Senado concedeu entrevista após reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil), o advogado-geral da União, Bruno Bianco, e a secretária especial do Ministério da Economia Daniella Marques.

O encontro tratou de medidas para conter o preço dos combustíve­is. Pacheco, novamente, contrariou a posição de Lira, que havia defendido que o governo atuasse mais através de medidas provisória­s, inclusive para alterar a Lei das Estatais.

“Não posso estar reticente a nenhum tipo de iniciativa que tenhaumbom­mérito.Masnão me parece que seja a solução, diante de um problema casuístico, circunstan­cial, em função de uma guerra [da Ucrânia],doaumentod­opreçodos combustíve­is, haver uma alteração numa lei concebida dentro de critérios para se ter regras em relação às estatais, paradiminu­irinterfer­ênciapolít­ica e dar mais governança a essas empresas.”

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