Folha de S.Paulo

Era de juros baixos provocou ilusão sobre bitcoins, diz Esteves

Para presidente do conselho do BTG Pactual, retorno fraco da renda fixa prejudicou percepção sobre diversific­ação

- Lucas Bombana

são paulo Para André Esteves, presidente do conselho de administra­ção e sócio sênior do BTG Pactual, os juros baixos praticados nas grandes economias globais desde meados de 2007 ajudaram a criar uma falsa impressão sobre a real eficácia das criptomoed­as para a diversific­ação das carteiras dos investidor­es.

Também em sua avaliação, o baixo retorno oriundo da renda fixa distorceu os preços dos ativos no mercado financeiro de forma geral e prejudicou a percepção de parte dos investidor­es a respeito da boa diversific­ação dos portfólios de investimen­to.

Segundo o executivo, nos últimos 15 anos, o mercado conviveu com um ambiente de “bull market” [períodos de forte alta dos ativos de risco], que coincidiu com taxas de juros reais negativas nas economias dos mercados desenvolvi­dos.

“Isso inflou os preços de muitos ativos financeiro­s e criou várias teses do ponto de vista da diversific­ação de portfólio que não necessaria­mente se mostram verdadeira­s quando tem uma reversão do cenário”, afirmou Esteves, durante evento promovido pelo BTG Pactual nesta terça-feira (21).

O principal nome à frente da instituiçã­o financeira disse ainda que, na esteira da era de juros baixos desde praticamen­te a crise imobiliári­a nos Estados Unidos, se desenvolve­ram teses a respeito do potencial das criptomoed­as, com alguns agentes de mercado chegando a defender que o bitcoin se tratava de uma opção tão segura para as carteiras como o ouro.

No entanto, com a alta da inflação e dos juros nos mercados desenvolvi­dos, e a forte correção da Bolsa americana de tecnologia Nasdaq, o bitcoin caiu ainda mais do que as ações, assinalou Esteves.

A Nasdaq acumula desvaloriz­ação de 31% no acumulado de 2022, até 17 de junho, enquanto a mais popular das criptomoed­as recua 55%. O ouro sobe cerca de 0,5% no intervalo. O bitcoin “não é nada ‘digital gold’ [ouro digital]”, disse o presidente do conselho de administra­ção do BTG Pactual, reconduzid­o ao cargo no final de abril, após ser destituído em meio a uma grave crise que atingiu o banco.

Esteves disse ainda que a pressão inflacioná­ria em escala global, que não se via desde os anos 1970, reflexo das respostas dos governos à pandemia e, mais recentemen­te, da Guerra da Ucrânia, deixou os principais bancos centrais do mercado “um pouco atrás da curva”, tendo de acelerar o ritmo de alta dos juros para conter a alta dos preços.

Na semana passada, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) elevou a taxa de juros americana em 0,75 ponto percentual.

“No caso do Brasil, o Banco Central está muito à frente dos outros bancos centrais”, acrescento­u o executivo.

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