BC reforça temor de inflação com redução de impostos
Copom admite que IPCA não deve voltar à meta em 2023 e vê mais alta de juros
BRASÍLIA O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central disse que incertezas sobre políticas fiscais podem trazer risco de alta para inflação, conforme ata da reunião mais recente, divulgada nesta terça-feira (21). O recado ocorreu em meio às medidas do governo para baratear os preços dos combustíveis via redução de impostos.
“O comitê reforça que a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e políticas fiscais que sustentem a demanda agregada podem trazer um risco de alta para o cenário inflacionário e para as expectativas de inflação”, escreveu.
Na ata, o colegiado do BC reforçou a avaliação de que as medidas tributárias em tramitação no Congresso “reduzem sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária”.
Ressaltou também que o impacto das medidas tributárias sobre preços de combustíveis, energia elétrica e telecomunicações não está incorporado em suas projeções do cenário de referência.
No dia 15, o Copom elevou a Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano. A taxa básica de juros atingiu, assim, o patamar mais alto em quase cinco anos e meio. Já são 11 altas consecutivas desde o início do ciclo de aperto monetário, em março de 2021, quando a taxa de juros partiu de seu piso histórico, em 2% ao ano.
O atual choque de juros já é o mais longo da série histórica e o mais forte desde a adoção do regime de metas para inflação, em 1999. Na época, a Selic saltou 20 pontos percentuais, de 25% para 45% ao ano.
Na ata, o Copom repetiu a sinalização de que antevê “um novo ajuste, de igual ou menor magnitude” na próxima reunião, em agosto —o que significa um aumento de 0,5 ou de 0,25 ponto percentual.
E o documento trouxe mais detalhes sobre o plano de voo do BC, indicando a necessidade de manter os juros em nível elevado por mais tempo e a decisão de ainda não encerrar o ciclo de aperto.
O comitê admitiu que a inflação não deve convergir para o centro da meta em 2023, fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Agora, se empenha para trazer a expectativa de inflação do próximo ano ao redor de seu objetivo.
No cenário de referência do Copom, a projeção do IPCA para o próximo ano é de 4%. O mercado financeiro, por sua vez, estima 4,7%.
“O comitê avalia, com base nas projeções utilizadas e seu balanço de riscos, que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4,0% para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, disse a autarquia.
Segundo o BC, a estratégia de convergência para o redor da meta exige “uma taxa de juros mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência por todo o horizonte relevante.”
Nesse contexto, optou por indicar uma nova alta da Selic no próximo encontro. O Copom volta a se reunir nos dias 2 e 3 de agosto para recalibrar a taxa de juros.
Para Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, o quadro inflacionário desafiador “convenceu” o BC da necessidade de um patamar mais elevado para a Selic, além da manutenção de juros elevados por um longo período.
“Acreditamos que o Copom acabará encontrando espaço para cortar a taxa de juros antes do que está implícito no cenário básico. Mas os quadros global e doméstico permanecem muito incertos”, disse.
A equipe econômica do Banco Original ressaltou que a postura do Copom coincide com a de outros bancos centrais, reconhecendo a dificuldade de controlar a inflação em uma janela curta de tempo. “O viés é por uma convergência mais lenta da inflação”, afirmou.