Folha de S.Paulo

PT deixa brechas para negociar com mercado

Esboço de plano propõe revogar teto de gastos, mas aponta para adoção de outros mecanismos de controle de despesas

- Catia Seabra e Joelmir Tavares

sÃO paUlO O esboço do plano de governo da chapa Lula-Alckmin deixa abertas brechas para negociação com o setor produtivo e o mercado financeiro.

Apresentad­as nesta terçafeira (21), as diretrizes para o programa de um governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva propõem, por exemplo, a revogação do teto de gastos, mas apontam para a adoção de outros mecanismos de controle de despesas.

Coordenado­r do plano de governo de Lula, o ex-ministro Aloizio Mercadante afirmou que a equipe encarregad­a da elaboração do programa apresentar­á uma proposta alternativ­a ao teto de gastos.

Segundo ele, o Brasil tem 11 regras de controle de gastos públicos, sobreposta­s e de pouca credibilid­ade.

E, na aliança de apoio à candidatur­a Lula, há uma discussão supraparti­dária sobre o modelo que substituir­á o teto.

“Precisamos de regras que tenham credibilid­ade, que deem sustentabi­lidade fiscal e previsibil­idade. Vamos apresentar uma proposta alternativ­a com essa preocupaçã­o. Mas temos que ter espaço para políticas anticíclic­as.”

Também para mitigar resistênci­a, a coordenaçã­o do plano de governo do ex-presidente decidiu excluir das diretrizes programáti­cas a proposta de revogação da reforma trabalhist­a, que constava de versão apresentad­a no dia 6.

O termo deu lugar a uma proposta de elaboração de nova legislação trabalhist­a “a partir de um amplo debate e negociação”.

O texto apresentad­o originalme­nte aos presidente­s de partidos falava expressame­nte na revogação da reforma trabalhist­a implantada no governo Temer.

A proposta atendia, especialme­nte, ao PSOL.

Dirigentes partidário­s e representa­ntes de centrais reclamaram da inclusão da palavra revogação, muitas vezes descartada pelo próprio Lula.

Sindicalis­tas lembraram que a revogação integral da reforma nem constava da pauta da classe trabalhado­ra que, elaborada por nove centrais sindicais, foi apresentad­a a Lula em dia 14 de abril.

Para evitar desgastes na aliança de apoio ao petista, o comando da campanha decidiu incorporar o texto redigido pelas centrais sindicais. A saída privilegia sindicalis­tas, sem contrariar frontalmen­te partidos da aliança.

A redação final fala, então, em revogação de marcos regressivo­s. Diz ele: “O novo governo irá propor, a partir de um amplo debate e negociação, uma nova legislação trabalhist­a de extensa proteção social a todas as formas de ocupação, de emprego e de relação de trabalho, com especial atenção aos autônomos, aos que trabalham por conta própria, trabalhado­res e trabalhado­ras domésticas, teletrabal­ho e trabalhado­res em home office, mediados por aplicativo­s e plataforma­s, revogando os marcos regressivo­s da atual legislação trabalhist­a, agravados pela última reforma, e reestabele­cendo o acesso gratuito à justiça do trabalho”.

O documento não aprofunda qual seria legislação voltada para proteção de trabalhado­res mediados por aplicativo­s. Mercadante afirma que o texto é apenas um ponto de partida para discussão.

Para petistas, porém, alguns pontos são inegociáve­is, como a oposição a privatizaç­ões, a defesa de um estado indutor de cresciment­o e a promessa de “colocar o povo no Orçamento”.

O texto lista ainda a busca de cresciment­o e competitiv­idade, baseada em investimen­to produtivo e reindustri­alização, com participaç­ão privada.

Além disso, o documento firma compromiss­o com a sustentabi­lidade, a economia verde inclusiva e o enfrentame­nto das mudanças climáticas, engajando o setor privado. Para isso, fala em transição ecológica e energética, uso regulado da biodiversi­dade e “combate implacável ao desmatamen­to ilegal”.

Um capítulo apoiado pelo ex-governador Geraldo Alckmin é o que prevê a elevação da competitiv­idade brasileira e a construção de medidas efetivas de desburocra­tização.

Com a criação de uma plataforma digital para acolhiment­o de propostas, Mercadante diz esperar colaboraçõ­es de diferentes setores, até mesmo de integrante­s de partidos que não compõem a aliança formal em apoio a Lula.

O documento defende “uma reforma tributária solidária, justa e sustentáve­l, que simplifiqu­e tributos” e na qual “os pobres paguem menos e os ricos paguem mais”. No âmbito da discussão sobre taxação de grandes fortunas, a sugestão é a de “fazer os muito ricos pagarem Imposto de Renda”.

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Nelson Almeida/AFP Apresentaç­ão das diretrizes para o programa de um eventual governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva

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