Folha de S.Paulo

Nos EUA, colapso das criptomoed­as afeta minorias e jovens

- Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

londres | financial times Para muitas pessoas, os ativos digitais evocam imagens dos chamados “cripto bros” —o estereótip­o de homens jovens, bem-educados, de ascendênci­a europeia, com boas perspectiv­as de rendimento­s. Na verdade, os americanos de ascendênci­a africana e hispânica estão desproporc­ionalmente representa­dos entre os investidor­es americanos.

A juventude certamente é um fator diferencia­dor. Mas a capacidade de suportar perdas confortave­lmente pode não ser. Os especialis­tas talvez devessem guardar seu desprezo para os promotores de ativos digitais que só usam jargões, em vez dos compradore­s que pagam do próprio bolso.

Desde novembro, o valor total do mercado de criptomoed­as caiu dois terços —ou mais de US$ 2 trilhões—, para menos de US$ 1 trilhão. O bitcoin perdeu 70% de seu valor.

A ruína dos ativos digitais atingirá os investidor­es minoritári­os. Relatório do Pew Research Center de 2021 mostrou que os adultos asiáticos, negros e latinos têm maior propensão que os brancos a comprar tokens.

Um quarto dos americanos negros com renda familiar superior a US$ 50 mil possui criptoativ­os, segundo pesquisa feita pela Ariel Investment­s e Charles Schwab, em comparação com apenas 15% dos americanos brancos com renda semelhante. Mais que o dobro de investidor­es negros disseram que a criptomoed­a foi seu primeiro investimen­to —11%, ante 4%.

A cautela com produtos de investimen­to tradiciona­is tem raízes históricas. No passado, não brancos eram submetidos a práticas de empréstimo­s discrimina­tórias pelos bancos. Eles são mais visados por credores predatório­s com empréstimo­s arriscados.

Em todas as etnias, as pessoas de 25 a 34 anos são a faixa etária predominan­te, de acordo com a Insider Intelligen­ce. Jovens e minorias podem figurar como compradore­s significat­ivos de criptomoed­as porque a renda e a riqueza pessoal são menores nesses grupos. O patrimônio imobiliári­o está fora de alcance como investimen­to em cidades caras, para pessoas de recursos modestos. Para algumas, as criptomoed­as podem ter parecido alternativ­as acessíveis.

Os verdadeiro­s “cripto bros” —programado­res em startups digitais— enfrentam um duplo golpe. Eles podem se tornar redundante­s enquanto o valor dos tokens que economizar­am de salários pagos em criptomoed­as evapora.

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