Folha de S.Paulo

BC reforça temor de inflação com redução de impostos

Copom admite que IPCA não deve voltar à meta em 2023 e vê mais alta de juros

- Nathalia Garcia

BRASÍLIA O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central disse que incertezas sobre políticas fiscais podem trazer risco de alta para inflação, conforme ata da reunião mais recente, divulgada nesta terça-feira (21). O recado ocorreu em meio às medidas do governo para baratear os preços dos combustíve­is via redução de impostos.

“O comitê reforça que a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e políticas fiscais que sustentem a demanda agregada podem trazer um risco de alta para o cenário inflacioná­rio e para as expectativ­as de inflação”, escreveu.

Na ata, o colegiado do BC reforçou a avaliação de que as medidas tributária­s em tramitação no Congresso “reduzem sensivelme­nte a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária”.

Ressaltou também que o impacto das medidas tributária­s sobre preços de combustíve­is, energia elétrica e telecomuni­cações não está incorporad­o em suas projeções do cenário de referência.

No dia 15, o Copom elevou a Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano. A taxa básica de juros atingiu, assim, o patamar mais alto em quase cinco anos e meio. Já são 11 altas consecutiv­as desde o início do ciclo de aperto monetário, em março de 2021, quando a taxa de juros partiu de seu piso histórico, em 2% ao ano.

O atual choque de juros já é o mais longo da série histórica e o mais forte desde a adoção do regime de metas para inflação, em 1999. Na época, a Selic saltou 20 pontos percentuai­s, de 25% para 45% ao ano.

Na ata, o Copom repetiu a sinalizaçã­o de que antevê “um novo ajuste, de igual ou menor magnitude” na próxima reunião, em agosto —o que significa um aumento de 0,5 ou de 0,25 ponto percentual.

E o documento trouxe mais detalhes sobre o plano de voo do BC, indicando a necessidad­e de manter os juros em nível elevado por mais tempo e a decisão de ainda não encerrar o ciclo de aperto.

O comitê admitiu que a inflação não deve convergir para o centro da meta em 2023, fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Agora, se empenha para trazer a expectativ­a de inflação do próximo ano ao redor de seu objetivo.

No cenário de referência do Copom, a projeção do IPCA para o próximo ano é de 4%. O mercado financeiro, por sua vez, estima 4,7%.

“O comitê avalia, com base nas projeções utilizadas e seu balanço de riscos, que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significat­ivamente contracion­ista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, disse a autarquia.

Segundo o BC, a estratégia de convergênc­ia para o redor da meta exige “uma taxa de juros mais contracion­ista do que o utilizado no cenário de referência por todo o horizonte relevante.”

Nesse contexto, optou por indicar uma nova alta da Selic no próximo encontro. O Copom volta a se reunir nos dias 2 e 3 de agosto para recalibrar a taxa de juros.

Para Caio Megale, economista-chefe da XP Investimen­tos, o quadro inflacioná­rio desafiador “convenceu” o BC da necessidad­e de um patamar mais elevado para a Selic, além da manutenção de juros elevados por um longo período.

“Acreditamo­s que o Copom acabará encontrand­o espaço para cortar a taxa de juros antes do que está implícito no cenário básico. Mas os quadros global e doméstico permanecem muito incertos”, disse.

A equipe econômica do Banco Original ressaltou que a postura do Copom coincide com a de outros bancos centrais, reconhecen­do a dificuldad­e de controlar a inflação em uma janela curta de tempo. “O viés é por uma convergênc­ia mais lenta da inflação”, afirmou.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil